Porto/Post/Doc leva ao Porto “As Filhas do Fogo”, espectáculo do realizador Pedro Costa com os Músicos do Tejo
Um total de 22 filmes integram a selecção oficial das secções Cinema Falado e Cinema Novo que, no Porto/Post/Doc, traçam um olhar para os filmes produzidos em Portugal ou de expressão portuguesa produzidos no último ano. Destaque aos regressos de Lois Patiño, Matías Piñeiro e Eryk Rocha, às novas propostas de Salomé Lamas, Susana Nobre e Welket Bungué, e as descobertas do novo brasileiro, como Madiano Marcheti e Luiz Bolognesi.
Anunciada hoje também a estreia, no Porto, de As Filhas do Fogo, espectáculo interdisciplinar que junta Pedro Costa aos Músicos do Tejo, onde se retrata a fuga de três jovens irmãs de uma erupção devastadora do vulcão Fogo, em Cabo Verde. Entre o teatro, o cinema, a performance e o musical, o cineasta e o colectivo de música barroca reinventam um espectáculo que percorre os dias e as noites, a miséria, a escuridão dos becos e a vida invisível de tantos migrantes. A apresentação terá lugar no Coliseu do Porto, no dia 30 de novembro, pelas 21h30. Os bilhetes custam 12 euros e já se encontram à venda no site do Coliseu.
Matías Piñeiro e Lois Patiño, uma combinação improvável. Do argentino conhecemos as comédias shakespearianas feministas, do galego as deambulações fantasmagóricas pela paisagem. Para este encontro escolheram um meio caminho, os Açores e por lá rodaram, Sycorax, um filme que parte de A Tempestade, de Shakespeare. Estreia nacional no Porto/Post/Doc e regresso ao festival de dois nomes que têm sido queridos à selecção do festival. Regresso também para Eryk Rocha a quem foi dedicado um foco na edição de 2016). Em Edna, um filme tecido a partir dos relatos da própria no caderno que intitulou A História de Minha Vida, o realizador brasileiro desenvolve uma narrativa híbrida que se inspira no diário de Edna e reencena os fantasmas do colonialismo (passado e presente). E se de Brasil falamos aqui, destaque a uma das suas novas vozes, Madiano Marcheti, que no seu Madalena nos entrega um filme que impressiona pela narrativa de ausência, a tocar na ferida da transexualidade e da violência de género. Um discurso de presente que marca também a estreia em festivais nacionais de Maíra Tristão, realizadora, artista e investigadora feminista e de questões de género, comTransviar, um filme sobre o romper das regras. Imenso território, físico, histórico e social, o Brasil indígena é a personagem central de A Última Floresta, longa metragem de Luiz Bolognesi. Integrada também no programa temático Ideias para Adiar o Fim do Mundo, a longa acompanha o líder indígena Davi Kopenawa, dos Yanomami, traçando um retrato sobre a cultura e a língua deste povo, no momento em que a Amazónia está a saque de garimpeiros.
Cinema de sensibilidades e do real, é também o que encontramos no novo trabalho de Susana Nobre, No Táxi Do Jack, um road-movie sobre as condições do trabalho em Portugal, conduzido pelo sexagenário Joaquim Calçada, um ex-emigrante perto da reforma que se vê obrigado a cumprir as regras e burocracias exigidas pelo centro de emprego, para usufruir do subsídio. Nome incontestável também na nova cinematografia portuguesa, Salomé Lamas volta, em Hotel Royal, a guiarmos pela idiossincrática forma com que analisa o mundo, num filme em que volta a explorar o tema do contacto humano e da nossa necessidade de convivência. Também presença assídua em festivais por todo o país, Welket Bungué encontra-se, em Mudança, com a política Joacine Katar Moreira, numa conversa-análise em torno da essência dos seus trabalhos que deixa ecoar sinais de uma revolução iminente. Uma que urge fazer no Porto filmado por Tiago Afonso em Distopia. Ao longo de treze anos, de 2007 a 2020, o filme acompanha a mudança no tecido social da cidade, por entre demolições, expulsões e realojamentos que afetaram a comunidade cigana do Bacelo, a população do Bairro do Aleixo e os vendedores da Feira da Vandoma. Finalizar com uma palavra especial para Sortes, de Mónica Martins Nunes, um filme rodado no Alentejo, que traça um olhar sobre a família da realizadora, num registo que assenta em duas das mais importantes premissas do cinema do real: as pessoas e a paisagem.
O programa das seções Cinema Falado e Cinema Novo integram ainda filmes novos de Ana Vaz, Silas Tiny, Emily Wardill, Daniel Soares, Fábio Silva, Mariana Bártolo, Ana S. Carvalho, João Pedro Soares, João Garcia Neto, Inês Costa, Luísa Campino, Melanie Pereira, Gonçalo L. Almeida e da equipa: Gonçalo Eugénio, Luísa Campino, Benjamim Gomes, Gonçalo Eugénio, Miguel Mesquita, Vasco Bäuerle, David Arrepia e Francisca Sá.
O Porto/Post/Doc realiza-se entre os dias 20 e 30 de novembro no Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Passos Manuel, Coliseu Porto Ageas, Casa Comum da Reitoria da Universidade Porto e Planetário do Porto – Centro Ciência Viva. À semelhança do que aconteceu em 2020, o festival contará ainda com uma extensão ao online, onde será possível visualizar grande parte dos filmes seleccionados.
O Porto/Post/Doc é realizado em parceria com a Câmara Municipal do Porto, contando com o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto do Cinema e Audiovisual e o mecenato da Fundação “la Caixa”/BPI.
Seleção de cinema falado
13 Ways of Looking at a Blackbird, Ana Vaz, Portugal, 2020, EXP, 31′
Constelações Do Equador, Silas Tiny, Portugal, São Tomé and Príncipe, 2021, DOC, 106′
Distopia, Tiago Afonso, Portugal, 2021, DOC, 61′
Edna, Eryk Rocha, Brasil, 2021, DOC, 64′
Hotel Royal, Salomé Lamas, Portugal, 2021 , FIC, 29′
Madalena, Madiano Marcheti, Brasil, 2021, FIC, 85′
Mudança, Welket Bungué, Portugal, 2020, DOC, 27′
Night for Day, Emily Wardill, Portugal, Áustria, 2020, DOC, FIC, 47′
No Táxi Do Jack, Susana Nobre, Portugal, 2021, FIC, 70′
O Que Resta, Daniel Soares, Portugal, 20′
Sortes, Mónica Martins Nunes, Portugal, 2021, DOC, 39′
Sycorax, Lois Patiño, Matías Piñeiro, Espanha, Portugal, 2021, FIC, 21′
Transviar, Maíra Tristão, Brasil, 2021, 13′
Seleção de cinema novo
(In)Quietude, Ana S. Carvalho, Portugal, 2021, FIC, 15′
A Incessante Conquista da Escuridão, João Pedro Soares, Portugal, 2021, DOC, 10′
A Straight Story, João Garcia Neto, Portugal, 2021, DOC, 10′
Amélia, Inês Costa, Portugal, 2021, DOC, 3′
Barbas de Baleia, Mariana Bártolo, Alemanha, 2021, DOC, 11′
Fruto do Vosso Ventre, Fábio Silva, Portugal, 2021, DOC, 20′
Hysteria, Luísa Campino, Portugal, 2021, DOC, 10′
Lugares de Ausência, Melanie Pereira, Portugal, 2021, DOC, 27′
Musgo, Alexandra Guimarães, Gonçalo L. Almeida, Portugal, 2021, DOC, 26′
Paralympia, Gonçalo Eugénio, Luísa Campino, Benjamim Gomes, Gonçalo Eugénio, Miguel Mesquita, Vasco Bäuerle, David Arrepia, Francisca Sá, Portugal, 2021, DOC, 13′