Yuval Noah Harari aprovou versão censurada de “21 Lições para o Século XXI” na Rússia

por Comunidade Cultura e Arte,    27 Julho, 2019
Yuval Noah Harari aprovou versão censurada de “21 Lições para o Século XXI” na Rússia
Yuval Noah Harari

Yuval Noah Harari, historiador israelita, autor de “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade” (2011) ou de “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” (2015), admitiu aceitar uma versão revista da sua mais recente obra, “21 Lições para o Século XXI”, na Rússia. Não só revista, mas censurada. Isto porque se supriram as referências e as críticas feitas a Vladimir Putin e ao estado russo, sendo substituídas por outras feitas a Donald Trump.

Em declarações ao The Guardian, o autor declarou que, se não tivesse aceitado, não lhe viabilizariam a publicação da sua obra no país. Na sua versão original, Harari havia criticado as campanhas de desinformação promovidas pelo Kremlin, assim como a invasão e anexação da Crimeia, no ano de 2014, referindo-se a ela como “a única invasão bem-sucedida de um grande poder geopolítico no século XXI, conseguindo instalar medo nos seus vizinhos“. Sobre o mesmo tema, no entanto, abordou a coincidência de circunstâncias que levou ao seu êxito, visto serem confrontados com uma resistência mais capaz noutras regiões da Ucrânia, gerando até uma animosidade neste país perante os russos.

“21 Lições para o Século XXI”, editado em Portugal pela Elsinore

Já na versão russa, os lapsos estratégicos russos estão omissos, assumindo que a Rússia não o considerou como uma invasão de um país estrangeiro, nem que tivesse existido alguma resistência da população local; e conseguindo arrecadar prestígio internacional, assim como pontos estratégicos relevantes. A pós-verdade, na versão original colocada ao lado de Putin e das suas declarações com pouco fundo de verdade em relação à invasão da Crimeia, não possui o seu exemplo, mas sim o de Donald Trump, sendo a presente era uma em que se vive na órbita de mentiras e de ficções. Menciona, assim, as mais de seis milhares de declarações falsas dadas após iniciar o seu período presidencial.

Antes das suas declarações ao The Guardian, os representantes do autor já tinham prestado um depoimento ao Newsweek, onde apontaram que o principal objetivo dele era zelar pelas ideias sobre as ameaças latentes da ditadura, do extremismo e de intolerância, procurando a maior diversidade de audiências possível, incluindo as que não viviam em regimes democráticos. “Alguns exemplos do livro podem ou alienar esses públicos ou promover a censura por certos regimes”. Ocasionalmente, permito a adaptação local e autorizo a alteração de alguns exemplos mais sensíveis — mas nunca os argumentos nucleares do livro“.

Complementam-se, assim, com as do The Guardian: “Tento o meu melhor para alcançar diversos públicos pelo mundo, procurando permitir que as minhas ideias e as minhas mensagens alcancem pessoas de vários países. Se pudesse, reescreveria os livros para cada país, mas, obviamente, não posso“. Os avisos do estado russo seriam-lhe feitos na altura em que o seu livro entraria em circulação, por via da crítica feita à invasão da Crimeia e que, como tal, a censura não permitiria a publicação e consequente distribuição do livro. “A tradução russa alerta os leitores quanto aos perigos da ditadura, da corrupção, da homofobia e do extremismo nacionalista. Não apoio a censura russa — tenho de lidar com ela“. No entanto, foi-lhe dito que algumas alterações que foram efetuadas não tiveram o seu consentimento: “Foi-me dito que, quando falo da conquista russa da Crimeia,conquista” foi substituído por “reanexação”, e que quando falo do meu marido, foi alterado para “parceiro”. Se isto é verdade, oponho-me veementemente a estas alterações sem autorização e farei o meu melhor para as corrigir“.

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