Novo número da revista Electra aborda “o estado da democracia”, os desafios e riscos que esta enfrenta
Habituámo-nos a escutar um coro de vozes que nos fala da “crise da democracia”, do “mal-estar da democracia”, do pouco saudável “estado da democracia”. Os regimes democráticos aparecem ameaçados por forças cruzadas e fenómenos convergentes que põem em causa os próprios fundamentos da democracia representativa. Por toda a parte, reconhece-se uma mistura explosiva de plutocracia com tecnocracia, populismo e identitarismo, consumismo ilimitado e insustentabilidade ambiental, fractura social e ruptura geracional, corrupção excedentária e manipulação mediática.
É desta situação propícia a grandes diagnósticos que nasce o tema central desta edição da revista “Electra”: O estado da democracia. Pretende-se questionar as várias derivas actuais da democracia, os desafios e riscos com que ela está confrontada, num dossier que conta com textos e entrevistas de Wendy Brown, Yves Citton, Colin Crouch, Dario Gentili, Chantal Mouffe, Christophe Pébarthe, Barbara Stiegler, Paulo Tunhas e Manuel Villaverde Cabral, e um editorial de José Manuel dos Santos e António Soares.
A “Primeira Pessoa” desta edição é Mário Lúcio Sousa, músico, cantor, poeta e ex-ministro da Cultura de Cabo Verde e autor de “Manifesto a Crioulização”. Em conversa com João Pacheco, fala da experiência de quem nasceu numa aldeia de pescadores, no Tarrafal da ilha de Santiago, e das potencialidades políticas e culturais do modelo crioulo. Partindo das intervenções teóricas, literárias e musicais de Mário Lúcio que tomam a crioulidade como um ideal cultural e político, Marta Lança, em artigo que acompanha a entrevista, mostra o que está em jogo neste fenómeno.
Num tempo em que o sono e a insónia constituem uma preocupação crescente das sociedades contemporâneas, o historiador norte-americano Roger Ekirch, numa entrevista conduzida por Diogo Vaz Pinto para a secção “Metropolitano”, fala das suas investigações que puseram em causa as ideias existentes sobre o sono do passado e do presente e a transformação do tempo e do modo como se dormia e como se prosseguia a vida durante a noite.
Giorgio Griffa, considerado um dos artistas mais radicais, eloquentes e eficazes do nosso tempo, é o autor “Portfolio” da “Electra” 19. É apresentada uma série representativa dos seus trabalhos mais recentes acompanhada por um ensaio escrito pelo curador Francesco Manacorda.
Na secção “Livro de Horas” são publicados dois diários da autoria de Flora Thomson-DeVeaux e Rodrigo Nunes, que falam das semanas que antecederam o final da eleição presidencial e em que o Brasil fez voltar para si os olhos do mundo.
Ainda neste número, o artista e tradutor José Miranda Justo comenta uma frase de Rainer Maria Rilke, onde se trata da relação complexa da obra de arte com a crítica; o escritor Nikos Pratsinis escreve sobre Heráclion, a capital de Creta, a ilha do Minotauro e do Labirinto; o investigador e professor Steffen Dix aborda o lugar do vazio na arte e na filosofia; o jornalista Javier Martín Del Barrio fala sobre os Influencers; o investigador João Pedro Fróis conta a vida inquieta de uma figura muito singular de artista, Jaime Fernandes; Afonso Dias Ramos escreve sobre o último livro da filósofa Marie-José Mondzain, K como Kolónia: Kafka e a descolonização do imaginário.