Primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, pede desculpa pelo papel dos Países Baixos no tráfico de escravos
O primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, pediu hoje desculpas em nome do seu governo pelo papel histórico dos Países Baixos na escravatura e no tráfico de escravos, apesar de apelos para que adiasse esta declaração.
“Hoje peço desculpa“, disse Rutte num discurso de 20 minutos que foi recebido com silêncio por uma plateia convidada no Arquivo Nacional.
O chefe de Governo avançou com o pedido de desculpas apesar de alguns grupos ativistas nos Países Baixos e nas antigas colónias o terem instado a esperar até 01 de julho do próximo ano, no 160.º aniversário da abolição da escravatura.
Alguns ativistas consideram que no próximo ano se assinala na realidade o 150.º aniversário, e não o 160.º, já que muitas pessoas escravizadas foram forçadas a continuar a trabalhar em plantações durante uma década, mesmo após a abolição.
Grupos de ativistas foram a tribunal na semana passada numa tentativa falhada de bloquear o discurso.
Rutte referiu-se ao desacordo na intervenção que fez hoje, observando que “não há um momento que seja bom para todos, não há palavras certas para todos, não há o lugar certo para todos“.
O primeiro-ministro dos Países Baixos anunciou que o governo vai criar um fundo para iniciativas que ajudem a combater o legado da escravatura no país e nas suas antigas colónias.
O governo já tinha manifestado profundo pesar pelo papel histórico da nação na escravatura, mas sem pedir desculpas formais. Agora há uma maioria no parlamento que apoia esse pedido de desculpas.
O discurso do atual primeiro-ministro foi uma resposta a um relatório publicado no ano passado por um conselho consultivo nomeado pelo governo.
As suas recomendações incluíam o pedido de desculpas do governo e o reconhecimento de que o tráfico de escravos e a escravatura do século XVII até à abolição, “que aconteceram direta ou indiretamente sob a autoridade holandesa, foram crimes contra a humanidade“.
O relatório refere que aquilo a que chamou racismo institucional nos Países Baixos “não pode ser visto separadamente dos séculos de escravatura e do colonialismo e das ideias que surgiram neste contexto“.
O governo disse que o ano que começa a 01 de julho de 2023, será um ano de memória da escravatura em que o país “vai parar para refletir sobre esta história dolorosa e sobre como esta história ainda desempenha um papel negativo na vida de muitos hoje“.
Os holandeses envolveram-se pela primeira vez no comércio transatlântico de escravos no final de 1500 e tornaram-se um grande comerciante em meados da década de 1600.
Um dos lugares onde há maior evidência é o Suriname, sua antiga colónia na América do Sul, para onde fizeram a transferência forçada de milhares de africanos.
A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais terá sido eventualmente o maior traficante transatlântico de escravos, disse Karwan Fatah-Black, especialista em história colonial holandesa e professor assistente na Universidade de Leiden.