IndieLisboa: ‘James White’
James White, primeiro filme do realizador americano Josh Mond, era um dos filmes antecipados da Competição Internacional deste ano do IndieLisboa já que tinha sido premiado em diversos outros festivais, nomeadamente com o Next! Audience Award no Sundance Film Festival e o Don Quixote Award no Locarno International Film Festival.
Com os seus planos quase sempre centrados na cara do protagonista, que dá nome ao filme, é impossível não reconhecer a prestação de Christopher Abbott como, provavelmente, o melhor aspecto desta longa-metragem. É ele, juntamente com Cynthia Nixon, que desempenha o papel de mãe, que impede o filme de se tornar simplesmente em mais uma simples história comovente de alguém a lutar contra uma das doenças mais temíveis da actualidade. Até porque neste caso há duas grandes lutas: a da mãe, que com a ajuda constante do filho, faz face à doença e a de James face a si próprio e ao seu carácter autodestrutivo. Desse paradoxo reside aquela que é a maior força do argumento, culminando num último quarto de filme potentíssimo, duro e, em certa parte, cruel.
A história, meio autobiográfica, já que o próprio realizador, Josh Mond, decide começar a pensar neste filme depois de perder a sua mãe para o cancro, não tem, no entanto, muito mais valias além dessa luta da personagem principal. A certa altura James conhece uma rapariga, Jayne, ainda a frequentar o liceu, e a relação deles nunca é bem contextualizada, com ela a aparecer e a desaparecer de cena até que, no fim, parece ser esquecida, não voltando o público a saber do seu paradeiro. A personagem acaba assim por se tornar francamente forçada e imposta à história por necessidade de existir algum parceiro feminino.
Parte da confusão na narrativa, que nalguns casos até causa um efeito positivo (como no caso de algum do mistério que rodeia o grande amigo de James, Nick), deve-se aos saltos temporais entre os meses do ano dados durante o filme. Esta abordagem, permitindo ao realizador contar toda a sua história estendida por alguns meses, acaba por não permitir o desenvolvimento de algumas partes da história que provavelmente mereceriam ser melhor contadas ao longo do filme, não sendo raras as vezes, após esses saltos temporais, em que as novas circunstâncias não são bem explicadas.
Contas feitas, uma história relativamente convencional que, fruto de boas interpretações e da força da sua parte final, acaba por conseguir, pelo menos, obrigar o público a reflectir. Abaixo podem ver o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=BRRTnT3r5Xo