Quarentena. Maduro Maio
Rui Cruz é humorista, stand up comedian e um génio (palavras dele). Escreve coisas que vê e sente e tenta com isso cultivar o pedantismo intelectual que é tão bem visto na comunidade artística.
Pronto, já podem ir dizer ao João Miguel Tavares que a data ao fundo do túnel que ele tanto queria está aí mesmo chegar e até se consegue ver melhor do que os últimos Governo Sombra. Pois é, parece que Maio vai ser o mês da viragem, o mês em que estas medidas de restrição e quarentena musculadas vão, tal como eu durante este tempo, abdicar dos alteres e mergulhar em pratos de nachos com queijo. Maio, o mês que vai deixar Abril conhecido apenas como aquele mês das águas mil, isto porque vai meter a malta toda a associar a liberdade à data em que se pôde, finalmente, sair de casa e ver se ainda existia sol, vento ou raspadinhas em vez de a associarem ao dia da Revolução dos Cravos. E andou o Salgueiro Maia a apertar-se todo para caber na chaimite para isto… Ingratos!
Confesso que me soube bem ouvir hoje o Costa e o Marcelo a falarem na progressiva reabertura do país, coisa que também defendo. Na verdade, já a esperava há umas 2 semanas, mas antes “tarde” do que nunca. Era impensável continuarmos todos fechados em casa até à descoberta de uma vacina (que pode até nunca chegar), não só porque essa coisa abstrata e meio mística a que chamam de Economia ia rebentar, como também porque as próprias pessoas não iam aguentar. Há um limite para o número de Legos que uma família sem o sobrenome Markl pode montar sem pelo menos um dos elementos se lembrar de esventrar o resto e fazer um puzzle com os membros decepados e um limite para o número de actividades onanistas que se conseguem levar a cabo sem desidratar.
O caminho para uma a criação de uma semi imunidade grupo está traçado. Reabertura de creches e aulas presenciais de 11.º e 12.º anos, lojas de comércio de bairro a abrirem portas, regresso do atendimento ao público em repartições públicas, espaços culturais com lugares marcados a poderem reatar a sua agenda cultural com algumas alterações e horários rotativos nos empregos que não possuam a hipótese de teletrabalho. E tudo isto é positivo, especialmente porque estou mesmo a precisar de ir ao barbeiro.
No entanto, uma coisa que as pessoas têm de estar à espera é do aumento do número de infectados que vamos ter no(s) mês(es) seguinte(s). Mesmo usando mais máscaras do que a Juve Leo, mesmo mergulhando em mais álcool do que qualquer entrevistado da “Liga dos Últimos” ou tendo mais luvas do que Sócrates os números vão aumentar, porque também é necessário que aumentem para se criar a tal imunidade. E nessa altura cabe-nos a nós e, especialmente, ao Governo não ter medo e não voltar atrás, correndo o risco de prolongar a epidemia ad aeternum. Os hospitais de campanha estão montados, os testes e ventiladores comprados, os médicos preparados, portanto está na hora. Quer dizer, está na hora se nós, o povinho, não formos aquilo que costumamos ser, uns selvagens que mais facilmente cumprem aquilo que lhes diz a Cristina Ferreira ou o Goucha do que qualquer autoridade competente. Porque sim, precisamos de criar imunidade de grupo e de voltar a ter uma vida, dentro dos possíveis, normal, não precisamos é de andar a lamber corrimões e a beijar e a abraçar tudo o que mexa. Somos portugueses, não somos utilizadores verificados do Tik Tok.
Agora, fico triste é por causa dos bichos. Com todos a voltarmos à rua, vão acabar aqueles vídeos com animais selvagens no meio de cidades vazias e é pena. É que agora a única maneira de ver javalis e corças a passearem no Cais do Sodré é voltar a deixar que me minem a bebida.
Aqui ficam as sugestões do dia:
Comédia:
Sam Kinison – Breaking the Rules
Música:
The Smiths – The Queen is Dead
Cinema:
Rob Reiner – This is Spinal Tap
Literatura:
Rui Zink – Manual do Bom Fascista