Países africanos de língua portuguesa vão elaborar história da luta de libertação. Iniciativa envolve 13 historiadores
Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) iniciaram os trabalhos para elaboração da história da luta de libertação, numa iniciativa da Fundação Amílcar Cabral, financiada por Angola e com duração de três anos, foi hoje anunciado.
“Vem para dar sentido àquilo que os combatentes da liberdade da pátria fizeram (…), queremos contar, mas, ao mesmo tempo, perspetivamos, porque a história não termina connosco e não terminou com eles”, disse, na cidade da Praia o presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC), Pedro Pires, que lançou a ideia de criar uma equipa para a elaboração dessa história.
E a proposta foi aprovada por unanimidade na Conferência Extraordinária dos Chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), realizada em abril de 2021, e durante os próximos dois dias será realizada na Praia a segunda Reunião Metodológica das Comissões de Trabalho, depois da primeira em Luanda, em março passado.
Segundo o comandante, antigo Presidente de Cabo Verde e antigo combatente, os membros estão a trabalhar há mais de seis meses na organização desse trabalho, que tem uma perspetiva para durar três anos.
“Porque só temos o financiamento inicial e vamos ter necessidade, com o tempo, de angariar, de recolher mais financiamentos para poder concluir o trabalho”, perspetivou ainda Pires, informando que o início dos trabalhos é financiado pelo Presidente angolano, João Lourenço, em valores entre 500 mil dólares e um milhão de dólares (o mesmo valor em euros).
Atualmente há uma equipa constituída por 13 historiadores, e dirigida por Carlos Carvalho, com investigadores também de Angola, de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau, faltando apenas a constituição da equipa de Moçambique.
“Os trabalhos já começaram, talvez não com aquele ritmo que nós gostaríamos que tivesse, mas já começaram”, garantiu o presidente da FAC, indicando ainda que poderão ser envolvidos no projeto outros historiadores para questões específicas.
Considerando tratar-se de um “trabalho histórico de grande importância”, Pedro Pires disse que o objetivo é ainda “fixar” os aspetos mais importantes do percurso desses países como povo, como combatentes, e apresentá-los às próximas gerações.
Os promotores pretendem publicar três volumes da História sobre a Luta de Libertação Nacional dos PALOP, devendo o 1º abarcar o período que vai dos meados do séc. XIX aos meados do séc. XX. o 2.º dedicado a Luta Armada propriamente dita, nas suas vertentes clandestina, armada e diplomática e o 3.º dedicado à história da Gestão das Zonas Libertadas pelos Movimentos que conduziram a Luta pela Independência desses cinco países africanos.
A segunda reunião foi aberta pelo ministro do Estado, da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social, Fernando Elísio Freire, em representação do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que enalteceu o projeto e garantiu o apoio do Governo cabo-verdiano.
“Tento em conta a importância da elaboração desta história, tendo em conta o papel que vários cabo-verdianos tiveram, o protagonismo que tiveram nesta história, o Governo de Cabo Verde disponibiliza-se para estar ao lado da organização para elaboração dessa história, através das nossas instituições, dos nossos técnicos vocacionados para a matéria”, garantiu o ministro, indicando o Arquivo Histórico Nacional (AHN) e o Instituto do Património Cultural (IPC).
“Queremos ser parceiros efetivos, pois um país só terá futuro se conhecer bem a sua história, mas, mais do que conhecer bem a sua história, se tiver capacidade de contar bem a sua história para as gerações futuras”, salientou Fernando Elísio Freire, informando que o país vai retomar o projeto da História Geral de Cabo Verde, com o volume IV, que abarcará também parte da história colonial, dos finais do séc.XVIII até à segunda metade do séc.XX.
O governante mostrou ainda determinado em fazer para que o antigo campo de concentração do Tarrafal de Santiago seja elevado a património mundial da humanidade, salientando que é outro património comum a todos os povos de língua portuguesa, principalmente os africanos.
O projeto vai ser coordenado pela historiadora angolana Rosa Cruz e Silva, que referiu que os investigadores estão na fase de recolher informações, depoimentos, documentos, visitar arquivos, não só em Portugal, a antiga potência colonial, mas também nos países que deram acolhimento à luta de libertação, nomeadamente Guiné-Conacri, Senegal, Tanzânia, Zâmbia, Congo Democrático e Congo Brazzaville.
“É de facto uma tarefa muito grande, mas estamos comprometidos, estamos engajados e penso que a partir de agora vamos acelerar o passo para que nós possamos cumprir esta nobre missão que é de dar ao nosso público, à nossa juventude, às novas gerações, uma história que reflita, de facto, o que se passou, que reflita as nossas preocupações, as nossas tensões e a força grande que estas organizações políticas tiveram para nos dar a independência e a liberdade”, afirmou.