Câmara de Lisboa assegura disponibilização do espólio da Biblioteca-Museu República e Resistência
A Câmara de Lisboa disse hoje que parte do espólio da Biblioteca-Museu República e Resistência, que encerrou em 2019, vai ser disponibilizado a partir de janeiro de 2023 na biblioteca de Alcântara, mantendo-se o restante no Museu do Aljube.
Esse espólio “fica dividido entre o Museu do Aljube e a biblioteca de Alcântara, nada ficou em causa”, afirmou o vereador da Cultura da Câmara de Lisboa, Diogo Moura (CDS-PP), no âmbito de um debate de atualidade sobre o encerramento da Biblioteca-Museu República e Resistência (BMRR), requerido pelo PCP, na Assembleia Municipal.
Na abertura do debate, a deputada do PCP Natacha Amaro criticou o “silêncio ou informações vagas e imprecisas, tanto deste executivo como do anterior”, relativamente ao futuro da BMRR, que foi encerrada há três anos devido à necessidade de obras no edifício.
“Ficámos a saber que no espaço físico da biblioteca, no bairro do Rego, seria inaugurado um espaço denominado ‘Avenidas’, o primeiro do programa ‘Um Teatro em Cada Bairro’. Nenhuma proposta foi levada a reunião de câmara ou sequer uma informação, nada foi dito aqui na assembleia, fosse sobre o futuro da BMRR, fosse sobre este tal novo espaço que inaugurou no sábado passado”, declarou a comunista, considerando que este é um processo que “envergonha a cidade”.
Natacha Amaro lembrou as recomendações aprovadas pela assembleia para a manutenção da BMRR como serviço municipal individualizado, “com museu, biblioteca e centro de investigação sobre a I República e a ditadura”, com financiamento adequado à sua atividade.
“É inadmissível que um espaço como a BMRR desapareça desta forma”, defendeu o PCP, questionando sobre a disponibilização do acervo desta biblioteca, não só as do espaço do Rego que não foram para o Museu do Aljube, incluindo a coleção de Dulce Ferrão, como também as do Espaço Grandela (encerrado em 2014), em São Domingos de Benfica.
As preocupações do PCP foram acolhidas pelos grupos municipais do PEV, BE, PS, Livre e movimento Cidadãos por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), inclusive sobre o futuro da BMRR e sobre a possibilidade de ter uma biblioteca generalista no bairro do Rego, na freguesia lisboeta das Avenidas Novas.
Em resposta, o vereador da Cultura da Câmara de Lisboa disse que a BMRR fechou para obras em 2019, altura em que foi decidido que grande parte do espólio iria para o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, enquanto a restante parte seria alvo de um processo de inventariação.
Diogo Moura adiantou que a Biblioteca-Museu República e Resistência “era uma das bibliotecas menos usadas na cidade de Lisboa e menos procurada por investigadores”, indicando que a coleção de Dulce Ferrão e o espólio de cassetes e cartazes serão disponibilizados, na totalidade, a partir de janeiro de 2023, na biblioteca de Alcântara, espaço que pretende manter os valores associados à I República e que está ligado à democracia e à liberdade.
“A questão da investigação e do acesso a todos não ficam em causa”, assegurou.
Relativamente à inauguração do espaço “Avenidas”, o primeiro equipamento do programa “Um Teatro em Cada Bairro”, que foi instalado no edifício da BMRR, o vereador afirmou que o bairro do Rego precisava de “um espaço cultural de proximidade”, aberto todos os dias, a trabalhar com a comunidade, num sistema de cogestão entre a Câmara de Lisboa e a Junta de Freguesia das Avenidas Novas.
“No Programa Estratégico Biblioteca XXI não está prevista a abertura de uma biblioteca naquele bairro”, acrescentou o autarca do CDS-PP.
Diogo Moura reforçou que “não há nenhuma desvalorização” pela memória e pela história do país, garantindo que todo o espólio da Biblioteca-Museu República e Resistência está devidamente documentado.