Night Flowers no Hard Club: as flores também abrem com o sol da meia-noite
“We glow in the dark, our love is infinite”. Os Night Flowers são uma banda emergente no mundo do indie. O grupo já existia desde 2013 com outra vocalista, mas apenas em 2015 ganharam vida. Os quatro membros originais – um grupo de amigos do norte de Inglaterra – contam que encontraram Sophia, natural de Boston, numa noite de Londres. Assim nasceu este quinteto transatlântico. Sophia Pettit é a voz principal de Night Flowers. Greg Ullyart junta-se-lhe na voz e toca guitarra. Sam Lenthall é o baixista, Zebedee Budworth o baterista e Chris Hardy o guitarrista.
Os Night Flowers são uma banda com pouca história, com apenas um álbum publicado, e que tem muito para dar ainda. Não estão dependentes de vontades de editoras discográficas ou da pressão das vendas, o que faz com que possam criar a música diretamente do seu interior. O sentimento nas composições é real, a felicidade pura ou a tristeza bucólica são facilmente percetíveis para quem as ouve. Os Mr. November e Os Suspeitos não poderiam ter escolhido melhor para honrar a verdadeira essência do indie.
No passado dia 8, a abertura da noite no Hard Club esteve nas mãos da banda portuense The Fool Moon Cool. Tozé Ferreira, Carla Lopes, Ivo Guimarães, Gil Santos, Nuno Gaspar e Nuno Caldeira são os seis membros deste grupo que já participou nos Novos Talentos Fnac, em 2015, e que tem como objetivo fazer quem os ouve sentir-se bem.
A sala não chega a estar cheia, mas ninguém se importa; o público presente na Sala 2 mantém a boa disposição a noite toda. Entre turistas de passagem pela cidade, ingleses com saudades da terra natal e fãs portugueses com t-shirts da banda, a média de idades na sala é acima dos 30 anos. No entanto, os ritmos marcados pelo batimento da alegria fazem com que toda a gente seja jovem e o Hard Club ensina à banda o que é uma boa festa no Porto.
Ironicamente, os Night Flowers entram em palco com a música “Sleep” – uma das primeiras a ser gravadas com a voz de Sophia –, mas com sono ninguém fica (talvez apenas as duas crianças cujos pais levaram consigo). A sala acompanha a banda na transição para o outro lado do single, “Sitting Pretty”. Greg ensaia o primeiro “obrigado” da noite. “É tão especial estar aqui com as pessoas do Porto. Para mim, esta não é a primeira vez em Portugal, mas é a primeira vez no Porto. Belíssima cidade que têm aqui. Belíssimo país.”
“Glow in the Dark” põe toda a gente a dançar. O single continua a ser a música mais ouvida da banda e conta com o seu melhor vídeo – e talvez um dos melhores no indie recente –, uma sobreposição de três takes filmados a meio da noite de Tóquio. “Head On” é a primeira música a ser tocada do longa duração da banda. O disco Wild Notion foi lançado no ano passado e tem sido bastante bem-recebido pela crítica e pelos media.
Tocadas as últimas notas da faixa, é a vez de Sophia se dirigir à plateia: “Este é um concerto especial, por isso vamos honrá-lo ao tocar uma canção nova. É especial porque os meus pais estão aqui e é o aniversário da minha mãe.” Greg pergunta “então como se diz ‘parabéns’ em português?”, ao que a sala responde a entoar a canção, toda a gente ao mesmo tempo, como se tivesse ensaiado – definitivamente, um daqueles momentos que acontecem uma vez na vida. “Oh, uau!”, surpreende-se o músico, juntando-se com umas notas na guitarra e Zeb com o ritmo na bateria. Cria-se um momento de união que aumenta ainda mais a boa disposição na sala. “Isso foi incrível”, desabafa Sophia, partindo para a nova faixa, a que chamam “Lotta Love”.
Seguem-se mais duas do álbum: “Hey Love” e “Losing The Light”. “Isto pode parecer uma pergunta tola, mas já alguém nos tinha visto ao vivo antes? Uma pessoa? Sim. Bem, esperamos ver mais de vós nos nossos concertos.” As melodias de guitarra flutuam por entre o público, entrando pelos ouvidos, arrepiando a pele e enchendo corações. O indie é um género que todos une e a todos dá, sem nada pedir em troca. As luzes coloridas, os sorrisos nas faces e a voz hipnótica de Sophia fazem com que o espaço pareça estar suspenso nas nuvens.
Greg decide fazer uma pausa para elogiar os Mr. November. “Temos de agradecer aos Mr. November e a todos os ‘sospectos’. Fizeram-nos sentir bem recebidos e mesmo, mesmo bem. Têm uma coisa muito boa a acontecer aqui, não desistam dela.”
“Vamos tocar mais uma nova canção, se não se importarem.” As vozes de Sophia e Greg unem-se em “Night Train” como se de apenas uma entidade se tratassem. O cabelo cor de rosa, as roupas pretas de Sophia e o chapéu de Greg, tudo ondula esta noite. Antes de “Cruel Wind”, Sophia diz: “esta vai ser a última canção. É acerca do fim do mundo.” Esta última música do disco tem sete minutos e é uma que o público parece apreciar particularmente. Quando os cinco abandonam o palco, ninguém se mexe para sair da sala, apenas para bater palmas e chamar pela banda.
Os Night Flowers regressam passado um par de minutos, mas com um membro a menos. “Acho que o nosso baterista foi à casa de banho. Ele faz isto muitas vezes”, informa Greg, ao que Sophia brinca com “mais alguém toca bateria?”. O público ri-se, e ainda se ri mais quando Greg diz: “acho que ele simplesmente se senta lá, para poder ter a sua própria entrada.” Zeb volta sob, de facto, uma chuva de aplausos só para si.
O encore conta com “Embers”, uma das primeiras músicas do grupo, presente no EP de 2013. Ao agradecer, Sophia brinca com “obrigado é semelhante ao japonês arigatō”. Após um pequeno diálogo entre os dois, Greg anuncia: “esta é mesmo a nossa última canção. Não digam ‘ohhh’, desfrutem.” Seguindo o conselho do músico, o público aproveita esta última música para libertar tudo o que tem guardado. Sophia senta-se na beira do palco e canta “Fireworks”, antes de saltar para a plateia e acabar o concerto no meio do público – na mais perfeita das sintonias.
Os Night Flowers agradecem ao público português e prometem estar disponíveis para conviver o resto da noite. Zeb, após os amigos saírem, dirige-se a um microfone e diz “Eu tiro sempre uma fotografia nos nossos concertos para a mandar à minha mãe e mostrar-lhe que estou a fazer algo com a minha vida. Por isso, podem levantar as vossas mãos?”. O Hard Club demonstra pela última vez na noite todo o amor que tem para dedicar à banda.
Durante o concerto, o tempo pareceu ficar suspenso, como um transe neste universo cheio de melodia, cor e sorrisos. Agora, regressa-se à realidade, mas a memória fica.
A noite, essa está cheia de flores abertas com o sol da meia-noite.