“Revezo”, de Filipe Sambado: prova de que o artista pode fazer diferente sem deixar de ser quem é
Em 2016, “Vida Salgada” impulsionou Filipe Sambado no panorama musical português. Um pouco mais tarde, surgia o convite da Valentim de Carvalho, editora com a qual o artista assinou contrato para a gravação de quatro discos. Depois do lançamento, em 2018, de “Filipe Sambado e os Acompanhantes de Luxo”, “Revezo” é o seu novo álbum que marca, assim, o início de 2020 e a continuação do trabalho em estúdio. Para além disso, é com o tema “Gerbera Amarela do Sul”, que o cantor se irá apresentar no Festival da Canção, já em fevereiro deste ano.
O primeiro tema a ser divulgado, “Jóia da Rotina”, fazia crer que Sambado nos iria apresentar um disco que regressava, e, até, reforçava, a onda pop caraterística de trabalhos anteriores. Apesar de não ser falso, “Revezo” apresenta uma sonoridade que facilmente o distingue dos outros discos e que, de forma automática, nos remete, para o melhor da música tradicional. O novo disco prova a capacidade de Sambado reinventar os seus álbuns e levar-nos, a cada um que é lançado, a descobrir uma realidade diferente da anterior que, no entanto, nunca perde as suas raízes.
As dez canções que compõe “Revezo” dão-lhe um caráter robusto e vigoroso, homogéneo na sua mensagem, mas heterogéneo no mais pequeno detalhe. O tema inicial, “Tusa Mole”, é uma boa apresentação do que são as restantes nove canções do disco. A ideia de “saudade” mistura-se com a de “apego”, numa clara alusão à rotina e à vida no lar, que Sambado canta ao sabor da música tradicional.
Entre flautas, eletrónica e ritmos de percussão contagiantes, é impossível não querer dar um pezinho de dança assim que ouvimos “Mais Uma”, canção que nos transporta para a tradição musical portuguesa e para o universo do folclore. A repetição constante do tema principal em cada faixa, como acontece, por exemplo, em “Bitola” com o refrão “Se é barato sai caro / E o cristal é claro que vai partir / Por duro que seja / Até na cerveja vai diluir”, contribui, igualmente, para este objetivo.
Já com “É Tão Bom”, Sambado fala de amor através da ideia de lar e família, como acontece em “Jóia da Rotina” onde, pelo meio, nos deixamos levar pela voz que ecoa por entre o tema principal. Tudo parece cumprir o objetivo do artista que, à Lusa, confessou ter recorrido à “música tradicional para cantar sobre a ideia de casa, lar e família, enquanto compensação da vida laboral e social”.
Se, no álbum anterior, os Acompanhantes de Luxo conferiam uma sonoridade que parecia ter sido estruturada ao pormenor, em “Revezo”, a sensação é de liberdade, como se cada canção pretendesse ser, apenas, uma experiência e fusão de novos ritmos e instrumentos. Tendo deixado para trás temas relacionados com a sexualidade e a expressão de género, caraterísticos do seu trabalho anterior, este novo disco torna-se, assim, mais leve, mas não menos original ou pessoal.
“Revezo” é, sobretudo, a prova de que um artista pode fazer diferente e, ainda assim, não perder a sua marca; é um regresso à tradição que, ao mesmo tempo, nos obriga a olhar para o dia de hoje. Com este disco, Sambado pede-nos que aproveitemos mais o lar e a família; pede-nos que cheguemos a casa e dancemos ao som de “Gerbera Amarela do Sul” ou adormeçamos ao som da “Imagina”.