Plutónio: “Nunca devemos limitar a criatividade das pessoas”
NOS Alive, bastidores do palco NOS Clubbing. Plutónio acaba de se estrear no festival com um concerto completamente cheio, que rivalizou com afinco a esparsa multidão a assistir a Greta Van Fleet. O artista do Bairro da Cruz Vermelha mostra-se calmo, satisfeito, engrandecido pelo apoio que tem recebido nos últimos anos. Numa curta conversa discute as suas origens, o estado do hip hop e uma mensagem que quer deixar à sua geração de artistas. É um livro aberto excepto na altura de falar sobre o seu novo álbum, com lançamento previsto para este ano. “Quero mesmo que seja uma surpresa.”
Fala-nos um pouco da tua música.
Comecei a fazer música no ano de 2000, 2001, nada a sério, só escrever as minhas primeiras letras de rap e ia gravando. Só lancei o meu primeiro álbum em 2013, chamado Histórias da minha Life. Em 2016 lancei o meu segundo álbum, Preto e Vermelho, e agora em 2019 vou lançar o meu terceiro álbum. Vai ser como o Tesla, de três em três anos [risos]. As minhas músicas mais conhecidas hão-de ser o “Meu Deus” e o “Cafeína” mas antes disso tenho outras músicas e projectos com outros artistas e com artistas da Bridgetown, com quem trabalho há cinco anos e com quem tenho planos para fazer muitas coisas para o futuro.
Tens uma afinidade por cantar e rappar desde há muito tempo, antes de ser algo tão comum. Achas que a paisagem do hip hop hoje em dia te permite mais ser assim?
O hip hop é resultado da fusão de vários estilos musicais. Por isso é normal que surjam outros estilos musicais que são a fusão do hip hop com outras coisas, e eu acho que nunca devemos limitar a criatividade das pessoas. Hoje em dia, deixa-me feliz saber que o público já está mais aberto, disposto a ouvir coisas novas, e para mim dá-me gozo poder rappar ou cantar – o que a música me puxar para fazer – e saber que cada vez mais pessoas têm bom senso, e ouvem e sabem reconhecer a originalidade, isso é o mais importante. O hip hop durante muitos anos não era um espaço para falar de amor. Não se podiam cantar refrões, não podia ter uma mensagem que não fosse a apelar a um comportamento sério, por assim dizer. Mas as pessoas também se querem divertir, também querem rir, querem falar de outros assuntos que não só os problemas. Hoje em dia os rappers também já perceberam isso e o público está cada vez mais disposto a ouvir boa música, mas não só com aquela mensagem de que tens que pensar assim, tens que ver assim… Acho que há espaço para tudo dentro do hip hop e eu e outros artistas cada vez mais diferentes são a prova disso.
Hoje em dia há espaço para mais emoções, além daquelas que normalmente se associam ao hip hop?
Sem dúvida mas há mais uma coisa: os novos artistas – esta nova geração que já vem depois de mim – vem já com a cabeça desbloqueada de muitas coisas. Eu tive uma certa dificuldade em perder a vergonha e o medo, o receio de fazer melodias, de fazer coisas diferentes. Mas eles já vêm noutra fase, eu tinha esses preconceitos por causa da altura em que eu comecei a cantar. As coisas já estão transformadas, a Internet já dá outra informação às pessoas e acho que o hip hop hoje em dia tem muito mais a ganhar, porque os artistas também têm muito mais mais a oferecer. Pegando nos rappers mais antigos, a minha opinião é de que não façam ao trap – às novas gerações – o que os outros estilos musicais fizeram ao hip hop. Havia uma certa discriminação, um certo preconceito, e acho que nós não podemos ser assim com a nova geração porque eles são o futuro, e podem estar a descobrir o próximo maior género musical do futuro.
Sei que não queres falar do teu novo álbum mas tenho de insistir numa questão: disseste numa entrevista que queres pelo menos produzir uma música em cada álbum teu. Isso continua a ser verdade?
Sem dúvida que neste álbum isso não vai fugir à regra.