A viagem de Sensible Soccers ao vivo com “Aurora”
Os Sensible Soccers regressaram mais uma vez aos palcos. A 3 de Abril, a Culturgest abriu portas para receber o concerto de apresentação do terceiro disco da banda, chamado Aurora.
Como já se estava à espera, o auditório estava absolutamente cheio, pronto para acolher toda esta contemporaneidade à qual já nos habituamos. Surgiram algumas dúvidas em relação ao auditório, já que a plateia tem que estar obrigatoriamente sentada. Mas assim que a música começa, entendemos a dimensão de um envolvente palco que nos embala e nos leva no seu belo jogo de luz e cor. Nada é mais extraordinário do que entender o espectáculo como um todo, em que a música se torna um elemento tão importante como os restantes.
Tudo começa a fazer sentido, o palco torna-se tão cativante e sedutor através da magnífica afinação do sistema de som. De repente, parece que estamos sozinhos na sala, com uma banda que toca exclusivamente para nós, numa simbiose apaixonante.
Desta vez, Sensible Soccers trazem-nos uma formação um pouco diferente que, em palco, resulta igualmente bem. A saída de Filipe Azevedo com a guitarra mudou um pouco a estética que já conhecíamos da banda, mas a adição de novos instrumentistas desloca e reinventa novas formas de interligar melodias. O baixo de André Simão a marcar uma espécie de modulação à volta da melodia, entra numa melopeia que se explora e preenche de mil texturas possíveis e imaginárias. Com Jorge “Cientista” Carvalho, que nos transporta na sua percussão, somos levados para o imaginário silvestre de sons mais intensos e optimistas. Depois, para ajudar a esta nova extravagância exótica, surgem Manuel Justo e Hugo Gomes, que nos comunicam uma dança instrumental entre letras e harmonias usando sintetizadores, programações e vozes, teclados e drum machine. Por último, Sérgio Freitas vem adicionar camadas mais complexas a todo processo electrónico.
Um álbum produzido por B Fachada, Aurora aparece com novos sons, dados através do novo papel do baixo e da adição da flauta e do clarinete (sintetizados). Tudo se reintegra, tornando o público mais interessado em novas sensações – tímbricas e rítmicas – improváveis, mas ainda assim bastante emocionais.
Durante o concerto, cada ouvinte criou o seu próprio mundo, numa paisagem de nevoeiro, entre cores fortes e luz pontual. Os pés dançam, a cabeça por vezes também, em músicas cheias de luz: “Como quem pinta” é um jardim de ideias intensas; sobrevoamos uma atmosfera repleta de formas marcantes em “Elias Katana” e “Luziamar”. Encontramos a voz no meio do instrumental em “Fenómeno de refracção”, e outras canções dignas de ficar no ouvido – ou nos pés ritmados – como “Chavitas”.
O quinteto apresenta-se de forma segura no palco e o álbum funciona muito bem ao vivo. A combinação das dez músicas de Aurora lembram uma fusão entre as memórias do passado, as futuras camadas dos sonhos e as presentes vibrações da esperança. A amplitude sonora chega a toda a sala com misturas, variantes, entre harmonia e melodia. Criam um vínculo electrizante que percorre universos afectivos capazes de encadear qualquer compasso ou palpitação.
Espalharam uma mensagem florescente e esperançosa, de paz e amizade, com espaço para o pensamento e com tempo para a afectividade.