Manuela Tavares: “Durante muito tempo, as feministas eram ‘aquelas mulheres lésbicas'”
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A palavra “feminismo” aparece pela primeira vez nos dicionários franceses e ingleses na segunda metade do século XIX, quando uma série de movimentos liderados por mulheres exigiam o direito ao voto. As sufragistas tiveram sucesso em vários países, mas o voto universal, em Portugal, independentemente do género, só chegaria mais tarde, depois do 25 de abril de 1974.
Por esta altura, os movimentos feministas estavam bem vivos: na resistência ao Estado Novo, na luta pela libertação nacional nas ex-colónias ou nas campanhas pelo aborto legal. Pelo contrário, a palavra feminismo foi várias vezes dada como “gasta”. Num texto publicado em 1981, na revista Reflexão Cristã, Maria de Lourdes Pintasilgo, a primeira e única primeira-ministra de Portugal, escreve: “Convenhamos que ‘feminismo’ é uma palavra velha (faz pensar nas sufragistas da “Belle Époque”!), sem força dinâmica (quantos ‘ismos’ percorreram séc. XX?). Também não gosto da palavra. Só a uso por ter comodidade de análise”. Será “feminismo” uma palavra gasta?
“O feminismo nunca é uma palavra gasta”, diz Alexa Santos, assistente social, mestre em estudos de género, sexualidade e teoria queer pela Universidade de Leeds e diretora do departamento de Género e Feminismos do INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal. Manuela Tavares, fundadora e membro da direção da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, doutorada em Estudos sobre as Mulheres pela Universidade Aberta, concorda: “[O feminismo não é uma palavra gasta], é uma palavra mal-amada, que é diferente”.
Na altura em que iniciou o seu ativismo político, conta, “as feministas eram ‘aquelas mulheres lésbicas’”. Mas muito mudou. Incluindo, na representação política das mulheres em cargos de poder. Se, nas eleições legislativas de 1975, foram eleitas 19 mulheres e 231 homens (7,6% contra 92,4%), no passado dia 6 de outubro foi eleito o maior número de mulheres de sempre – 86 contra 144 – o que faz deste o parlamento com maior percentagem feminina de sempre, acima da média europeia (ainda faltam atribuir 4 lugares, vindos dos votos de emigrantes, o que pode fazer com que mais uma mulher seja eleita). Mas será que isto faz com que este seja o parlamento mais feminista de sempre?
Ao vivo, no Trampolim Gerador, conversamos sobre as diferentes “vagas” do feminismo, de feminismo interseccional, de feminismo negro e do que falta fazer em Portugal.