O desenvolvimento do que somos ou do que podemos ser
Talvez haja pouco melhor do que aquele processo em que vamos entrando bem cedo nas nossas vidas e que se chama desenvolvimento. Uma progressão, uma evolução de quem somos, durante o qual vamos de encontro com aquilo que mais nos apela nas diferentes fases e formas da nossa vida. O desenvolvimento descreve em pleno aquilo que a nossa história acumula no seu legado. Haverá algo mais representativo do que aquilo que vamos sendo e o que escolhemos ser consoante o tempo passa? Provavelmente não. É nessa forma subtil mas permanente que o desenvolvimento pessoal se afirma como algo tão fantástico.
Uma sensação que se vai sentindo cada vez mais esta do crescimento. Por vezes, assusta. Parece indiciar que não estamos prontos para chegar tão longe. No entanto, por alguma razão estamos onde estamos, com as bases que temos e com as vontades que, de momento, temos. Tudo isto começa cedo e por via da educação. Inúmeros psicólogos detiveram-se no estudo da aprendizagem e do crescimento do ser humano, assinalando variáveis como o comportamento ou como a genética como cruciais na definição de alguém. No entanto, também é verdade que esta evolução se vai dando gradualmente e dos oito aos oitenta. Começando pelos desenhos animados que vemos até às sessões nostálgicas que passam pelo fim.
Muitos são aqueles que declaram que a vida é curta. Já me atrevi a contestar mais isso na minha mente, a tentar lutar contra essa predefinição. Talvez seja mesmo assim. Contudo, é possível fazer sentir com que não seja tanto, com que seja um tempo que se desconstrói nas coisas que vai conhecendo por aí e nas inspirações que vai somando. O desenvolvimento também a isso é propício, a acolher a novidade para esquemas plena e perfeitamente estruturados mas desejosos por reconhecer e conhecer. A informação é talvez o pedacinho mais pequeno no qual tudo se decompõe. Nada passa alheio a uma informação que procura e que, de forma quase instintiva, vai iluminando um caminho cada vez mais radioso e único.
É aqui que entra a cultura. A tal influência de padrões, de costumes, de tradições, rostos, episódios e tendências. A cultura é importada de forma sistemática, estando sempre presente como contexto ou como fonte criadora deste ou daquele aspeto do desenvolvimento de quem somos. Não somos só produtores mas também consumidores da cultura que fazemos e que vemos os outros fazer. A cultura precisa de todos para que se mantenha sustentável e num processo de evolução que se assimila de forma interessante ao nosso. Podem entrar dezenas de culturas, assim como caraterísticas transversais a todas elas. A cultura está sempre lá. No que aprendemos, no que dizemos, no que ouvimos, no que vemos, no que sentimos. Enfim, em todo o uso que damos aos cinco sentidos e ao raciocínio da mente com as letras e com os números, dando alma à estatística e questões à física.
Tudo aquilo que os nossos sentidos aprendem é também a deixa perfeita para que se entenda aquilo que somos e aquilo que vamos aceitando ser. Aquilo que incorporamos como os géneros musicais mais consonantes com os nossos estados e seres de alma, assim como as frases capazes de desvendar os maiores mistérios das vertiginosamente complexas vidas e as lendas que impulsionam os sonhos que aparentam a impossibilidade. Aquilo que assumimos como os nossos interesses é aquilo que colocamos em cima da mesa em tempos de adaptação ao que a realidade vai exigindo, dando passos mais ou menos largos para o progresso. São coisas que nunca se desvinculam de nós e que podemos estar agradecidos por nunca nos deixarem estar inertes numa rotina amorfa. A novidade anima e ensina, dando vulto e azo a que haja mais para contar e sítios novos para serem alcançados.
O desenvolvimento torna as coisas sempre mais interessantes. Tudo muda num agitar de asas ou de águas nacionais e internacionais. Muita coisa mexe e convida a que mais gente se entregue no conhecimento destes meandros. São infindáveis os recursos físicos e metafísicos, móveis e imóveis que incentivam a que a novidade se instale como alguém que, apesar de recorrente, entusiasma como se fosse a primeira vez. O desenvolvimento vai acontecendo, por mais parados ou mexidos que estejamos. Os astros cruzam-se, como assumem os interessados e peritos por essas áreas. Tudo se torna mais interessante quando se chega ao dia seguinte. Parece extensível a muita outra coisa, não é verdade?
Os tempos vão passando e as luzes vão-se acendendo. As luzes do nosso espírito, que vão clarificando e despertando gostos e interesses. Registos que vão ficando ou que são de fases, intermitentes à imagem daquilo que vamos exprimindo sobre este ou aquele assunto. A realidade assim o exige, alucinante como é na transição das variáveis. Nunca dá para se ser muito apegado a opiniões. Ficam os valores e as crenças mais ou menos consistentes, sendo estimuladas por correntes que nos ligam ao que os tempos proporcionam na sua sinfonia em pleno espaço. A iluminação dá-se naqueles tempos em que tudo parece tão turvo e enevoado e com uma expectativa muito ténue daquilo que será do momento em diante. Há sempre algo que catalisa para céus outrora voados e para outros nunca antes viajados.
Bendito e cultural que é este desenvolvimento. Um período que se vai arrastando e alastrando mas sem viver a nociva vertente destes gerúndios verbais. É um desenvolvimento positivo, nutritivo, que vai enriquecendo aquilo que somos e que nos vai reforçando como seres de presente, de agora. Seres que constroem e que evoluem consoante convivem, contactam, contemplam, cumprimentam os dias e as noites. O desenvolvimento acaba por ser o nosso comprometimento com o mundo. Uma ligação que se renova e que se alimenta daquilo que se vai colhendo do mundo e que se vai afeiçoando a nós, enquadrando-se naquilo que somos por natureza e que escolhemos ser na arte do agir e reagir. Posições que se assumem, lazeres que se acostumam, prazeres que se acrescem. Somos nós nesta canção de embalar perante um sono que mescla a bonomia sabida do ar e do mar.
Fotografia de capa de artigo: Detalhe da pintura de Michelangelo: ‘A criação de Adão’, na Capela Sistina