25 melhores álbuns de música em 2018 para a Comunidade Cultura e Arte
Mais um ano que chega ao fim. Nesta altura, é inescapável olhar para trás e reflectir acerca dos meses que se passaram, sobre as mais diversas matérias. Na nossa posição de divulgadores da cultura e arte, consideramos indispensável sumarizar os trabalhos que mais nos marcaram ao longo do ano.
Para a nossa classificação de álbuns, contabilizámos todos os álbuns e EPs lançados entre as duas últimas semanas de 2017 (dado que não poderiam fazer parte do top do ano transacto) e as duas primeiras semanas deste Dezembro de 2018. Este top resulta da contribuição de 15 dos nossos colaboradores, que mencionaram quase 200 álbuns diferentes, e reflecte a pluralidade da nossa redacção, ao passar por diferentes estilos, geografias e condições pessoais, unindo-os naquilo que para nós é crucial: a música.
Este é o top 25 dos melhores álbuns de 2018 para a Comunidade Cultura e Arte:
25. Nine Inch Nails – Bad Witch
24. SOPHIE – Oil of Every Pearl’s Un-insides
23. Nils Frahm – All Melody
22. Yves Tumor – Safe in the Hands of Love
21. U.S. Girls – In a Poem Unlimited
20. Parquet Courts – Wide Awake!
19. Rubel – Casas
18. Noname – Room 25
17. Interpol – Marauder
16. St. Vincent – MassEducation
15. Anderson .Paak – Oxnard
14. Linda Martini – Linda Martini
13. JPEGMAFIA – Veteran
12. MGMT – Little Dark Age
11. Blood Orange – Negro Swan
10. Kids See Ghosts – Kids See Ghosts
Kids See Ghosts é mais do que um álbum. É uma prova de que Kid Cudi e Kanye West estão prontos para iniciar uma nova etapa e o duo demonstra-o com um estrondo criativo. É um álbum que, ao contrário de tantos outros lançamentos de hip hop de 2018, é reduzido aos seus componentes indispensáveis e que consegue mostrar um conjunto de músicas coeso e excelentemente orquestrado. Seja a produção impecável ou as barras emocionais, o álbum de estreia do grupo Kids See Ghosts é sem dúvida (mais) uma prova do talento destes dois artistas e da sua sinergia potente. – Miguel Santos
9. Amen Dunes – Freedom
Em Freedom, a música de Amen Dunes liberta-se do ruído que caracterizava os seus álbuns anteriores. A produção límpida traz à tona não apenas belas melodias reminiscentes do soft rock dos anos 80, mas também as letras que as complementam. Muito à semelhança do progresso sónico do projecto, essas letras evocam transições para novas fases e a libertação de velhos conceitos, ao mergulhar em histórias antigas. O tom frágil de Damon McMahon adiciona ainda mais emotividade às canções, que parecem emanar uma nostalgia de brilho prateado. A conjugação de todos estes factores torna Freedom uma das experiências musicais mais pessoais do ano – e saber que grande parte dele foi escrito em Portugal torna-o ainda mais especial. – Bernardo Crastes
8. IDLES – Joy as an Act of Resistance.
O segundo álbum de originais dos IDLES, lançado no final de Agosto, traz para 2018 todas as reminiscências da sonoridade punk britânica dos finais dos anos 70. Visceral e intrépido, Joy as an Act of Resistance é uma crítica à sociedade; uma luta contra a homofobia, misoginia e racismo. Implicitamente, carrega a vulnerabilidade da perda e uma mensagem de positivismo e de amor próprio, sem lamechices ou floreados, sem livros de auto-ajuda ou esoterismo; só com alegria, como um acto de resistência. Para ouvir no volume máximo. – Linda Formiga
7. Father John Misty – God’s Favorite Customer
Depois do ambicioso Pure Comedy, Father John Misty voltou rapidamente à música e com muita coisa para dizer – desta vez sobre si mesmo. God’s Favorite Customer é um dos seus álbuns mais pessoais, em que o cantautor mostra que encontrou na música uma maneira de lidar com um dos seus períodos mais conturbados dos últimos tempos. As suas verdadeiras e cruas emoções escapam pelo meio das melodias sofridas do seu alter ego, numa catarse sonora que esbate a barreira entre o artista e o homem que o conjura. É o seu folk do costume aliado a uma honestidade brutal que transparece fielmente na sua escrita aguçada. – Miguel Santos
Depois do breakthrough de Puberty 2, a capacidade de Mitski conjurar emoções através das suas letras e melodias ríspidas já não era surpresa. A sequela poderia apenas repetir ou refinar a fórmula, mas o que Be the Cowboy vem fazer é demonstrar que a artista não necessita da distorção e força sónica para emocionar. Afastando-se um pouco das guitarras, Mitski cria assim canções mais sonicamente acessíveis e traz as letras para a linha da frente. Estas focam-se principalmente na solidão e formam retratos musicais incrivelmente tangíveis dessa sensação, tanto que não nos compadecemos apenas de quem ouvimos cantar, mas pomo-nos no seu lugar, obrigando-nos a rever a nossa própria condição. – Bernardo Crastes
Kali Uchis foi um nome que se ergueu este ano da mesma maneira que o fez SZA no ano passado. Neste seu primeiro longa-duração, a sul-americana conseguiu infundir num vasto número de géneros musicais as suas origens e preferências, permitindo uma articulação fluida entre, por exemplo, a tropicante “Body Language (Intro)”, a sonhadora “Gotta Get Up (Interlude)” e a urbana “Miami”. Vocalmente, Uchis navega suave mas preponderantemente sobre as canções, e mesmo com todas as excelentes colaborações do álbum, são sempre essa sua presença e eclética curadoria que mais se destacam. Isolation é um álbum que não conhece momentos insípidos e que num único instante nos leva a viajar sozinhos para um sem fim de estados de espírito – e talvez por isso Uchis tenha optado por lhe dar esse nome. – Sara Miguel Dias
2018 é, sem dúvida, o ano em que Rosalía surpreendeu o mundo com o seu flamenco cravejado de contemporaneidade. Primeiro, com o single “MALAMENTE – Cap.1: Augurio” (e a espectacular componente visual que o acompanhou), e depois com El Mal Querer, o seu segundo álbum, Rosalía cunhou um som novo. Esse som alia o cantar e o uso das palmas como motor rítmico tradicionais do flamenco às batidas e texturas electrónicas experimentais. Desde a utilização de motores como instrumento ao auto-tune que por vezes percorre a voz de Rosalía para lhe adicionar textura, o resultado é revolucionário: a abertura de um novo espaço onde experimentar com as raízes e as tradições musicais locais não só deixa de ser tabu, como se afigura como o novo grande caminho a percorrer. É a isto que sabe ver um novo panorama artístico materializar-se em directo. – Miguel Fernandes Duarte
Desde 2003, os Beach House têm vindo a tornar-se numa das mais conceituadas bandas dentro da cena indie, tendo a sua música amadurecido e criado uma identidade própria. O paradoxo presente nas suas músicas, tão caraterístico do dream pop de Victoria Legrand e Alex Scally, permanece em força em 7. As melodias animadas intercalam-se com as sombrias – por vezes, de alguma forma, em simultâneo -, criando a habitual atmosfera sonhadora. Esta odisseia de onze músicas marca a afirmação definitiva da banda. Liricamente mais pesadas, as faixas do álbum percorrem assuntos da sociedade atual, a solidão, a morte, a esperança. É um disco que transporta o ouvinte para a estratosfera, mas de uma maneira diferente ao que Beach House nos habituaram. – Sofia Matos Silva
2. Conan Osiris – Adoro Bolos
Cabe o mundo dentro da música de Conan Osiris. É isso que a torna tão fascinante: África, o leste europeu, a Índia, Portugal – geografias que cruzam o caminho da electrónica dançável e experimental e dão origem a um novo Pokémon (dos raros). É uma estrada que nos conduz por paisagens inesperadas, simultaneamente frágeis e impetuosas. Se é verdade que as palavras nos intrigam (celulitite, um bongo, os adorados bolos), é a música que nos desarma. O clube desconstruído de Conan Osiris tem tudo para ser exportado e ouvido além fronteiras (como a cena afro house da Príncipe tem conseguido). Queira o mundo dar ouvidos ao mundo aqui reunido. – Tiago Mendes
1. Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel & Casino
Tranquility Base Hotel & Casino foi, provavelmente, o álbum mais controverso do ano. Com direito às opiniões mais díspares, quer entre quem acompanha a banda desde cedo, quer entre quem se familiarizou com a sua sonoridade com AM – a anterior e, também, controversa criação da banda – o disco parece, no entanto, gerar consenso entre os fãs quanto ao facto de revelar uma nova faceta dos Arctic Monkeys. A banda apresenta-nos uma sonoridade mais consistente, que parece ter sido pensada ao milímetro, mas que não perde, ainda assim, o seu lado genuíno. Fruto de um processo evolutivo, Tranquility Base Hotel & Casino é um respirar de alívio para quem se habituou à fase inicial da banda e um reflexo da inquietação dos seus quatro membros com o mundo globalizado que, em 2018, mais do que no seu início de carreira, merece ser alvo de reflexão. – Marta Vicente
Podes ouvir aqui uma playlist com algumas das canções que fazem parte dos álbuns desta lista. Boas audições!