Travis Scott na MEO Arena: gladiador musical amparado por um público apoteótico
“Isto é melhor que ir ao ginásio” e “Amanhã à mesma hora” eram algumas das frases que se ouviam à saída do concerto de Travis Scott, o primeiro de três espectáculos na MEO Arena que encerram a parte europeia da tour CIRCUS MAXIMUS do rapper norte-americano. Apoiado por uma legião incansável de fãs, este gladiador musical deu um espectáculo que primou mais pelo espalhafato visual do que pela música mas que não deixou de entreter a vasta multidão que encheu o recinto para ver o artista.
Antes de Scott subir a palco, Yung Lean aqueceu as bancadas recheadas de gente e a plateia a abarrotar. O rapper sueco pioneiro do clout rap percorreu vários temas da sua carreira, entre os quais “My Agenda”, “Kyoto” ou “Red Bottom Sky”, mostrando-se energético mas algo abatido, talvez fruto do cansaço acumulado de ter acompanhado Scott em mais de uma dezena de datas da sua tour. Despediu-se do público com “Yellowman”, e os fãs demonstraram o seu apoio a Yung Lean e o apreço pela sua música.
Depois de um interlúdio com fãs impacientes a gritarem por Scott um pouco por todo o recinto, “Circus Maximus” surgiu em letras grandes e vermelhas que iluminaram a enorme tela atrás da estrutura montada para o espectáculo. O barulho do público foi abafado por um estrondo e disparos pirotécnicos que acompanharam Travis Scott catapultado debaixo do palco e a entrar em “HYAENA” sem espinha. “THANK GOD” deixou toda a plateia aos saltos, era visível a adrenalina a propagar-se pela multidão em êxtase. O espectáculo visual de Scott foi muito forte – que o diga a gingada apresentação de “MODERN JAM” com fumo e fogo a acompanhar o rapper. Mas o público respondeu com a mesma energia, encorajados pelo frenesim visual e o ambiente ensurdecedor que Travis Scott e o seu DJ proporcionaram.
Esse apoio não passou despercebido ao rapper. Para “sdp interlude”, escolheu quatro fãs do público para serem os seus afortunados hypeman e hypewoman durante esta música. Incitava os seus ragers que formavam mosh pits e saltavam segundo a cadência das suas canções. E ficou encantado ao ouvir os fãs que cantaram a plenos pulmões o refrão final de “I KNOW”. O alinhamento incidiu sobretudo em UTOPIA, álbum lançado por Scott no ano passado. Temas como “SIRENS”, “CIRCUS MAXIMUS” ou “MY EYES” – esta última acompanhada por um terno mar de lanternas – fizeram parte do espectáculo, e outros como “GOD’S COUNTRY” ou “MELTDOWN” fizeram uma curta aparição.
Músicas incontornáveis da sua carreira como “HIGHEST IN THE ROOM” ou “BUTTERFLY EFFECT” também marcaram presença, e outras também foram interpretadas de forma mais curta como “Mamacita” ou “90210”. Mas se algumas músicas mal se ouviram, outras foram tocadas de forma abundante. “FE!N” foi um dos momentos mais esperados da noite e também um dos mais celebrados, com direito a very-light aceso no meio da plateia. O seu refrão intoxicante de falsete metálico foi tocado várias vezes, intervalado por interacções de Scott com o público, iluminando partes do recinto e puxando pelos fãs.
“goosebumps” e “TELEKINESIS” encerraram a actuação e à saída viam-se corpos suados, expressões de cansaço e alguma arfagem. É compreensível: foi mais de uma hora de estímulos visuais e auditivos incessantes encabeçada por um gladiador dos tempos modernos, pronto a entreter o público com o seu espectáculo, empunhando um microfone em vez de uma espada. Por vezes basta uma pancada certeira de um refrão como “ANTIDOTE”, ou desferir o máximo de golpes possível como “FE!N” demonstrou. Mas todos os temas servem o espectáculo, mesmo que seja em detrimento do produto musical final. Tudo está construído para galvanizar a multidão, e tendo em conta a resposta apoteótica do público, fica a sensação que Travis Scott cumpriu enquanto gladiador musical.