Van Gogh, da ‘loucura’ à arte

por Sara Camilo,    30 Julho, 2016
Van Gogh, da ‘loucura’ à arte
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Vincent Willem van Gogh artista holandês, um ilustre pintor pós-impressionista notório pela personalidade excêntrica e pela influição de gerações e de movimentos artísticos futuros que marcam também a história como o abstracionismo, expressionismo e o fauvismo.

Artista conhecido pelas suas visões únicas, deixando-as impressas nas suas pinturas, Van Gogh forma visualmente uma estética muito própria e altamente reconhecível. O holandês frisa algumas tendências impressionistas, e deixa também algumas intenções modernistas muito relevantes e inspiradoras para toda uma nova geração artística.

A sua carreira artística tem uma duração bastante curta. Começa a pintar com 27 anos e fê-lo apenas uma década, década essa de inspiração, dedicação e expressão. Durante estes 10 anos de pintura, Van Gogh produziu cerca de 900 quadros, e aproximadamente 1100 trabalhos em papel. Neste processo, atravessou diversas crises existenciais, incluindo uma bipolaridade emocional e vários delírios psicóticos.

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Starry Night (1889)

Ao longo da sua vida, vendeu apenas um quadro. Após a sua morte, os quadros começaram a ganhar importância e valor, devido a uma crítica mais especificada do poeta Albert Aurier. Foi, sem dúvida, um pintor fora do seu tempo, que desenvolveu uma linguagem progressista, arrojada e fora de qualquer coisa que se fazia na altura.

Aos 27, começa a fazer as primeiras pinturas de uma forma autodidacta. Primeiramente, com a imitação de outras obras de diferentes artistas, mais tarde, dedica-se ao estudo de linhas, cores, formas e perspectivas, adquirindo as noções básicas. Anos depois, muda-se para Paris, e começa a viver com o seu irmão Theo. Este período torna-se crucial para a percepção e evolução dos quadros de Vincent. Este foi altamente influenciado por artistas neo-impressionistas, como Georges Seurat. Esta influência teve repercussões reais nas obras de Vincent, com os seus quadros a mudar de nuances e a ser mais luminosos, com utilização de cores mais claras. Assiste-se aqui ao início do uso do pontilhismo por parte do pintor.

Durante todo este período, também se dedica à criação de auto-retratos que lhe permitem explorar, não só a sua personalidade, mas também o desenvolvimento desta dita linguagem tão conhecida nas suas obras. A sua pintura revela uma nova perspectiva em relação ao homem e à natureza, e que o torna peculiar, devido a uma visão única sobre o que o rodeava.  

Vincent, de certa forma, sentia-se excluído pela sociedade em que vivia, como podemos ler nas cartas a Théo, seu irmão. Sentia-se incompreendido, sendo a sua única forma de comunicação a pintura. Esta era a possibilidade que permitia racionalizar os acessos a uma loucura que se expressava também na grande imaginação que possuía.

As cartas a Théo mantêm, desta forma, uma importância extrema, já que preservam, de certa forma, a herança artística de Vincent, revelando as mesmas os processos artísticos, as metodologias de trabalho e as intenções artísticas do pintor. O seu irmão foi uma das únicas pessoas a manter-se ao lado de Vincent durante as suas crises e a sua excentricidade abundante, sendo sempre foi a garantia e o suporte da carreira do irmão. As cartas revelam mais do que uma ligação consanguínea entre os dois, demonstrando uma relação de apoio incondicional.

As suas obras são de tal forma poéticas, que chegam a influenciar obras no século XX e XXI, como, por exemplo, o filme “A Clockwork Orange“, de Kubrick. Na cena da prisão, vemos automaticamente claras influências do pintor nesta obra cinematográfica. O círculo no chão e a forma como as personagens se mexem remete para o quadro de Van Gogh “Prisoners’ Round”, de 1890.

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Um frame de “A Clockwork Orange” (1971), filme de Stanley Kubrick, em confronto com “Prisoners Round” (1880), pintura de Vincent Van Gogh

Uma das características nos quadros de Van Gogh é a presença de movimento num quadro estático. Parece que tudo tem uma direcção, uma forma de se mover. As imagens parecem rondar-se por uma vertente dinâmica, provindo de uma visão que acarta múltiplas formas de observar a sua própria interpretação do mundo que vê. A paleta de cores traz uma nova interpretação das cores e formas. Vincent consegue expressar, através das cores, diferentes estados de espírito, deixando o espectador a oscilar entre sensações e emoções agradáveis e vice-versa.

É um artista que pinta o mundo, sem embaraço ou vergonha, sem timidez ou intimidação. Pinta a dor, a natureza, o homem e pinta-se a si. Fica numa pincelada intensa de cor e na pureza da sua expressão.

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