RIDE e a viagem de nowhere até ao Porto
A banda de rock alternativo RIDE estreou-se em nome próprio no Porto na passada terça-feira e fez o Hard Club vibrar ao som do novo álbum This Is Not A Safe Place.
Às 22h, já a sala se encontrava meia cheia de fãs que, descontraidamente, aguardavam a entrada de Mark Gardener, Andy Bell, Laurence “Loz” Colbert e Steve Queralt. A banda, que nasceu em Inglaterra em 1988, é conhecida por ser umas das pioneiras do shoegaze e, como tal, deixou a plateia inebriada com o calmante dos vocais etéreos e o êxtase das guitarras estridentes. Tratou-se, sem dúvida, de uma transportação – podemos facilmente comparar o efeito da música dos RIDE ao daquelas bandas sonoras cinemáticas que nos envolvem e convidam, então, para uma viagem.
A partida deu-se, num misto cromático de raios de luz azuis e laranja, com “Jump Jet”. Ainda no começo, ouviu-se da plateia um desabafo: “esperámos trinta anos por isto”. Desafiante, o vocalista respondeu ao fã entusiasmado com “vamos ver se valeu a pena”. Depois de uma pausa entre 1996 e 2014, a banda seguiu, agora reconstituída, numa tour mundial do álbum lançado em agosto. Em Portugal, passaram por Lisboa e pelo Porto. A espera foi longa, mas trouxeram a palco toda a energia que tinham e o Hard Club não ficou indiferente.
A noite ficou marcada por uma forte instrumentalização e poderosas harmonias vocais, que criaram um uníssono transcendente. O público, eufórico, acompanhou todas as músicas, ora a cantar as letras, ora a sentir o ritmo das grandes introduções instrumentais. Acontece que os RIDE, que já tocam desde os anos 80, atraem um público de uma faixa etária mais elevada, que saboreou cada momento. No ar, estavam mãos flutuantes a acompanhar o ritmo da música e apenas alguns telemóveis – sintomáticos da juventude – a gravar o concerto.
A inconstância musical parece ser o que mais maravilhou a plateia. As passagens repentinas de momentos psicadélicos envolventes para batidas agressivas de quase heavy rock tornaram a noite tanto descontraída e intimista – de bater o pé e abanar a anca com um copo de cerveja na mão – como eletrizante e estimulante – de saltar e gritar até ficar sem fôlego.
Esta dualidade dos RIDE manteve os fãs em sintonia quando tocaram músicas como “Repetition”, “End Game”, “OX4” e “Taste”. A energia presente no concerto era palpável – o público partilhava o sentimento das músicas e vibrava com o poder psicoativo dos sons. Agradecidos, numa intensidade agravada, terminaram a viagem no destino esperado: a icónica “Vapour Trail”, do seu álbum de estreia Nowhere. Num momento instrumental dominado pelas guitarras, de pura entrega musical, despediram-se do Porto.