10 livros que andamos a ler
Numa altura em que se sucedem as notícias de encerramento de livrarias independentes um pouco por todo o país – como a Pó dos Livros, em Lisboa, e a Livraria Miguel de Carvalho, em Coimbra – importa que se reafirmem os hábitos de leitura, não só para que se mantenham as que existem, mas para que novas possam surgir. Só importa lamentar o fecho destes espaços se os visitarmos e se mantivermos em nós o hábito de ler. Assim, fiquem com dez dos livros que andamos a ler.
Confissões de um Assassino, de Joseph Roth
Sentado ao balcão de um restaurante, ponto de encontro de emigrantes e exilados russos em Paris, Golubchik, antigo agente da Okhrana, a temível polícia secreta do Czar, entrega-se finalmente ao relato sofrido da sua vida. À medida que avança, copo após copo, noite dentro, os poucos clientes presentes vêem-se embrenhados no fascinante percurso deste homem, desde a sua tentativa em reclamar o nome nobre do seu pai, ao encontro com uma personagem misteriosa que ensombrará para sempre o seu futuro, passando pela sua destrutiva história de amor com uma mulher e pelo seu ódio ao meio-irmão, o Príncipe.
Confissão de um Assassino, romance até hoje inédito em Portugal, é, ao estilo dos grandes romances russos, simultaneamente uma poderosa análise da natureza humana e do poder hipnótico do Mal, e um retrato vivido e agitado dos modos e dos acontecimentos mais marcantes de uma época, da Revolução bolchevique ao ambiente de Paris que antecede a Primeira Guerra Mundial.
A Dança do Rapaz Branco, de Paul Beatty
A Elsinore acaba de fazer chegar às livrarias A Dança do Rapaz Branco, primeiro romance de Paul Beatty, o autor premiado com o Man Booker no ano de 2016, com o romance O Vendido, também já editado pela Elsinore.
Nascido em Los Angeles, o autor traz-nos, neste seu primeiro romance, uma comédia literária caleidoscópica sobre um afroamericano incomum à procura da sua identidade numa América que, embora caricatural, é de algum modo estranhamente familiar. Gunnar Kaufman, descendente de uma longa linha de homens que detesta, desde escravos a cobardes que ajudaram a assassinar Malcolm X, viveu a sua infância protegido na tranquilidade branca de Santa Monica, longe de problemas. No entanto, depois de ele e as suas irmãs se terem recusado a ir para um campo de férias para crianças negras «porque elas são diferentes de nós», a mãe muda-se imediatamente com eles para a zona oeste de Los Angeles, de modo a que os filhos estejam em contacto com a cultura que começam a negar. E é assim que Gunnar, futuro poeta, péssimo dançarino, conquistador avesso e fenomenal jogador de basquetebol, dá por si a aprender a ser quem é entre os gangues, os motins, os estereótipos, a violência e a beleza das ruas e da vida negra nos Estados Unidos dos anos 90.
“Se um magnata do cinema comprar os direitos cinematográficos da minha vida, a sinopse dirá: Na luta pela liberdade, um jovem poeta relutante convence os negros americanos a abandonarem a esperança, e a matarem-se num final trágico e explosivo. Cheio de gargalhadas e diversão. Alguma violência e linguagem não indicadas para crianças.”
Solaris, de Stanisław Lem
Pela primeira vez em tradução directa do polaco, Solaris (1961) é uma das obras de ficção científica mais complexas e filosóficas, consagrando Stanislaw Lem (1926-2006) como autor de culto.
Publicado em Varsóvia, em pleno regime comunista, e adaptado ao cinema por Andrei Tarkovski, em 1972, e Steven Soderbergh, em 2002, é dominado por um imenso e enigmático oceano planetário, capaz de controlar as emoções e as memórias de exploradores à beira da loucura, isolados numa estação espacial.
Neste romance psicológico sobre a incomunicabilidade, a angústia face ao insondável e a incapacidade humana de lidar com o desconhecido sem causar destruição, Stanislaw Lem leva-nos a um planeta distante para revelar os eternos abismos e buracos negros da alma.
Estar em Casa, de Adília Lopes
Depois de Bandolim e Manhã, Estar em Casa é o mais recente livro de poesia de Adília Lopes, que completa esta trilogia de forte componente autobiográfica e acompanhada de fotos incluídas pela autora.
A Minha Luta 5: Alguma Coisa Tem de Chover, de Karl Ove Knausgård
Karl Ove Knausgård alcançou fama mundial quando se dispôs a narrar a sua vida, num formato híbrido entre memória e ficção, num conjunto de livros ao qual deu o nome de A Minha Luta. Com uma totalidade de seis volumes e cerca de três mil páginas, este projecto chocou o mundo, ou parte dele, pelo menos, pela forma como o norueguês não poupa ninguém aos seus retratos, com praticamente todos os seus familiares a serem englobados nessa obra, quase nenhum saindo de lá com uma imagem propriamente positiva.
No quinte volume desta saga, Alguma Coisa Tem de Chover, o mais recente traduzido para português, Karl Ove é, em Bergen, o mais jovem aluno da Academia de Escrita da cidade. Começa repleto de entusiasmo, mas os fracassos literários, amorosos e sociais vão-se sucedendo. Apesar disso, persiste, descobre talento para a crítica literária e apaixona-se. Mas, como não podia deixar de ser, em breve surge o homem atormentado e imperfeito, a caminho de uma auto-análise impiedosa. Um romance que vai directamente ao essencial da vida.
Um Quarto em Atenas, de Tatiana Faia
Um Quarto em Atenas é uma sequência de poemas quase narrativos ou quase cifrados, intensos, irónicos, descontentes. Escritos em cidades estrangeiras, observam Portugal desdenhosamente (há qualquer coisa dos ´loca infecta´ de Jorge de Sena, e também temos uma ´Madrid revisitada´ que lembra as alegrias e amarguras de Ruy Belo). O registo é instável, nervoso, passa-se da bílis dos jovens poetas à ideia de ‘civilização´ depois do Holocausto, da crise grega ao melodrama sofisticadíssimo. E, à sombra de Kafka, o amor parece-se com um desencontro entre a inteligência e a vontade. Especialista em Estudos Clássicos, Tatiana Faia transporta para os seus versos personagens, situações, deslocamentos. Fedra aparece, mas para aulas de natação; Telémaco está ´burocratizado´; e ´Sophia entre os constitucionalistas´ não é uma figuração abstracta da sageza, mas a escritora homónima, sentada na Assembleia Constituinte como se o poeta fosse o legislador não reconhecido da Humanidade”Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato
Luiz Ruffato é um dos mais brilhantes escritores da actualidades, e este seu romance de estreia — que conquistou os leitores e a crítica no Brasil, e já foi traduzido em várias línguas — é um retrato vertiginoso da cidade de São Paulo.
Acontece tudo num só dia, 9 de Maio de 2000, um dia comum no quotidiano de uma das maiores metrópoles do mundo, composto por uma polifonia urbana fragmentada em 69 episódios com registos e fôlegos próprios — há o homem que se prepara para a enésima entrevista de trabalho, a mulher que deixa dezenas de mensagens no gravador de chamadas da amante do marido, gente pobre, gente rica, gente que trabalha muito e se dilui no ritmo de uma cidade agreste e com milhões de habitantes.
Otimismo e não desespero, de Noam Chomsky
“Para Chomsky, ainda assim, o desespero não é opção. Por mais horrenda que nos pareça a actual situação global, os esforços de resistência à opressão e à exploração nunca deixaram de dar frutos, mesmo em épocas bem mais obscuras do que a nossa.” Observador atento e crítico da sociedade e da política internacional, Noam Chomsky, em exaustiva e inédita entrevista conduzida por C. J. Polychroniou, reputado analista político-económico na estação televisiva Al Jazeera, percorre e sintetiza as bases de todo o seu pensamento. O tom é de conversa informal, abarcando uma análise de todas as temáticas e questões relevantes da actualidade: da União Europeia à administração Trump, do papel da religião na política à crescente polarização das classes sociais e ao meio ambiente, apontando caminhos diferentes para a construção de um mundo mais justo.
O Negócio dos Livros: Como os Grandes Grupos Económicos Decidem o Que Lemos, de André Schiffrin
Como diz Pedro Marques: “Este Negócio dos Livros de André Schiffrin aparece apenas cinco anos depois do boom das aquisições de editoras independentes portuguesas por parte de grupos financeiros e de media, resultando no panorama que hoje caracteriza a edição e a venda de livros em Portugal. Sendo esta, na sua parte mais dramática, uma história americana da década de 1980, soará, para um leitor português atento ao fenómeno, a coisa muito próxima, chegando até na precisa altura em que se vão conhecendo alguns lamentos vindos de editores que venderam as suas “casas” a esses grandes grupos. Por via da globalização fulminante destes últimos vinte anos, esta é já também uma história portuguesa.”
O Meu Inimigo Mortal, de Willa Cather
Pelos olhos da jovem Nellie, vemos a vida de Myra, uma lenda da cidade do Sul onde ambas nasceram. Myra trocou o luxo e ostentação em que nasceu pelo amor de Oswald Henshawe, um rapaz pobre com quem fugiu.
Vinte e cinco anos mais tarde, Nellie encontra o casal a viver na elegante pobreza de um modesto apartamento, frequentado por cantores, actores e poetas — no coração da comunidade artística de Nova Iorque. Mas esta precária distinção dá lugar a uma pobreza real. Myra hospeda-se num hotel barato na Costa Oeste e o seu objectivo de vida — amar-se a si mesma — acaba por se revelar o seu pior inimigo