Lutar pelo livro e pela leitura em Matosinhos

por Mário Rufino,    14 Maio, 2023
Lutar pelo livro e pela leitura em Matosinhos
Fotografia de Festival Literário LeV – literatura em Viagem / DR
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É uma luta incessante. O velhinho livro enfrenta batalhas com as tecnologias que começam por serem novas, acomodam-se ao hábito antes de caírem nas margens da memória. E mantém-se vital e presente, até onde conseguimos ver, na sociedade a que chamamos de sociedade do livro.

A constante renovação da importância do livro deve-se também ao dinamismo de câmaras, escolas e professores, quais soldados rasos contra o esquecimento. A Câmara Municipal de Matosinhos, ao abrigo do festival Literário LeV – literatura em Viagem, incentivou os alunos do 1.º, 2.º e 3.º ciclos das escolas do concelho a interagirem com textos de autores canónicos. Como ponto comum, um tema: A viagem. Na 1ª sessão do dia 13 de Maio, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Gonçalo M. Tavares (escritor), Fernando Rocha (vereador da cultura da Câmara Municipal de Matosinhos) e Franklim Silva (coordenador intermunicipal das bibliotecas escolares) apresentaram «100 textos em viagem». O projecto com princípio numa ideia de Gonçalo M. Tavares teve como parceiros as bibliotecas escolares, os professores e alunos. O objectivo é simples, mas difícil: – Promover o livro e a leitura. Segundo Fernando Rocha, houve a preocupação em perceber as tendências actuais. Não se pode continuar a pôr somente tecnologias antigas, de outras gerações, como mandatórias, sem se ir ao encontro das tecnologias das novas gerações. É essa uma das razões para a exposição dos textos na galeria da Biblioteca Municipal e, principalmente, a gravação em vídeo das leituras, com respectiva disponibilização por QR Code.

Fotografia de Festival Literário LeV – literatura em Viagem / DR

“Atrás de um livro vem outro livro”, afirmou. Gonçalo M. Tavares explicou que a produção de 100 microtextos sobre viagens, textos que remetem para vários autores (Chatwin, por exemplo), é um convite à leitura. A leitura, para Gonçalo M. Tavares, não é um bem em si; ler é bom quando se lê coisas boas, mas é mau quando se lê coisas más. Por isso, houve o cuidado de se trabalhar autores bons. Ser preciso começar devagar é uma ideia paternalista. “Se as crianças não percebem, e só damos coisas que elas percebem, elas nunca vão perceber.” As crianças, hoje em dia, recebem quase tudo, seja em vídeos ou jogos, e emitem muito pouco. Não há espaço desocupado que seja necessário preencher com a imaginação, afirmou o escritor português. Este projecto deve ter envolvido cerca de 600 ou 700 pessoas. “O texto entrou na escola.” Inicialmente estava só previsto o registo sonoro, mas depressa se optou por novas formas. Há leituras e até “performances”, em alguns casos. O coordenador intermunicipal das bibliotecas escolares afirmou que os textos propostos por Gonçalo M. Tavares foram sorteados pelas escolas. Os textos mais simples foram para as escolas do 1.º ciclo, enquanto os outros-cerca de 80%- foram para as escolas de 2.º e 3.º ciclos. Foi um trabalho de muita gente na criação de textos a partir de vários autores, sugeridos pelo escritor, com o fito na viagem.

Os professores bibliotecários foram os primeiros a serem desafiados. Eles trabalharam de uma forma autónoma e livre. Os textos foram trabalhados individualmente ou em grupo pelos alunos. Depois entrou a vertente tecnológica com a gravação em áudio e em vídeo. Este projecto poderá ser sucedido por outros. Fica em aberto, para próximos anos lectivos, o trabalho sobre autores locais e sobre a tradição oral.

Fotografia de Festival Literário LeV – literatura em Viagem / DR

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