“Everything Everywhere All at Once” mostra-nos as coisas que dão realmente significado à nossa vida
Este artigo pode conter spoilers.
Cada vez parece tudo mais insignificante. A nossa vida numa rocha flutuante no meio de um espaço infindável que compõe um universo que, pelo que parece, nem é o único que existe. Parece que não há sentido… mas será mesmo assim? Daniel Schienert e Daniel Kwan, em “Everything Everywhere All at Once” (em português: “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”), levam-nos numa viagem impressionante e louca por esta questão existencial que nos afeta na nossa contemporaneidade. Seguimos a história de Evelyn, uma imigrante chinesa nos EUA dona de uma lavandaria em crise financeira, interpretada pela atriz Michelle Yeoh, que se encontra no meio de uma aventura que contrasta com a vida medíocre que tem vivido, em que contacta com outros universos dentro do multiverso.
O conceito de multiverso é algo que tem proliferado pela cultura pop à nossa volta (principalmente pela mão da Marvel) e, superficialmente, este filme pode parecer só mais um filme de ficção científica sobre este conceito. No entanto, este é apenas um meio para alcançar um fim, pois “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” não é simplesmente um filme sobre o multiverso. É um filme sobre a humanidade, sobre a família e sobre o sentido da vida — se este existe ou não e qual é (ou sequer se isso importa).
Através dos mais pequenos e cuidadosos detalhes, esta história move-nos profundamente, desde os momentos mais hilariantes de comédia disparatada aos momentos mais dramaticamente emocionantes, e fá-lo de uma forma natural. “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” é um filme de ficção científica, um drama familiar, um filme de ação, uma comédia, e é tudo em todo o lado ao mesmo tempo. Este filme incorpora verdadeiramente o enunciado do seu título, fluindo naturalmente entre as suas várias dimensões cinematográficas.
Com um humor que faz rir às gargalhadas, cenas de luta bem coreografadas, uma cinematografia que faz várias referências a estilos de cinema diferentes, como, por exemplo, o cinema de Wong Kar-Wai, com uma montagem bem feita e interpretações comoventes, com especial destaque para o desempenho da atriz Michelle Yeoh. Tudo é usado para construir uma história filosoficamente profunda ao mesmo tempo que entretém e apresenta a derradeira questão: qual é o sentido de tudo? Qual o sentido de viver se existem tantas mais galáxias e, para além disso, tantos mais universos? Será a nossa vida mesmo insignificante?
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” acende algo em nós — talvez uma esperança? —, e somos lembrados da nossa pequenez, mas pequenez não significa insignificância. O filme de Daniel Schienert e Daniel Kwan mostra-nos as coisas que dão realmente significado à nossa vida: a nossa família, as nossas amizades, o amor, as nossas ideias, os nossos problemas, os nossos conflitos. As nossas revoluções não são para nada, têm um sentido. “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” faz-nos ir ao encontro do cerne do existencialismo e, através do argumento versátil de Scheinert e Kwan, diz-nos que as nossas vidas e os nossos problemas têm um sentido na sua própria individualidade e pequenez. É a vida. É uma vida. É a nossa vida. É isso tudo, simplesmente.