Paulino Vieira: o mestre da música de Cabo Verde
Paulino Vieira é um compositor, orquestrador, multi-instrumentista e cantor, considerado um dos maiores símbolos da música de Cabo Verde. Compôs, entre tantos outros temas que marcaram a música daquele país, “M’cria Ser Poeta” (seu desejo de criança) ou “Um Minute D’Silence” (música dedicada ao pai). É conhecida a sua famosa rapsódia em torno de mornas conhecidas, que juntou os principais artistas cabo-verdianos, como Bana ou Dany Silva. Foi o homem por detrás do início da carreira de Cesária Évora, tendo sido o arranjador e produtor dos principais álbuns da intérprete. Em 1995, no Bataclan, em Paris, realizou um dos mais bem conseguidos concertos de Cesária Évora. Desse marcante concerto, ficou na memória de todos as arrojadas orquestrações, a notável interpretação ao piano e ainda a genial improvisação com harmónica vocal em torno da morna “Rotcha Scribida“, no final do concerto.
O cabo-verdiano nasceu a 31 de Agosto de 1956, na Aldeia da Praia Branca, em São Nicolau. Ao longo da sua vida, passou por grandes dificuldades familiares e económicas, e participou em algumas polémicas que viriam a torná-lo, ao olhar de outros músicos, o génio maldito de Cabo-Verde. Paulino Vieira iniciou o seu percurso musical na Escola Salesiana de São Vicente. Cedo mostrou uma vocação única para a música, e aos nove anos já tocava com bastante desenvoltura cavaquinho e violão, aprendizagem adquirida somente através da observação de outros alunos.
O certo é que, à parte de algumas polémicas, os grandes músicos são unânimes em considerá-lo o grande mestre da música de Cabo-Verde de todos os tempos. Voginha, virtuoso da guitarra e figura incontornável, disse a respeito de Paulino: “Ele pode pegar em qualquer instrumento e fazer delirar o público“. Já Bau, conhecido músico de Cabo Verde (compositor do tema “Raquel“, do filme “Hable Con Ella“, de Pedro Almodovar), sobre Paulino Vieira, afirmou: “Nesse ano [1995] ele ia sempre à “Casinha dos Licores” ver-me tocar. Daí decidiu levar-me para uma digressão com a Cesária Évora durante três meses. Para mim ele é o grande mestre de todos os tempos”. Ainda Francisco “Kikas” Silva, artista e produtor, confessou que Paulino “É único. Como ele não há igual em Cabo Verde. Mas, mais do que isso é uma excelente pessoa que transmite constantemente ensinamentos a todos, seja no campo musical, como da vida em geral.”
De facto, para além de um músico genial, Paulino é também um pensador do mundo, um estudioso da música do seu país, um maestro de tantos músicos, um mestre de tantos artistas. Sobre ele, Susana Rendall Rocha refere num texto: “Assim é Paulino Vieira, de imagem pouco convencional. Esperar dele normalidade é muito mais do que uma utopia. Paulino não é igual a ninguém.”
Apesar de cedo ter voltado à sua terra, e remetendo-se ao silêncio e ao recato, o africano, num outro país, teria sido elevado aos maiores patamares que um músico pode ambicionar. Este congregou uma série de estilos nas suas orquestrações altamente sofisticadas, que vão desde a música soul ao reggae, passando pelo jazz. Revolucionou a morna como mais ninguém o fez, razão para afirmar que, se Cesária Évora é a face da música de Cabo-Verde, então Paulino é a sua alma.