‘Phases’: o retrato do processo criativo de Angel Olsen
Após o lançamento de My Woman em 2016, Angel Olsen edita este ano Phases, um álbum que reúne demos, B-sides e até covers. Este é um trabalho que traça o caminho da artista e o seu processo criativo desde o seu início de carreira com Half Way Home, passando por Burn Your Fire For No Witness; levantando o véu sobre os temas que foram sendo descartados nos trabalhos finais e que são agora revelados ao público. Com a emoção de sempre nas letras e na sua voz, este mostra-se como um trabalho em que a artista nos convida para o seu mundo e para aprofundar o conhecimento da inspiração por detrás do seu trabalho.
O álbum tem início em “Fly On Your Wall”, um tema melódico e contemplativo, com uma reminiscência folk e a voz de Angel a encantar como sempre nos habituou. O single de avanço deste trabalho, “Special”, ouve-se em seguida. São cerca de sete minutos de pura genialidade musical. O certo é que ainda só ouvimos duas músicas e percebe-se que este álbum, embora se trate de uma colecção de B-sides e demos, consegue alcançar a pujança dos álbuns que Angel tem editado. Segue-se “Only With You”, uma balada celestial e de beleza imensurável. Ao ser tocada ao vivo em concertos próximos, será a responsável por várias lágrimas vertidas no uníssono dos corações partidos a que apela com a sua letra de mestre.
“All Right Now” conjuga a guitarra e a voz angelical de Angel Olsen em três minutos que nos fazem viajar para um plano transcendental, no qual a voz nos abraça e nos conforta. “Sans” afirma-se como um desabafo pessoal, com uma melodia belíssima. É como se páginas de um diário aberto fossem tornadas em música pela artista. Em “Sweet Dreams”, a letra mais introspectiva conjuga-se com uma batida dançável, sendo provavelmente um dos temas mais bem conseguidos do álbum. “California” emana uma memória de Fleetwood Mac, com a inconfundível voz de Angel e a sua composição desnuda, que tornam este tema tão singular.
No que toca aos covers, “Tougher Than The Rest”, um original de Bruce Springsteen, e a balada “For You”, de Roky Erickson, são interpretados como verdadeiros hinos ao amor. Por esta altura, já é evidente que este álbum é um retrato cronológico das fases de evolução do processo criativo de Angel Olsen e da inspiração aliada ao mesmo. “How Many Disasters” e “May as Well” apresentam-se como duas baladas com uma guitarra acústica e voz a entoar letras lindíssimas, com a emoção a ecoar a cada nota. A fechar o álbum, Angel faz um último cover, para tal escolhendo “Endless Road” de Hoyt Axton, esta que é uma música que a artista inclui várias vezes nos seus concertos. Numa interpretação a lembrar Johnny Cash, com um toque de blues folk, o álbum termina assim, com o verso “Every road I see will lead me home”.
A verdade é que esta é a casa de Angel Olsen: os seus sentimentos, a dor, os corações partidos, os desabafos; tornados música e arte e partilhados num álbum que, apesar de ser composto por material que tem tem vindo a deixar de fora dos trabalhos editados ao longo de cinco anos, consegue manter a qualidade destes últimos, apresentando composições muito bem conseguidas. Phases assume-se assim como um retrato do percurso de Angel Olsen durante os últimos cinco anos.
Depois de uma passagem pelo NOS Primavera Sound deste ano, o regresso de Angel Olsen a Portugal já tem datas marcadas em 2018: dia 13 de Maio no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e 14 de Maio, no Teatro da Trindade, em Lisboa.