Uma história: o peido e o cinema
Flatulência e arte não são termos que, à primeira vista, encontrem uso ou inspiração um no outro. A flatulência, também conhecida como flato ou o termo mais coloquial “peido” ou o mais amável, “pum” – junto com outros como bufa ou traque – apesar de gozar de uma presença universal no nosso dia-a-dia, parece não encontrar um lugar seguro em obras de expressão artística.
Em média, um humano peida-se 14 vezes por dia. Isto quer dizer que, a cada 24 horas, a espécie humana é responsável por cerca de 98,000,000,000 flatulências que escapam do nosso corpo para a atmosfera – isto sem contar com a contribuição da maior parte dos animais à face da terra. No entanto, considerando a sua universalidade, o peido continua ostracizado e limitado a um uso demasiado específico e castrador. A sua referência e utilização é, quase sempre, remetida para efeitos de escape cómico. Mesmo assim são raros e só realizadores mais ousados são capazes de perceber o potencial que encerram.
O novo vídeo ensaio da Fandor, “Gone with the wind”, criado por Luís Azevedo, e que podes ver no fim de artigo, aborda a utilização do peido ao longo da história do cinema e o seu espectro de possibilidades. De comédias a dramas, a flatulência no cinema é uma realidade mal explorada e, ao mesmo tempo, um poço infindável de oportunidades. Numa altura em que os realizadores procuram, quase desesperadamente, criar algo único ou diferente, mas não exactamente original, um conselho antigo ainda reina: por vezes compensa voltar a coisas simples e elementares.
O resultado pode não ser aquele a que estamos habituados, mas o que é arte se não um farol para iluminar o caminho? Um vento, uma brisa, um odor de coisas ainda por vir? Um vislumbre do futuro. A expressão do que está dentro de nós e que, de outra forma, nunca arriscaria sair. Para fazer arte talvez, arriscaria eu, às vezes é necessário dar uns peidos.