Livraria Miguel de Carvalho e Pó dos Livros, duas livrarias independentes, encerram no fim do mês

por Comunidade Cultura e Arte,    2 Março, 2018
Livraria Miguel de Carvalho e Pó dos Livros, duas livrarias independentes, encerram no fim do mês
Miguel de Carvalho, fotografia de Vitorino Coragem

Há muito que as vendas online ultrapassaram a venda ao balcão e a pressão do turismo tem feito subir os preços das rendas. Estes são talvez dois dos grandes factores que fazem com que os livreiros antiquários abandonem o negócio ou que mudem a sua estratégia.

Este mês ficámos a saber que mais duas livrarias vão fechar: Pó dos Livros, em Lisboa, e a Livraria Miguel de Carvalho, em Coimbra.

A Pó dos Livros foi inaugurada em 2007 na Avenida Marquês de Tomar, mais tarde mudou-se para a Avenida Duque de Ávila. No espaço, gerido por Jaime Bulhosa, pode-se ainda comprar livros de grandes editoras e independentes, ou até edições mais raras.

No blogue da Pó dos Livros, Jaime Bulhosa desabafa, usando as metáforas como recurso para se expressar: “Setembro de 2007, abrimos as portas, e já nessa altura planava sobre nós o abutre. Nunca passava para cá da linha da porta. No entanto, rondava de perto, dava uma bicada, ou duas, nos nossos pés e ficava inquieto à espera que chegasse a hora fatal, grasnando num som surdo.

Agora, em 2018, a livraria fecha as suas portas a 31 de Março, “o dia da liquidação total”, e a livraria “passará a ser uma mera recordação, um pedaço de pó na memória de poucos”, refere Jaime Bulhosa no seu blogue.
O encerramento do espaço acontece pela quebra nas vendas, o que torna difícil suportar a renda e outros custos, e a concorrência dos grandes grupos livreiros e das vendas online.

Pó dos Livros, fotografia de My Own Portugal

Já a livraria Miguel de Carvalho, que tem quase 50 mil títulos, é gerida por Miguel de Carvalho desde 2001, num edifício oitocentista da Baixa de Coimbra, e também vai fechar portas. Para além da venda de livros, o livreiro promovia exposições, organizada tertúlias e lançamento de livros no espaço.

A ideia era obrigar as pessoas a largar os monitores dos computadores (…) e felizmente até consegui, mas as políticas culturais de Coimbra confundem cultura com turismo e o público da cidade deixou de vir a um centro histórico que não tem nada a oferecer”. explica Miguel de Carvalho ao Público, e acrescenta ainda: “o comércio de qualidade desapareceu da Baixa há cinco ou seis anos e foi substituído por lojas de artigos de cortiça e suposto artesanato”.

Em 2017, numa entrevista conduzida por Diogo Vaz Pinto, ao jornal i, Miguel de Carvalho já tinha uma ideia clara de como se movimentava o mercado nos últimos anos “as pessoas deixarem de vir às livrarias, o que não quer dizer que não leiam” e até os clientes mais antigos mudaram os seus hábitos de consumo para o online, pode ler-se na entrevista.

Agora, em 2018, e depois de encerrar a sua livraria em Coimbra, a 31 de Março, Miguel de Carvalho vai comercializar o seu acervo bibliográfico na sua livraria online e ainda pretende abrir a visitas, mediante marcações por email ou telefone, o depósito de livros que possui na Figueira da Foz.

Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho, em Coimbra

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