‘Stefan Zweig – Adeus, Europa’ e o papel de um intelectual na sociedade
Exibido durante este ano nas salas de cinema portuguesas, Stefan Zweig – Adeus, Europa está agora disponível através da plataforma Filmin e em DVD distribuído pela Alambique. Obra de Maria Schrader, com Josef Hader interpretar brilhantemente o papel do escritor Stefan Zweig, este é, antes de mais, um filme charmoso, sóbrio e situado exemplarmente na época que se presta a retratar.
Ao longo do filme acompanhamos o período entre os finais dos anos 30 e inícios dos anos 40 em que o escritor, pacifista e judeu – pormenor importante para o período histórico retratado – esteve exilado na América, tendo passado por Rio de Janeiro, Buenos Aires, Nova Iorque e Petrópolis, onde viria a falecer.
A obra presta-se a dar-nos um olhar timidamente nostálgico do autor sobre a Europa, o seu “lar espiritual”, enquanto esta, à época, se destruía e vivia um os seus períodos históricos mais negros.
Indagado sobre o papel do artista perante a política, Zweig responde que “um artista pode criar obras com dimensão política, mas não pode dar às massas palavras de ordem“. É em grande parte esta temática uma das grandes questões que este filme nos coloca de forma certeira, através de um autor fascinante como é Stefan Zweig. Qual é a barreira entre a literatura e a política, ou qual o papel dos intelectuais numa sociedade que é inevitavelmente política?
Perante a pretensão de um jornalista que lhe pedia que criticasse o regime nazi liderado por Hitler, Stefan Zweig diz que não o fará por na sala já toda a gente partilhar da sua opinião. Há aqui da parte de Zweig uma demonstração de um calculismo e ponderação certeiros do uso das palavras, algo que de resto se presumiria num escritor da sua categoria. Pouca gente saberá melhor que um grande escritor, que para as palavras serem usadas da melhor forma isso implica não só o mensageiro, as próprias palavras, mas também a altura em que são ditas e quem as ouvirá. Estes factores são condicionantes essenciais e a ter em conta no bom uso de tamanho dom para que este não caia no risco de se tornar numa banalidade.
Esta biopic realizada e idealizada por Maria Schrader sabe perfeitamente qual o seu público. Longe de ser – ou querer ser – uma biografia convencional e banal que se perde no período temporal ou nas criações do autor em questão (correndo o risco de a desumanizar, por consequência), este Stefan Zweig – Adeus, Europa é ambicioso e saúda-se a sua existência, ao abertamente se querer focar nos laços, nas relações humanas e sobretudo com o interior, o pensamento e opinião de um autor possuidor de um intelecto riquíssimo.
Tudo isto só é passível de ser demonstrado devido à enorme prestação de Hader, obrigado a diferentes amplitudes de existência, desde momentos mais cerimoniais, formais, a momentos de pura intimidade e nostalgia estampada no rosto. Um papel fabuloso ladeado por Barbara Sukowa e um restante elenco onde se destacam rostos bem conhecidos e portugueses como Virgílio Castelo, João Cabral, Maria Vieira, João Didelet e o enorme e intemporal Nicolau Breyner.