Quem é Joseph Pulitzer?

por Lucas Brandão,    9 Abril, 2017
Quem é Joseph Pulitzer?
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Embora o apelido Pulitzer nos suscite uma associação de ideias com um prémio literário, tudo começou no jornalismo. O prémio, que ainda hoje galardoa figuras de proa em diversas componentes artísticas, teve origem num jornalista. Este, de nome Joseph Pulitzer, destacou-se pela sua prática jornalística inovadora, explorando a componente mediática e negocial do jornal e potenciando a circulação em massa do mesmo. Nascido a 10 de abril de 1847, o norte-americano primou pela sua posição política crítica e anti-corrupção, visando, nos seus órgãos de comunicação, combater toda a controvérsia em que os EUA se enquadravam.

Nascido Pulitzer József na Hungria, foi neste país que cresceu e que viveu com alguma sustentabilidade financeira, fruto da reforma choruda que o seu pai adquiriu após ser bem-sucedido no que toca aos seus negócios. No entanto, a morte deste ditou a falência dos seus negócios e, por conseguinte, motivou a emigração forçada do jovem magiar. Tinha ele 17 anos quando chegou a Boston, isto em 1864, ano em que decorria o recrutamento para a guerra civil, onde foi membro de cavalaria nas forças de Abraham Lincoln durante oito meses.

Após o término desta e exercendo alguns ofícios avulsos, o emigrante húngaro estudou a língua inglesa e, na sucessão disto, foi lendo as obras recomendadas pelos intelectuais que frequentavam o café no qual era empregado de mesa. A sua primeira aventura jornalística viria quando desmascarou um esquema de aliciamento de mão-de-obra para o trabalho em plantações de açúcar, apontando o seu caráter fraudulento. Esta foi aceite pelo periódico Westliche Post, de Saint Louis. Entre os seus colegas de trabalho neste posto foi designado como “Shakespeare” pelo seu caráter virtuoso. Estudou advocacia na esperança de a exercer, sem, no entanto, ser bem-sucedido como tal, mesmo tendo renunciado o seu vínculo em relação ao Império Austro-Húngaro e tendo-se tornado um cidadão norte-americano.

No entanto, a sua paixão estava já descoberta. O americo-húngaro dedicava-se afincadamente à prática jornalística e, como tal, trabalhava 16 horas por dia. Juntou-se à Sociedade da Filosofia e frequentou livrarias alemãs onde os intelectuais de então costumavam circular. Também por 1869 consolidou a sua consciência política ativa, afiliando-se ao partido republicano e servindo durante vários anos como delegado em vários estados. Em 1872, com somente 25 anos, comprou uma parte do jornal onde trabalhava, valorizando-a e lucrando com a mesma. Com esse lucro, adquiriu os dois outros periódicos do estado de Missouri, sendo eles o St. Louis Dispatch e o St. Louis Post, fundindo-os e nomeando o seu resultado como “St. Louis Post-Dispatch”. O caráter populista, despudorado e expositivo dos artigos do órgão levaram-no a tornar-se rapidamente num dos mais notórios a nível nacional.

Uma década depois, consolidando o seu exercício jornalístico, negocial e até político, comprou a Jay Gould o ilustre New York World. Em notório decréscimo, Pulitzer aplicou a sua abordagem na circulação deste jornal, apostando nas histórias escandalosas, sensacionais e puxando ao íntimo e à curiosidade do comum leitor. Para além disso, deu ênfase às vicissitudes dos operários e à prepotência dos magnatas monopolistas, estando na origem da regulamentação das empresas de seguros e da legislação antitrust (esta que impedia a formação de monopólios e que fomentava a livre concorrência e a economia de mercado). Estas particularidades fizeram de Pulitzer um jornalista das massas, um daqueles que compreendia as necessidades do leitor comum e, acima de tudo, que exortava para as anomalias de um país normalmente concebido como paradisíaco.

Foi com a sua tutoria que foi lançado o primeiro jornal em jeito de banda-desenhada a cores (“The Yellow Kid”, 1895) Foi também durante esta fase da sua vida, já como democrata (mudou de partido por se desencantar com a corrupção que tanto denunciou) que alcançou o seu maior posto político, fazendo parte da Casa dos Representantes do país a partir de Nova Iorque, acabando por sair por pressões advindas da sua vertente profissional. Com o seu prestígio em altas e tendo quadriplicado as unidades do periódico circuladas, as críticas não tardaram, com a sua origem judeia a ser o mais fácil alvo. As rivalidades que foi estabelecendo foram designadas como “yellow journalism” pelo pendor colorido, personalizado e satírico que as editorias escolhiam abranger na sua abordagem. Esta designação era também aplicada ao estilo de Pulitzer, apontado por muitos como espalhafatoso e como excessivamente gráfico. No auge do seu reconhecimento, Joseph Pulitzer foi vítima de uma deterioração do seu estado de saúde, o que lhe forçou a deixar de ter uma postura tão ativa no que toca ao seu jornal. No seu lugar afirmou-se Frank J. Cobb, com o qual de início possuía animosidades pela incompatibilidade de filosofias.

Joseph Pulitzer partiu a 29 de outubro de 1911, com 64 anos. Foi no seu testamento que perpetuou o seu legado, deixando por escrito a vontade de, com os seus fundos, criar uma escola de jornalismo e um prémio que galardoasse o mérito jornalístico. À letra, o americo-húngaro desejava reconhecer quatro jornalistas, outros tantos no que toca à produção literária e um em educação. Para além disto, foi também com o seu dinheiro que decidiu conceder bolsas de estudo aos aspirantes à arte do jornalismo. Porque também o jornalismo é arte, especialmente no que toca à conjugação dos diversos instrumentos num dado contexto espácio-temporal. É aquele que é mais ousado, mais diferente e mais irreverente que projeta a sociedade para uma perspetiva mais à frente. Nos tempos de hoje, consolida-se o jornalismo como tal. É a partir do mérito infocomunicacional que se gera um ilustre memorial. Dos nossos dias, dos nossos tempos, destacando do que é feita a realidade. De tudo isto foi feito Joseph Pulitzer. Para além de uma condecoração, eis um homem-sensação.

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