Maria João Pires, activista: “Se nos batíamos pela igualdade, éramos feias, gordas, mal fodidas”
A 27 de Dezembro de 2016, na capa do jornal Público lia-se escrito a vermelho e a amarelo: “O que esperar de 2017 – Dez cronistas do Público antecipam o que vai mudar em Portugal e no mundo”. Logo abaixo deste título estavam enfileirados os tais 10 cronistas com as habituais fotografias que acompanham as suas crónicas regulares.
Tudo teria passado mais ou menos despercebido não fosse o olhar atento de alguns e de algumas. Um desses olhares veio da página de Facebook Mulher Não Entra que foi rápida em realçar o facto de que daqueles 10 cronistas, 0 eram mulheres.
Não terão as mulheres nada para dizer sobre Portugal e o mundo? Ou não farão elas futurologia? Será esta capa do Público caso único?
Não, não é caso único, e para confirmar esta falta de representatividade das mulheres no espaço público basta seguir-se a página do Mulher Não Entra. Várias são as denúncias do projeto, desde o comentário político a conferências em faculdades, onde as mulheres não estão representadas ou onde estão em clara minoria.
E porquê? Como podem as mulheres em Portugal ter pouca palavra? Será Portugal uma sociedade machista? Será que a política ou a economia são coisas de homem, enquanto que a casa e os filhos coisas de mulher? Como é que se muda esta mentalidade? Será com nova legislação? As quotas resolvem o problema?
Falámos sobre tudo isto com a Maria João Pires, membro do projeto Mulher Não Entra, e do projeto Geringonça, blogger em várias publicações como a Womenge a Trois, Sim no referendo, 5Dias e Jugular, e ex-membro da direção do Livre.
Conversámos sobre o aborto, antes e depois do referendo, e de como foi acompanhar de perto a luta pela sua despenalização. Falámos da lei da parentalidade em Portugal, e de como por cá se vê a mulher como mãe e cuidadora. Discutiu-se o papel das mulheres na política, e falou-se de feminismo.