Celebração religiosa e adoração feminina de Beyoncé Mass e obras de Marina Abramovic na Bienal de Arte Contemporânea
O Teatro Nacional D. Maria II foi ontem palco da apresentação pública da 2.ª edição da BoCA – Biennial of Contemporary Arts.
Este é o evento que, desde 2017, estrutura uma série de actividades continuadas ao longo de cada dois anos, compostas por residências artísticas, programação, produção, circulação nacional e internacional, e programa educativo, colocando em diálogo as artes visuais, as artes cénicas, a performance e a música.
Pela voz de John Romão, o director artístico, foram dados a conhecer os 52 artistas que, de 15 de Março a 30 de Abril, irão mostrar as suas criações. Nesta 2.ª edição, às cidades de Lisboa e do Porto junta-se Braga, como cidade convidada, num gesto que propõe a descentralização da oferta cultural através da expansão da representatividade e visibilidade dos artistas e dos seus projectos.
Ainda mais comprometida em reforçar o seu carácter de transversalidade promovendo a sinergia entre territórios artísticos, entre instituições culturais, entre públicos e entre cidades, a programação da BoCA deste ano apresenta 22 estreias mundiais e 15 estreias nacionais de obras que apresentam escalas e formatos diversos.
Ao nomes já anunciados de Marlene Monteiro Freitas, Pedro Barateiro, Angélica Liddell e Gabriel Ferrandini, todos com novas criações construídas em contexto especial – juntam-se mais 48 dos quais Marina Abramovic com a instalação “Spirit House”. Em cada edição da BoCA, é apresentada novamente em Portugal uma obra que tenha uma relação histórica, longínqua, com o país. Agora, em 2019, a proposta é repôr em Lisboa uma obra que nasceu há 22 anos, num matadouro municipal das Caldas da Rainha.
Em estreia nacional, Beyoncé Mass, de Yolanda Norton, celebração religiosa de adoração feminina que usa a música e a vida pessoal de Beyoncé como uma ferramenta que promove um discurso de empoderamento sobre os marginalizados e esquecidos, particularmente as mulheres negras – as suas vidas, os seus corpos e as suas vozes; o escritor Gonçalo M. Tavares & Os Espacialistas partem do título “Os Animais e o Dinheiro” para apresentar três performances sobre as potencialidades artísticas do quotidiano; o conceituado fotógrafo Wolfgang Tillmans arrisca o seu primeiro live-act em Portugal; Jonathan Uriel Saldanha estreia uma nova criação em parceria com a Universidade Católica do Porto; as INMUNE estarão, pela primeira vez no Porto, na mala voadora e Maus Hábitos; Tania Bruguera apresenta o seu trabalho pela primeira vez em Lisboa: uma nova instalação pensada para o espaço público; o Coro Gulbenkian irá interpretar uma peça de Stockhausen no Lux.
São muitas as propostas de uma programação transdisciplinar que desafia linguagens artísticas, campos artísticos e os seus respectivos públicos colocando ênfase nas políticas de identidade, de raça e de género, continuando a reflectir sobre as dimensões ritualistas e do sagrado presentes na nossa contemporaneidade.
Mais uma vez, a BoCA propõe um conceito colaborativo entre instituições culturais – teatros, museus, galerias, centros culturais mas também discotecas, igrejas e espaço público, consideradas na sua dimensão cultural e artística.
Artistas Residentes
A BoCA a cada biénio estabelece uma relação com quatro artistas que desenvolvem trabalho em diferentes territórios artísticos ou pelo menos em suportes bastante diferentes, e com quem se pretende uma relação de longa duração.
Pensando em conjunto, conhecendo em maior detalhe as suas motivações criativas, ajudando a produzir novas criações em estreia em Portugal, promovendo a circulação nacional e internacional das suas obras e facilitando o contacto entre as suas práticas artísticas e os contextos académicos.
Os artistas residentes da BoCA no biénio 2019-2020 são Marlene Monteiro Freitas, Horácio Frutuoso, Diana Policarpo e Gerard & Kelly.
Programa Educativo
O programa educativo da BoCA 2019 tem várias actividades com destaque para a que teve início em Dezembro de 2018 e estende-se ao longo de 2019, através de projectos de diferentes escalas e com impacto em diferentes cidades. Concebido por John Romão, o projecto “Sente-me, Ouve-me, Vê-me” parte da série homónima de Helena Almeida, de 1978-1979, e visa homenagear através da música contemporânea uma das maiores artistas do século XX e XXI. Em parceria com 3 universidades de música, de 3 cidades (Lisboa, Porto e Braga) e reunindo 3 curadores (Ana Cristina Cachola, Delfim Sardo, Filipa Oliveira) e 2 compositores (Dimitrios Andrikopoulos e Diogo Alvim) que assinam a tutoria do projecto, “Sente-me, Ouve-me, Vê-me” tem como objectivo apoiar e promover a nova criação contemporânea portuguesa, centrada na relação entre as artes visuais e a música contemporânea, e permitindo tecer novas relações entre ambas.
No final de abril de 2019, será apresentado o concerto concebido pelos alunos de composição das 3 universidades de música.
Previstos estão ainda vários workshops, a Videoteca BoCA – onde se pode tomar contacto com registos integrais de obras anteriores dos artistas apresentados durante a bienal e outros artistas visuais e das artes
performativas relacionados com a programação – continuará no foyer do TNDMII estende-se este ano ao Centro de Documentação do Mosteiro S. Bento da Vitória / TNSJ (Porto).
Ainda as actividades do BoCA Sub21, um grupo constituído por jovens entre os 16-21 anos, que consiste num laboratório artístico onde se vive a construção de uma bienal e das obras dos artistas que a integram. Em 2019, este grupo continua a ter lugar na cidade de Lisboa, mas também se irá expandir para as cidades do Porto e de Braga, trabalhando com jovens dessas cidades.