Diabo na Cruz, um regresso mais que celebrado
A última quinta-feira, dia 15 de Novembro, ficou marcada pelo regresso de Diabo na Cruz aos palcos. O novo álbum, “Lebre”, emergente de um período de pausa prolongado, é o pretexto para a estreia nos Coliseus. Habituados tanto às maiores como às mais pequenas salas do país, o ano em que desapareceram de cena não se reflectiu na energia que transmitiram pela noite fora. A abertura fez-se com o disco que acabamos de conhecer: um regresso aos sons tradicionais dos primeiros álbuns, que acabariam por sofrer modificações em “Diabo na Cruz”. Os tão conhecidos temas “Os Loucos Estão Certos” e “Dona Ligeirinha” cedo se fizeram ouvir, despertando o mais completo sentimento antagónico, entre a nostalgia de quem acompanhou o seu nascimento e o entusiasmo de, passados anos, voltar a escutá-los pelos próprios.
Sendo acompanhante do percurso da banda, principalmente nas pequenas salas de lugares fora das grandes cidades, posso afirmar que, mesmo não existindo nada como um bom concerto intimista, Diabo na Cruz soube cativar o Coliseu e justificar o tempo que deixara os fãs à espera. Em principio a tarefa estava facilitada porque – arrisco-me a afirmar – mais de metade das pessoas que enchiam a sala eram seguidoras do trabalho da banda. Na verdade, em comparação a muitos dos concertos de música portuguesa que assisto onde existe uma diferença clara entre o público das primeiras filas e o que se acumula depois, apercebi-me que tendo assistido mais no centro do Coliseu, toda a gente cantava as músicas com a mesma energia de Jorge Cruz, vocalista e compositor das letras, o fazia em palco. O tempo de ausência parece-me, neste sentido, ter sido bastante frutuoso como contributo ao reforço da identidade enquanto banda e a aproximação ao público que, disperso neste boom da música nacional, pôde concentrar toda a sua atenção naquele momento.
A setlist destacou, especialmente, o álbum “Virou!” onde, para além dos já referidos temas interpretados, constava “Corridinho de Verão”, “Fecha a Loja” e “Regresso da Lebre” que, aliás, justifica o título dado a este último lançamento. Para além desses, não faltaram “Duzentas Mil Horas”, “Vida de Estrada” e “Saias”. Do Roque Popular, fez-se ouvir, num momento de acalmia, “Luzia” e “Fronteira”. Quando o encore já tinha acontecido e o concerto parecia estar encerrado, o público não se conformou e, enquanto o palco permanecia escuro, cantou o final de “Fecha a Loja” conseguindo, por fim, que o Jorge Cruz regressasse com o novo tema “Balada”, juntamente com o pianista João Gil.
As intervenções foram poucas e funcionaram, apenas, de notas prévias aos temas interpretados. Ainda quando o público não tinha recuperado do cansaço de dançar a música que acabara de ouvir, já a banda partia para um novo tema. A confusão gerou-se quando o Jorge disse “E para quem se está a perguntar como será o comboio no Coliseu…” e, começando a tocar “Chegaram os Santos”, incentivou o público, que logo aderiu, a mover-se do seu lugar.
Após este regresso intenso e marcante da banda, resta-nos apenas esperar que no seguimento dos Coliseus mais concertos sejam anunciados. É preciso não deixar morrer este folk que, adaptado à modernidade dos tempos, recupera tradições, instrumentos e vivências do país, numa experiência aberta a todos aqueles que se quiserem juntar a este bonito “festim”.