The Black Wizards: o rock à antiga rejuvenesce em ‘What The Fuzz!’
Os The Black Wizards andavam ainda bem longe da vida quando Led Zeppelin, Jimi Hendrix ou Janis Joplin rodavam nas grafonolas de meio mundo. Podiam ser mais uns filhos da geração digital; contudo, parecem ter sido transportados por uma máquina do tempo. Joana Brito (voz e guitarra), Paulo Ferreira (guitarra), João Mendes (baixo) e Helena Peixoto (bateria) expressam-se através das camadas rockeiras que caracterizaram os 60’s e os 70’s.
Em 2015, a edição de Lake Of Fire projectou a banda para um estatuto consideravelmente mais elevado. O lançamento desse primeiro longa-duração confirmava o potencial já demonstrado no EP Fuzzadelic. Quem já viu os The Black Wizards ao vivo compreenderá que, neste caso, a juventude não é sinónimo de imaturidade; a presença e a técnica dos quatro elementos levanta-os facilmente para outros palcos. Apesar de a voz se assumir como uma componente absolutamente incontornável, os restantes instrumentos incorporam semelhante importância – em comum, o facto de todos serem executados por músicos tecnicamente dotados. Poderíamos escrever um artigo para cada um deles, quer pela sua juventude e irreverência, quer pelos atributos técnicos. Esta fusão de músicos só poderia dar um bom resultado; aliás, deu mesmo, e isso é evidente no segundo disco da banda, agora lançado: What The Fuzz!
Os primeiros acordes de “Freaks and Geeks” transportam-nos para rajadas de vento encorajadas pela sujidade do fuzz. Pelo meio, vão-se chutando solos, e harmonias reminiscentes de lendas como Hendrix ou Page. Constitui um desafio adjectivar a voz de Joana Brito, com a sua capacidade camaliónica que lhe permite viajar agilmente por entre agudos roucos e graves arrojados.
A canção seguinte entra com uma bateria assertiva, sobrepondo-se aos feedbacks das guitarras; o rebentamento resulta em riffs pesados e quebrados. “The Story of a Hopeless Dreamer” alonga-se e termina com uma avalanche composta por compassos à stoner. Atendendo ao alinhamento do álbum e ao género tocado pela banda, “Floating Blues” é uma faixa previsível. No entanto, trata-se de uma canção tremendamente bonita, onde a alma do blues pisca o olho à “Planet Caravan” dos Black Sabbath. A ligação com “Build Your Home” faz-se através de “Just Not Today”, um curto interlúdio que puxa mais pelas brasas do country. “Build Your Home” volta a colocar o pé no acelerador do rock, carregado por um baixo que tresanda a groove, e pelos solos de guitarra intemporais.
Para nos lembrarmos deste álbum, bastará ouvir “I Don’t Wanna Die”, uma canção orelhuda, onde as guitarras se desdobram em solos pelo meio de teclados psicadélicos. “Fire” e “Everything Is Good Until Trouble Comes” são canções rock sem espinhas: a primeira entra com dinâmicas rítmicas desvairadas, e a bateria de Helena Peixoto nunca perde o fôlego até se atirar ao chão em breaks sucessivamente progressivos; já a última canção do disco prolonga-se durante uns belíssimos dezasseis minutos, e gradualmente chega a um destino onde a bateria dita as regras que o fuzz deve cumprir.
Uma cascata de rock datado, mas refrescante e detalhadamente modernizado, em que os tempos variam levemente, não dando espaço a mudanças inconscientes ou abruptas. O quarteto nortenho transpira psicadelismo em cada nota, sem nunca descalçar as botas do rock. Estamos em 2017, e What The Fuzz! é um disco obrigatório para os fãs deste género.