Os herdeiros ideológicos de Karl Marx

por Diogo Senra Rodeiro,    13 Maio, 2018
Os herdeiros ideológicos de Karl Marx
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Possivelmente serão poucos os intelectuais que, à passagem do 200.º aniversário, são ainda tão influentes na academia como na vida quotidiana. A herança deixada torna-se maior que o seu autor, para o bem como para o mal. Houve alguns que incorreram no esforço e no sacrifício – pessoal, perdendo a vida ou sendo encarcerados entre paredes de prisões – de o conhecer mais a fundo.

Para além do que já foi aqui descrito, Karl Marx foi indubitavelmente um dos maiores analistas das condições humanas e dos fenómenos que, na sua época, se tornaram novidade, tais como as novas relações socio-económicas baseadas na força pujante do Capital, em detrimento do proletariado. Muitas foram as questões levantadas pelo autor que se tornariam referências para a análise do Mundo em diversas áreas. Algumas ficaram por responder, pelo menos pelo próprio.

O espírito (Geist, que o seu mestre Hegel celebrizou), que nasceu no dia 5 de Maio de 1818, em Trier, e que passou por três países – Bélgica, França e Inglaterra, sendo expulso dos dois primeiros – escreveu na biblioteca do British Museum, em Londres, a sua magnum opus Das Kapital, a crítica mais completa até à sua época da máquina que ele tanto apreciava, o capitalismo. Este é o mesmo Karl Marx que, na singela idade de 17 anos, antes de ingressar nos estudos de Direito em Berlim, discorreu sobre qual deveria ser o propósito de todos nós:

“If we have chosen the position in life in which we can most of all work for mankind, no burdens can bow us down, because they are sacrifices for the benefit of all; then we shall experience no petty, limited, selfish joy, but our happiness will belong to millions, our deeds will live on quietly but perpetually at work, and over our ashes will be shed the hot tears of noble people.”

(“Reflections of a young man on the choice of a profession”, 1835)

Por maiores que sejam as suas divergências quanto à origem deste pensamento, que parece tão pueril e, ainda assim, tão fervoroso, o que veio a pensar em vida ecoa na eternidade; não pelas aplicações erróneas daquela solução que, para ele e Engels faria frente à máquina auto-suficiente e tremendamente destrutiva do capitalismo, e se consubstanciaria no Comunismo. As suas análises filosóficas, sociológicas, antropológicas e, até uma certa extensão, ecológicas, estão. sim, entre as suas contribuições mais valorosas – o que não quer dizer que os seus vaticínios económicos estejam errados.

As perguntas então por si não respondidas deram azo ao surgimento de outros pensadores, a que nos propomos chamar “Herdeiros ideológicos de Karl Marx”, que, principalmente no século XX, deram origem a outras teorias que tiveram como base comum o que hoje é conhecido por marxismo – sendo o neomarxismo, a Teoria Crítica e o pós-colonialismo três exemplos flagrantes disso mesmo.

Os seus herdeiros são muitos, e alguns deles já abordados – Theodor Adorno, Claude Lévi-Strauss e Jacques Lacan -, mas, em ano de comemoração, são vários os que necessitam de ser revitalizados. Assim, prestaremos homenagem à sua figura, mas também aos que tentaram expandir a extensão como a compreensão do Marxismo.

Com início já este mês, e até ao final do ano, iremos destacar mensalmente um dos seus “discípulos” (in)diretos. Eis os eleitos:

  • Herbert Marcuse (Sociologia)
  • Rosa Luxemburgo (Filosofia e Economia)
  • Piero Sraffa (Economia)
  • Eric Hobsbawm (História)
  • Antonio Gramsci (Teoria Política)
  • Gyorgy Lukács (Filosofia)
  • Louis Althusser (Filosofia)
  • Walter Benjamin (Crítico Literário)

Reiteramos a possibilidade de complementar ainda uma lista que merece sempre referência, tendo em conta que a mesma nos obriga a pensar criticamente. Outros nomes a merecer consideração são os de Max Horkheimer e Jurgen Habermas (Escola Crítica de Frankfurt), István Mészáros (discípulo de Lukács), Ernest Mandel e Rudolf Hilferding (importantes economistas Marxistas), Ernst Bloch, Paul A. Baran, Erik Olin-Wright, David Harvey, Cornelius Costariadis, Paul Sweezy (único professor marxista de sempre em Harvard), etc.

Por ora, dada a pletora de temáticas e a importância dos contributos dos autores selecionados, será este o ponto de partida, numa tentativa de trazer de volta ao público o debate sobre alguns dos maiores pensadores do século XX que, independentemente da sua escolha ideológica, tiveram algo de relevante a dizer e a propor à discussão passada, presente e futura de Karl Marx.

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