Entrevista. Manuel Clemente: “Sempre gostei muito de brincar com as palavras”

por Magda Cruz,    23 Junho, 2020
Entrevista. Manuel Clemente: “Sempre gostei muito de brincar com as palavras”

Decidiu largar os trabalhos em multinacionais e dedicar-se à escrita depois de um jornada de voluntariado. O autor de “Se sentes, não hesites” tem um novo livro com que quer ajudar os leitores, sem cair na ideia preconcebida de auto-ajuda. Manuel Clemente, que é apologista de que já está tudo inventado e que tenta dar a sua forma ao que escreve, fala da escrita do livro “Em caso de dúvida escolhe o que te faz feliz”, em entrevista ao podcast “Ponto Final, Parágrafo” 

Confere a entrevista completa, em podcast, conduzida pela Magda Cruz: 

Manuel Clemente tem 31 anos e conta agora com um segundo livro, “Em caso de dúvida escolhe o que te faz feliz”.  Sendo apologista de que já está tudo inventado, tenta dar a sua forma ao que escreve, abordando ideias de forma criativa. 

Entre textos ou mesmo dentro deles, tropeçamos constantemente em trocadilhos de palavras e com o desconstruir de ideias, como “A vida não é justa, vive à larga” ou “A vida é demasiado curta para não ser cumprida”. São frases partilháveis nas redes sociais, “utilizando o mínimo de palavras”, já que Manuel gosta de comunicar com os leitores por estas plataformas. Tenta que a pessoa pare e pense “«olha, bem visto», despertando a atenção e dando uma nova perspetiva para aquela temática”, nota.

No livro publicado há um ano, “Se sentes, não hesites”, mistura prosa, poemas que preenchem uma ou duas páginas e, em contrapartida, poemas de poucas linhas entre os capítulos. “Sempre gostei muito de brincar com as palavras. Foi uma das coisas que me fizeram ter vontade de escrever, algo que me diverte imenso”; conta o também cronista no jornal PÚBLICO.

Há novo livro: “Sinto que está melhor que o «Se sentes, não hesites»

Sobre o novo livro, “Em caso de dúvida escolhe o que te faz feliz”, que era para ter saído em maio, um ano depois do primeiro livro, Manuel adianta alguns pormenores: “Estou muito satisfeito com o resultado final. Vai ser muito na onda do que foi o «Se sentes, não hesites», porque é realmente a escrita e o formato com o qual mais me identifico. Tem mais storytelling sobre mim, ou seja, vou buscar mais episódios concretos que vivi. Faço mais referência a passagens da minha vida também para me obrigar a revisitar esses episódios”. 

Assim, uma das diferenças para o primeiro livro é a maior abertura da vida íntima. O subtítulo do novo livro remete a essa ideia: “Viver é muito mais do que acrescentar anos à idade”.

O livro já está disponível em algumas livrarias online, mas a data oficial do lançamento é o terceiro dia de julho. “Sinto que está melhor que o «Se sentes, não hesites». Para todos os efeitos, foi o primeiro. Ainda não tinha experiência a escrever livros. Foi um bocado empírico. Neste segundo, sinto que estou mais maduro, que a escrita está mais apurada. Quem gostou do «Se sentes, não hesites» vai adorar o novo livro”, afirma o autor, mesmo sabendo que é suspeito na matéria.

As apresentações do livro ainda são uma incógnita, mas Manuel mantém-se otimista: “É melhor andar a promover o livro ao sol do que à chuva, brinca.

A estreia no mundo editorial

O primeiro livro fornece parte do historial de Manuel. Em 2011, terminou a licenciatura em Gestão e Engenharia Industrial. Andou à procura da faísca no trabalho – tarefa que achava que ia ser relativamente fácil enquanto estudava. Ganhou a alcunha “salta pocinhas”, dada pelos amigos, que o viram nos quatro anos seguintes, a ter três empregos. Nenhum lhe deu satisfação. 

Ainda a trabalhar, tornou-se voluntário na Refood, um movimento que, tendo várias vertentes, se foca no recolher de comida nos restaurantes e supermercados e a faz chegar a quem precisa dela. Era nestas tarefas que passava algumas noites, depois do horário de trabalho. Em vez de se sentir mais cansado, experimentou um aumento de energia. 

Há quatro anos, deu o salto no voluntariado. Sentiu que tinha de ir para Cabo Verde, não hesitou e foi com a “Associação Para Onde?” que ficou três meses na Ilha de Santiago. Um encontro com um rapaz chamado Oliver, que disse a Manuel que queria escrever um livro, pareceu o prenúncio de algo para Manuel. 

De volta a Portugal, nem um ano numa empresa se completou quando voltou a sentir que faltava preencher algo. A escrita e o voluntariado foram como uma argamassa que completaram a construção que é a vida de Manuel. Na página Semtimenos foi escrevendo pequenos textos. 

As primeiras ideias para o primeiro livro foram escritas num guardanapo, durante um almoço com o editor. “A minha escrita é muito associada ao preconceito da auto-ajuda. O termo “auto-ajuda” está muito mal visto, por assim dizer, a nível da escrita”, mas salienta que “nem sempre é com um tom pejorativo”. 

Manuel acha que não foi um autor em específico que deu má fama aos livros de auto-ajuda. “Provavelmente, ao longo de muitos anos, enveredou-se por um discurso de facilitismo: «basta acreditares em ti…», «Sê tu próprio…», «Confia…», «Acredita…», »Aceita…e vai estar tudo bem». Havia uma espécie de floreado que se criava neste tipo de conteúdo que muitas vezes acabava por ter o efeito contrário porque induzia as pessoas a acreditarem que era fácil, que era só fazer isso e já está.” 

O escritor tenta dar a volta a este atalho de escrita: “É um exercício constante e é, acima de tudo, dando o meu exemplo, que é a melhor coisa que posso dar. É dizendo «eu passei por isto, senti isto e foi isto que aprendi». É mais numa ótica de partilha e não tanto de me colocar num pedestal e dizer faz assim e se o fizeres, a tua vida vai ser melhor. (…) Isso é induzir as pessoas a erro. É uma ilusão.” 

No podcast, Manuel Clemente fala de três livros que marcaram a vida do escritor. A cada etapa da vida corresponde um livro, começando com “O Poder do Agora – Guia para o crescimento espiritual”, de Eckhart Tolle; passando a “O Santo, o Surfista e a Executiva”, de Robin Sharma; e acabando a viagem com o livro Silêncio na Era do Ruído”, do escritor, explorador norueguês e dono de uma editora, Erling Kagge, que é também o primeiro homem a subir aos três “polos”- Polo Sul, Polo Norte e Evereste. 

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