Julian Assange retratado em documentário, “The Trust Fall”, enquanto aguarda decisão judicial

por Lusa,    13 Março, 2024
Julian Assange retratado em documentário, “The Trust Fall”, enquanto aguarda decisão judicial
“The Trust Fall” / DR
PUB

Um novo documentário sobre o jornalista australiano Julian Assange vai estrear na sexta-feira, enquanto o fundador do portal de denúncias WikiLeaks aguarda a decisão iminente da justiça britânica sobre o processo de extradição para os Estados Unidos.

“The Trust Fall” [A quebra de confiança] traça o percurso do australiano de 53 anos, apresentado como um mártir na defesa da liberdade da imprensa, e que este ano está nomeado para o Prémio Nobel da Paz.

O documentário com a duração de duas horas é composto por dezenas de testemunhos de amigos, familiares, jornalistas, advogados, ativistas dos direitos humanos e um psiquiatra que atestou a deterioração do estado mental de Assange.
O jornalista australiano John Pilger, que ajudou a denunciar o massacre de Santa Cruz em Timor-Leste em 1991, e o antigo militar norte-americano Daniel Ellsberg, autor de uma fuga de informação militar em 1971 sobre a guerra do Vietname, são alguns dos entrevistados.

“Valerá a pena contar a verdade à custa da própria prisão em troca de uma pequena hipótese de mudar os acontecimentos? Sim”, afirma Ellsberg, que, tal como Assange, foi acusado pelos EUA de espionagem e arriscou uma sentença superior a 100 anos de prisão.

“O objetivo deste filme é dar mais peso à campanha pela liberdade deste heroico e corajoso jornalista australiano e ativista pela paz. Pela sua liberdade e pela liberdade de todos nós”, afirmou o realizador, Kim Staton, citado num comunicado.
Selecionado por vários festivais internacionais, incluindo em Varsóvia e Barcelona, ganhou o prémio de melhor realizador emergente – Austrália do Festival de Documentário de Melbourne, o de Melhor Novo Realizador no Festival de Cinema Cine Paris 2023.

Assange, um antigo pirata informático, terá sido inspirado por Ellsberg, a quem é reconhecida influência no fim apressado da guerra do Vietname, para criar o portal WikiLeaks em 2006 de forma a receber informação confidencial.

Em 2010 publicou uma série de telegramas de diplomatas norte-americanos sobre planos dos EUA para espiar o secretário geral da ONU e dirigentes de alguns países, a pressão da Arábia Saudita para os EUA atacarem o Irão ou detalhes sobre a corrupção na Rússia.

O WikiLeaks publicou também documentação militar, incluindo um vídeo de um ataque de helicóptero em 2007 pelas forças norte-americanas em Bagdad que matou 11 pessoas, incluindo dois jornalistas da agência Reuters.

Os EUA invocaram a Lei de Espionagem para acusar Assange de 18 crimes, pelos quais arrisca 175 anos de prisão.
O documentário tenta demonstrar como o processo tem motivações políticas e como foi acompanhado por uma campanha para desacreditar o australiano, fazendo-o passar por “traidor, violador, narcisista e pirata informático”, refere o antigo relator da ONU contra a tortura, Nils Melzer.

Julian Assange está detido desde 2019 na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste de Londres, após sete anos de auto-exílio na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia por alegada agressão sexual.

O australiano aguarda uma decisão do Tribunal Superior de Londres sobre se poderá recorrer contra a autorização do Governo britânico para o extraditar para os EUA depois de dois dias de audiências em fevereiro.
Se a justiça britânica recusar o recurso, Assange terá como última instância o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.