Make Portugal Great Again
Valério Romão, 1974, licenciou-se em Filosofia e é escritor, contista, dramaturgo, tradutor. Seleccionado como Jovem Criador nacional no início do século, tem diversos livros publicados e é um dos nomes sonantes da nova literatura em Portugal. Foi finalista do Prix Femina 2016.
Portugueses e portuguesas, trabalhadores e desempregados, ricos e pobres, irmãos e irmãs.
Passamos por um período histórico particularmente difícil. Leio o desespero na vossa cara, aqui e agora, mas também nas caras de tantos homens e mulheres que vejo todos os dias, a caminho dos seus empregos, vagueando na ilusão de terem um rumo para a vida. Como vocês, também eu fingi anos a fio perceber o mundo e o meu lugar nele. Como vocês, também eu pus uma máscara com a qual me apresentava, feliz e optimista, aos meus colegas de trabalho, à minha família, aos meus amigos. Mas, como vocês, também eu carregava no coração um peso ao qual não sabia dar nome ou cara. Um peso que me consumia todos os dias. Um peso que me fazia desejar o dia em que a morte, finalmente, me libertasse desta obrigação incompreensível de estar vivo. E, no entanto, como vocês, sorria.
Procurava atenuar este peso assistindo a programas de televisão. Vendo a bola com amigos. Bebendo e falando com amigos. As nossas conversas, como as vossas, iam sempre dar ao mesmo ponto, por muitas voltas que déssemos. Sentíamo-nos abandonados. Pelos políticos nos quais nos habituámos a votar vezes em conta. Pelos empresários que sempre disseram que a riqueza deles seria a nossa. Pelas pessoas a quem entregámos a nossa fidelidade e amizade à espera de que nos fossem recíprocas. Por aqueles que tinham poder sobre nós. E toda a gente parecia ter poder sobre nós.
Anos a fio assistimos a este desastre em câmara lenta: desemprego ou trabalho precário para quase todos, riqueza apenas para alguns; uma justiça para a classe média, outra para os ricos e impunidade para os marginais; suborno, corrupção, compadrio e gatunagem por parte daqueles que foram eleitos para cumprir a vontade do povo. Na verdade, só cumprem a pequeníssima e mesquinha vontade deles: da esquerda à direita, não passam de corruptos que compram votos e poder distribuindo o nosso dinheiro. Para eles, somos apenas os agrilhoados dóceis cuja manipulação se tornou tão fácil que já nem precisam de nos agradar aqui e ali. Habituaram-se à nossa passividade e à nossa complacência. Contam com elas. Alimentam-se delas.
Um dia, porém, depois de ter chegado ao fundo do poço da minha desgraça, estando vivo apenas de nome, sem nunca realmente o estar, vi claramente que o problema não era eu. Que, a despeito de tudo quanto nos repetem todos os dias como um mantra, não somos a areia na engrenagem do progresso desejado. Não somos nós os culpados pela baixa produtividade, pela criminalidade alarmante, pela corrupção nas empresas e no estado, pela imigração que nos tira o trabalho e nos desvirtua a paisagem social, pela fraqueza que acomete os braços e pernas deste povo que outrora conquistou um país aos árabes e deu mais de meio mundo ao mundo. Não somos nós. São eles. São eles que estatizaram a sociedade, que destruíram a família e o seu sentido, que impõem agendas marginais que apenas servem para fazer implodir a coesão social e disfarçar a cobardia que têm de tomar decisões verdadeiramente importantes. São eles que reescrevem a história para que nos envergonhemos dela ao invés de nos orgulharmos dela, são eles que manipulam a comunicação social e que impedem que a verdade veja a luz do dia nas páginas dos jornais, são eles que entregam o país e os portugueses que nele habitam à Europa, aos chineses das multinacionais e dos fundos de investimento, aos terroristas islâmicos que se aproveitam das nossas fronteiras abertas e nos colonizam às claras. São eles, são a cruz no boletim de voto, a cara no cartaz numa rotunda, as frases batidas que lhes ouvimos desde sempre como se fossem transmitidas hereditariamente. São os nossos políticos.
No Partido pela Verdade Democrática, não vos pedimos sequer para que votem em nós nas próximas eleições. Rogamo-vos, isso sim, que não votem naqueles que nos andam a enganar desde sempre. Votem em alguém que tenha como prioridade Portugal e o Povo Português. Votem em alguém que fale com vocês, que trabalham e contribuem, e não com os párias da sociedade que tantos nomes têm e nenhum benefício social trazem. Qualquer que ele seja e a despeito das mentiras e do medo que vos tentem influir. Votem na esperança. Precisamos de refazer esta sociedade e este destino. Precisamos cumprir Portugal.
(Nota: esta crónica foi publicada originalmente no jornal Hoje Macau, tendo sido aqui reproduzida com a devida autorização)