MAAT acolhe exposições de João Louro, Jonah Freeman, Justin Lowe e mostra colectiva “Haus Wittgenstein”
A programação de 2018 do MAAT fecha com nomes fortes como João Louro, os americanos Jonah Freeman e Justin Lowe e a coletiva Haus Wittgenstein que celebra os 90 anos da casa do filósofo austríaco, com a participação de artistas como Leonor Antunes, John Baldessari, Mel Bochner, Pedro Cabrita Reis, Bruce Nauman, Julião Sarmento, Lawrence Weiner, entre outros. As três novas exposições abrem ao público quarta-feira, 7 de novembro.
Haus Wittgenstein
Arte, Arquitetura & Filosofia
Curador: Nuno Crespo
O mote desta exposição são os 90 anos da Haus Wittgenstein em Viena. O projeto, iniciado em 1926 e concluído em 1928, deu origem a uma casa com uma história intensa na qual se cruzam arte, arquitetura e filosofia. O que acontece não só porque o filósofo Ludwig Wittgenstein foi o arquiteto, mas também porque a história do projeto, a sua construção e habitação convocam uma série de conflitos, histórias e relações que foram motivo de inspiração de muitos artistas, arquitetos e escritores.
Esta casa com um contexto filosófico marca o conturbado regresso de Wittgenstein à filosofia e o abandono da lógica a favor de um confronto com o mundo, com as coisas de todos os dias e de todos os homens: a transformação do quotidiano e do comum em categorias estéticas, que terá tantas repercussões em muita arte e fotografia contemporâneas. A própria arquitetura materializada na Kundmanngasse é motivo de intenso debate: os temas desenvolvidos, a pormenorização, a obsessão pela simetria e pelo rigor deram azo a inúmeras histórias que transformaram este projeto num caso de estudo.
Esta exposição propõe um regresso à Haus Wittgenstein através de obras concebidas especialmente para esta exposição – dos artistas Vasco Barata Horário Frutuoso, Luis Lázaro Matos e José Luís Quitério (seu pai), Ângela Ferreira, Gil Heitor Cortesão, Ana de Almeida e Ricardo Carvalho – , que propõem um diálogo crítico com aquele objeto arquitetónico. A elas juntam-se obras de autores que, de algum modo, foram tomados pelo «efeito Wittgenstein» e pelo seu fascínio pela linguagem, pelo sentido e pelo mundo.
Jonah Freeman e Justin Lowe
Cenário na Sombra
Curadores: Pedro Gadanho e Rita Marques
Na primeira exposição do programa Video Room do MAAT, a dupla nova-iorquina Jonah Freeman & Justin Lowe apresenta Scenario in the Shade, uma instalação ambiental imersiva que joga com os conceitos de urbanismo hipertrópico, comunidade, ritual e psicofarmacologia. Apresentada pela primeira vez na Bienal de Istambul em 2017, comissariada por Michael Elmgreen e Ingar Dragset, esta é a segunda vez que esta grande instalação é apresentada na Europa, depois de ter sido vista na Kunsthal Charlottenburg, em Copenhaga.
Concebida como um ambiente multiespacial, esta exposição constitui um cenário arquitetónico e cinematográfico baseado nas subculturas juvenis de San San Metroplex, um corredor urbano que existe ao longo da costa da Califórnia, nos EUA. O mundo de San San teve a sua origem numa ideia avançada pelo futurista Herman Kahn no seu livro, The Year 2000, publicado em 1967. Este autor especulava que a zona costeira entre San Diego e San Francisco iria crescer até transformar-se numa metrópole gigante, uma região que apelidou de San San. A partir desta ficção, a dupla Freeman & Lowe construiu um misterioso mundo paralelo, articulado através de uma diversidade de objetos, ephemera, cenários arquitetónicos e uma trilogia de filmes. Na sua articulação de peças em vídeo e a montagem labiríntica dos próprios cenários em que estes foram filmados, explica Pedro Gadanho, «Scenario in the Shade forma um universo muito particular de referências cruzadas — e revela-se o projeto ideal para inaugurar uma nova série de exposições que exploram a ideia de vídeo expandido, obras que suplantam a mera projeção tradicional e se articulam com outros objetos artísticos em formato de instalação.»
João Louro
Linguistic Ground Zero
Curador: David G. Torres
Linguistic Ground Zero, o novo projeto de João Louro, pensado para o Project Room do MAAT, reflete sobre esse momento de inflexão histórico no qual arte e sociedade parecem estar de acordo com a necessidade de acabar com tudo. A sua proposta consiste numa reprodução de «Little Boy» – a primeira bomba atómica da História, que arrasou a cidade japonesa de Hiroxima em 6 de agosto de 1945. Como acontece com a maioria das bombas, nas quais os soldados escrevem mensagens, esta reprodução também transporta consigo inscrições – neste caso, os textos fazem referência à arte, à política, à cultura e às vanguardas. Como escreve o curador da exposição, David G. Torres, «ponto de partida de João Louro é a relação que estabelece entre a destruição física provocada pela bomba atómica e a destruição simbólica que faz parte de diferentes estratégias das vanguardas.». João Louro estabelece uma confluência entre a destruição física provocada pela bomba atómica e a destruição simbólica que faz parte de diferentes estratégias da arte durante essas vanguardas: um fascínio partilhado pela destruição, mas também um desejo de renovação, de partir do grau zero ao qual o título alude. Nesta lógica, surge a analogia do título da própria exposição, que o curador considera perfeita e muito clara: «Linguistic Ground Zero é uma bomba que representa a possibilidade da destruição do mundo físico, mas essa destruição também existe, justamente, numa tentativa de reduzir tudo ao mínimo, de tentar levar a cabo um novo começo, no terreno do simbolismo e da comunicação, reduzindo a linguagem a um grau zero; a bomba que explode e destrói versus a destruição da linguagem; o grau zero do solo arrasado de Hiroxima versus o grau zero da linguagem num poema fonético feito de gritos e ruídos. »
Como parte do projeto de investigação de Linguistic Ground Zero, a exposição inclui também desenhos e documentos.
Na noite inauguração, 6 de novembro (19h às 21h), o No Show Museum estaciona a sua carrinha móvel no exterior do museu e apresenta a exposição Nothing Matters – Icons of void, desenvolvida em colaboração com o artista esloveno Stano Masar. Em exposição vão estar 20 obras icónicas da história da arte do inicio do século XX até aos dias de hoje, que promove a desmaterialização da arte e dá uma nova força ao conceito do “nada”.
O No Show Museum é o primeiro museu do mundo dedicado ao “nada” e às suas variadas manifestações na história da arte. A sua coleção inclui mais de 500 obras de mais de 150 artistas consagrados como Marina Abramovic, Maurizio Cattelan, John Cage, Marcel Duchamp, Yves Klein ou Andy Warhol. Depois do sucesso da tour de exposições realizadas na Europa (2015), América do Norte (2016) e América Central (2017) com 70 exposições em 30 países e a representação na Bienal de Veneza, o museu móvel está de novo sobre rodas, cumprindo a sua missão de explorar a temática do “nada”, desta vez na Europa Ocidental.
O museu tem uma apresentação num espaço móvel, um antigo autocarro restaurado e adaptado para o efeito. Esta nova exposição, Nothing matters – Icons of the void, foi desenvolvida em colaboração com o artista esloveno Stano Masar.