Não normalizemos a extrema-direita
Já se começa a ver dizer, por aí, que o CHEGA não é extrema-direita. Bem sei que dizer mal de ciganos e ser racista e xenófobo é um mal generalizado em Portugal, mas importa chamar as coisas pelos nomes e responsabilizar as pessoas pelo que dizem. André Ventura, e o seu unipessoal CHEGA, defende abertamente um nacionalismo abjecto, pegando em todos os pontos comuns do discurso da extrema-direita nacionalista europeia e mundial.
É um oportunista que vai copiar essencialmente as propostas de Salvini e da Lega, em Itália, e que propõe cortes em impostos e em funções do Estado (à la Iniciativa Liberal) ao mesmo tempo que tenta colocar como principal problema do país a presença de estrangeiros – o bode expiatório da “insegurança” – e um discurso vazio sobre a corrupção. O plano é apelar aos instintos mais baixos e colocar as classes baixas umas contra as outras, culpando pelas dificuldades dos mais pobres os vizinhos do lado ainda mais pobres de outras etnias e origens.
André Ventura conspira sobre a invasão da Europa e opõe-se à chegada de refugiados e imigrantes no geral, sem qualquer respeito pelas vidas humanas de quem retrata como terroristas, ladrões e violadores. É o mais baixo que há. Se não é isto a extrema-direita, o que é? Só passa a sê-lo quando falar em genocídios?
Mais discutível é a caracterização de um partido como a Iniciativa Liberal, que propõe em matéria fiscal e de serviços de estado o mesmo que o CHEGA, fazendo-o com uma cara sorridente e com aparente progressismo em matéria de costumes. Caracterizam-se como sendo do centro, o que é risível quando defendem precisamente um capitalismo desregrado onde impere a lei do mais forte, deixando os mais pobres mais desprotegidos e cada vez mais longe dos mais ricos.
É discutível qual é a fronteira entre a direita e a extrema-direita, não há nenhuma forma objectiva de traçar essa linha, mas, sendo obviamente verdade que não pertence à mesma família política do CHEGA, o IL é claramente um partido que subscreve um libertarismo à moda de Thatcher e Ronald Reagan. E, para mim, isto também ultrapassa a linha.