José Saramago pelas palavras dos outros

por Magda Cruz,    18 Junho, 2020
José Saramago pelas palavras dos outros
PUB

Chegou o dia em que se completa uma década desde que José Saramago faleceu. Imortalizou-se como escritor, poeta e ensaísta, mas exerceu muitas profissões. Conhecemo-lo não só através do que deixou escrito, como também do que escrevem sobre ele.

Foi serralheiro mecânico, desenhador, funcionário da saúde e da previdência social. Trabalhou como jornalista, foi responsável pela produção numa editora, acumulou funções como tradutor e crítico literário.

Para conhecer melhor este homem que não nasceu com o apelido Saramago, mas sim de Sousa, que sempre contou a história de homens e mulheres – reais ou fictícias – e que chamou a atenção do mundo para os direitos do homem, destacamos vários livros, do mais recente para o mais antigo.

Foram dezenas e dezenas de livros que tocam em Saramago de alguma forma. Biografias, compilações de discursos, registos do percurso e até obras de ficção têm vindo a ser editadas, mesmo antes da morte do Nobel português.

Autobiografia, de José Luís Peixoto

Em julho do ano passado, a Quetzal, publicou uma história de Lisboa no final dos anos noventa. Saramago e Pilar del Río passam a personagens pelas mãos de José Luís Peixoto. Um jovem escritor em crise, José, cruza-se com um grande escritor, Saramago, que tem um segredo, só revelado nos finais do livro.

“Autobiografia” é uma mistura de realidade e ficção. Se este José é José Luís Peixoto não ficamos a saber. Começa com a frase “Saramago escreveu a última frase do romance” começa o livro. No final, fica o consagrado Peixoto com mais um livro aclamado na crítica.

Um país levantado em alegria, de Ricardo Viel

Onde estava Saramago quando soube que lhe tinha sido atribuído o Nobel de Literatura? E como lho disseram? Este livro do jornalista brasileiro, que trabalha como diretor de comunicação da Fundação José Saramago, refaz o caminho da notícia do primeiro Prémio Nobel para a literatura em língua portuguesa. O título é inspirado na declaração de Eduardo Prado Coelho, ao se deparar com a festa portuguesa pelo prémio: “É possível, como se viu nesta semana, que um país se levante em alegria porque alguém ganhou um prémio de literatura”.

Foi preciso recorrer aos arquivos da Fundação e entrevistar dezenas de pessoas para reconstituir os dias antes e depois do anúncio do Prémio Nobel de Literatura de 1998. É levantado o véu aos episódios desconhecidos dessa época e retrato um país que se levantou em jubilo – e que até tenha crescido uns centímetros com a distinção.

Por Saramago, de Anabela Mota Ribeiro

Publicado no ano em que se completaram duas décadas desde a atribuição do Nobel de Literatura a Saramago, a novembro de 2018, trata de assuntos como o sucesso resultante da devoção de tantos leitores no mundo; o compromisso a História; a violação dos Direitos Humanos;

A autora diz que o livro “é uma forma de prestar tributo e agradecer o legado de Saramago”. Com entrevistas a José Saramago e a Pilar del Río, trata os três últimos livros do escritor: “As Pequenas Memórias”, “A Viagem do Elefante” e “Caim”. Tem ainda textos sobre a casa de Lanzarote e uma viagem ao México com Saramago.

Reforçado com 65 fotografias de Estelle Valente, que retratam Saramago em Lisboa e em Lanzarote, o livro da Temas e Debates, inclui um posfácio de Fernando Gómez Aguilera.

Com o Mar por Meio – Uma amizade em cartas, de Jorge Amado e José Saramago

Em novembro de 2017, a Companhia das Letras punha cá fora cartas, bilhetes, cartões, faxes e outras mensagens. O famoso autor de “Capitães da areia” e Saramago trocaram, ao longo de seis anos, ideias sobre os detalhes da vida e opiniões sobre a conjuntura contemporânea, em especial a cena literária. Conversam, por exemplo, sobre quem seria o próximo Nobel da Literatura, com humor.

Vem ilustrado com fotos raras, é o retrato a par e passo da amizade dos dias, de 1992 a 1996, que apesar de tardia não foi frouxa. Pode ser notada a carinhosa maneira de despedir-se um do outro.

Diálogos com José Saramago, de Carlos Reis

A Porto Editora reeditou em março de 2015, o livro de 1998 da Editorial Caminho. Em 1997 Carlos Reis viajou para Lanzarote e os três dias, quatro sessões, um todo de sete horas de conversa fundiram-se no livro.

O professor universitário na área das Letras e literatura questionou o Nobel sobre a sua formação, aprendizagem e profissão do escritor. Vão ao fundo da visão de Saramago sobre o ser escritor, os géneros literários, os tipos de narrativa, o romance.

Para além da divisão em oito diálogos, a nova edição inclui um texto introdutório de Carlos Reis e o discurso do professor em 2013 na apresentação do ensaio Da Estátua à Pedra, de José Saramago.

Uma longa viagem com José Saramago, de João Céu e Silva

João Céu e Silva tem um gosto por biografias que o levou a entrevistar o Nobel Português por longas horas. Dessa “longa viagem” com Saramago surge o livro em março de 2009. As respostas de Saramago foram alvo de análise por 24 outros entrevistados, que comentam as declarações e a prática da escrita do autor.

João Céu e Silva, na série de investigação literária Uma Longa Viagem, analisou, com os próprios autores, também os escritores António Lobo Antunes, Álvaro Cunhal, Manuel Alegre e Miguel Torga. Edições Porto Editora.

José Saramago: A Consistência dos Sonhos, de Fernando Gómez Aguilera

Em maio de 2008, a Editorial Caminho adianta-se numa cronobiografia do escritor. O livro está dividido em nove capítulos que retratam o nascimento, as viagens e pormenores da vida. Ilustrado com quase duas centenas de fotografias a cores, quem escreveu a biografia foi Fernando Gómez Aguilera, um poeta, ensaísta com formação em Filologia.

Um ano antes tinha feito uma exposição dedicada à vida e trajectória literária de José Saramago. Curador da Fundação José Saramago, tem também ligações a Lanzarote e conhece a fundo a obra do português, tendo escrito sobre ela.

Em novembro de 2010, surgia, pela mesma editora, “José Saramago – Nas suas palavras”, uma seleção e organização de Fernando Gómez Aguilera de textos proferidos por Saramago.José Saramago, de Ana Paula Arnaut

Doutorada com agregação pela Universidade de Coimbra, onde leciona Literatura Portuguesa Contemporânea, Ana Paula Arnaut domina a obra de Saramago. Em janeiro de 2008, com Saramago ainda vivo, publicou um livro que compila citações do escritor.

De “Deus” a “Caos, passando por Escrita”, é um compêndio alfabético de frases. Outros autores fazem o mesmo com Fernando Pessoa, Padre António Vieira e outros. São livros da Edições 70.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados