Taylor Swift: muitas lantejoulas e declarações de amor na estreia em Portugal
Taylor Swift chegou finalmente a Portugal e, desde então, os seus passos foram minuciosamente descritos ou analisados por dezenas de notícias nos mais diversos meios de comunicação. De onde veio, como veio, com quem veio, o que come, o que pediu, a que horas come. A dimensão da artista mais falada do momento reflecte-se nos números que a rodeiam: o impacto económico, os milhares de pessoas que se deslocam de vários países e continentes para a ver, as audições dos seus álbuns nas plataformas de streaming.
“Quem corre por gosto não cansa”, diz o ditado. Os swifties, como fãs extraordinariamente dedicados, são exemplo disso. A devoção dos swifties, por mais que quem não percebe critique, não é propriamente novidade. Nos idos anos 60, fãs dos Beatles compravam perucas para se assemelharem “ao corte de cabelo em tigela” dos Fab Four de Liverpool; há uns anos, fãs dos Tokio Hotel acamparam durante dias à porta da Meo Arena para o tão esperado concerto de estreia da banda em Portugal, que seria cancelado devido a doença, “traumatizando” assim uma geração; mais recentemente, fãs dos U2 pernoitaram na rua para comprarem bilhetes para os concertos da banda, algo que não é absolutamente inédito entre os fãs de U2. Por estes dias em Lisboa, chegou a vez de os swifties se fazerem notar. Por todo o lado, há muita lantejoula, muito glitter, muitas botas de cowboy e muitas pulseiras da amizade. Há quem se levante de madrugada, ou até mesmo pernoite à porta do recinto, para conseguir chegar ao melhor lugar, mesmo que isso implique uma ou outra queimadura solar. A dedicação é visível nas muitas filas e no frenesim que tomou conta das ruas e hotéis nas proximidades do Estádio da Luz. Estes fãs, movidos pela paixão e pelo amor à música de Taylor Swift, demonstram que a espera e o esforço valem a pena quando se trata de ver finalmente a artista do momento.
Com alguns atrasos e quase arremessos de grades depois, a espera termina quando, no meio de uma coreografia de tecidos esvoaçantes, Taylor Swift se eleva numa plataforma a meio do palco que divide longitudinalmente quase todo o campo do Estádio da Luz. Ao longo de 45 canções (e muitos encadeamentos entre várias canções), revisitamos as várias eras da artista numa espécie de best-of, mas que, nas palavras de Taylor, são canções que a relembram de momentos que marcaram essas eras. Acompanhada por uma banda que ora a seguia ora estava nas laterais do enorme ecrã, e por uma incrível trupe de bailarinos, Taylor Swift cantou os temas da sua vida e que marcaram a vida de muitos. Revisitou os períodos de escola, os desgostos amorosos, as dúvidas existenciais, os pequenos dramas. Pelo palco, passavam diferentes cenários, uma espécie de escritório em que Taylor representava a “fearless leader” (para a canção The Man do álbum Lover), uma bucólica “cabin” dos seus tempos de folklore/evermore, árvores, camas em formato gigante (para o momento de coração partido transmitido pelo último álbum), intercalados por confettis, disparos de fogo e fumo.
Pelo caminho entre os vários álbuns, não por ordem cronológica, houve uma jovem fã portuguesa que recebeu o chapéu (do vídeo de 22) de Taylor e que, em troca, lhe deu uma das muitas pulseiras da amizade que tinha nos braços. As pulseiras da amizade, fomentadas por Taylor Swift para promover um sentido de comunidade e de contacto entre os fãs, parecem transmitir o mesmo sentido de comunidade que se reflecte na forma como Taylor Swift interage com toda a sua entourage. O concerto de Taylor nunca foi só dela, nem nunca é só dela, e esse sentimento de presença e de pertença transparece tanto na sua actuação, como no próprio discurso da artista, ao raramente se referir a si como “eu”, mas sim como “nós”.
Entre mudas de roupa (e foram muitas), muitos metros percorridos e o seu batom vermelho sempre impecável, só ouvimos o cansaço de Taylor no encadeamento Come Back…Be Here / The Way I Loved You / The Other Side of the Door. Com a voz sempre perfeita, os passos sempre coordenados e o olhar sempre atento sobre o público (chamou a atenção para, pelo menos, duas situações entre o público), Taylor Swift teve tempo para se sentar ao piano para tocar champagne problems (da era folkore/evermore), que recebeu uma das muitas grandes ovações da noite, e para estrear ao vivo Fresh Out of the Slammer (de The Tortured Poets Department). Teve tempo para transformar todo o Estádio da Luz num mega recinto de dança, especialmente com a Era 1989, disco que a colocou definitivamente no Olimpo das artistas pop desta geração. Teve tempo para se manifestar, para quase se emocionar, para dançar muito com os seus músicos e dançarinos que a acompanham. As três horas e qualquer coisa de concerto terminaram com a era Midnights, com o orelhudo tema Lavender Haze e terminando com o fantástico tema Karma com um fogo de artifício no topo do bolo.
Entre juras de amor ao público, muitas palavras em português e a promessa de voltar sempre a Portugal, Taylor Swift parecia genuína e honestamente feliz de estar ali, no meio do relvado do Estádio da Luz. Talvez seja esse o segredo de Taylor Swift, além do seu inegável talento para compôr. Taylor Swift é uma mulher extraordinariamente rica, bastante bem-sucedida, poderosa e influente. Mas em cima do palco, por trás de todos os brilhos, Taylor demonstra ser perfeccionista, sonhadora e, de certa forma, vulnerável. Como todos os que ali estão. Naqueles momentos em palco, parece que só ela, a sua equipa e o público importam. E por muito que a mega produção, toda a parte cénica, toda a vertente de espectáculo sejam exímias, a honestidade é algo difícil de disfarçar.
Quem também pareceu estar a viver a noite das suas vidas foram os Paramore, responsáveis pela primeira parte. Ao contrário do que Hayley Williams achara, eram muitos os que cantaram em uníssono The Only Exception e houve até quem se tivesse deslocado ao Estádio da Luz só para os ver. Foram só 9 canções, com direito a uma cover de Talking Heads (Burning Down the House), mas a banda de Nashville não passou de todo despercebida e ajudou a acalmar a ansiedade de quem esperava pela grande estrela da noite.