Livros para oferecer neste Dezembro
Qualquer altura do ano é boa para oferecer um livro. Em Dezembro, e a somar a isso, temos o Natal que faz com que as pessoas se sintam mais dispostas a oferecer coisas àqueles com quem se relacionam. O problema é que muitas vezes se metem em enormes processos de indecisão quanto ao que podem oferecer. Aqui na Comunidade Cultura e Arte decidimos ajudar quem precisa de uma ajudinha e recomendar-vos seis livros que podem ser bons presentes – para os outros, mas também para o próprio.
Manual para Mulheres de Limpeza – Lucia Berlin
Pouco conhecida durante o seu tempo de vida (ainda que mantendo um pequeno grupo de fãs) a americana Lucia Berlin chegou às bocas do mundo depois de Lydia Davis, contista americana, ter decidido publicar em 2015, postumamente à morte da autora, esta antologia – Manual para Mulheres de Limpeza – dos contos de Berlin. Num registo meio-autobiográfico, com histórias que parecem ser claramente tiradas da vida da autora quando comparadas com a sua biografia, há várias personagens a transitar de uns contos para os outros, coisas que acontecem num conto referidas noutros. É como se Berlin nos inserisse em diferentes cenas da sua vida e, há medida que vamos avançando na leitura dos contos, fôssemos conhecendo cada vez melhor esta mulher e as suas histórias estranhamente clarividentes acerca da família, do álcool, dos desgostos da vida… Sem dúvida uma das melhores contistas americanas.
The Sellout – Paul Beatty
Vencedor do Man Booker Prize deste ano, The Sellout, sátira racial no seu máximo, segue a personagem principal Me, que, vendo a sua terra natal de Dickens, um “ghetto agrário”, apagada do mapa devido à gentrificação, decide reintroduzir a segregação racial (nomeadamente em autocarros e escolas) como forma de devolver um sentimento de comunidade e propósito às pessoas de Dickens. A explorar temáticas raciais e de segregação, que nos últimos anos têm tido maior projecção face ao trabalho de grupos como o Black Lives Matter, não há nada tão tremendamente engraçado quanto esta obra.
O livro não está ainda traduzido para português e não se sabe quando será editado em Portugal, mas, apesar do enorme trabalho que o tradutor terá pela frente dada a imensa complexidade, lírica, erudita, e ao mesmo tempo tremendamente afro-americana, do texto, esperemos que este prémio catapulte The Sellout para as livrarias portuguesas. Para a editora que o fizer, um conselho: não mudem a capa, esta é bem bonita.
Em Busca do Tempo Perdido – Marcel Proust
A Relógio D’Água começou a publicar este ano vários livros, que já faziam parte do catálogo da editora, em versão livro de bolso, mais leves e mais baratas. Estão já editados nesta colecção – Clássicos para os Leitores de Hoje – os sete volumes que compõem a massiva obra-prima de Marcel Proust, em tradução de Pedro Tamen. E se tinham sido detidos antes pelo tamanho e peso desta obra, esta é uma nova oportunidade de abordar um dos clássicos mais aclamados do mundo. Conta uma versão ficcionada da vida do próprio Marcel Proust; o narrador da obra partilha, inclusive, o nome próprio com o autor – Marcel. A importância das memórias, da arte e de tantas outras coisas na vida, são aqui expostas e dissecadas enquanto o narrador se pavoneia, em longas e belíssimas frases, na cena da classe alta Parisiense do final do séc. XIX e início do séc. XX. E tudo começa quando, ao mergulhar uma madalena no chá, Marcel desencadeia todo um processo de recordação do que já passou…
Eugénio Onéguin – Aleksandr Púchkin
Púchkin, ao lado de nomes como Tólstoi, Dostoiévski e Tchékhov, é um dos maiores da literatura Russa. Não tendo até ao momento grande oportunidade de comprovar o porquê desta aclamação do poeta, dramaturgo e romancista (dada a relativa ausência de traduções para a nossa língua), é com agrado que vemos a chegada da primeira tradução feita a partir do russo de Eugénio Onéguin, provavelmente a obra mais aclamada do autor. Finalmente a oportunidade perceber porque é tão importante esta obra seminal da literatura, um romance em verso que se debruça sobre o homem supérfluo, a vida, a morte, o tédio, o amor, a convenção, entre tantos outros que acabam por ser temas transversais a todas as épocas.
A Guerra Não tem Rosto de Mulher – Svetlana Aléxievich
Ventríloqua de quem, de outra forma, provavelmente não veria a sua voz e as suas histórias sair do seu círculo interno, Svetlana Aléxievich traz-nos, neste A Guerra Não tem Rosto de Mulher, o relato das vidas das mulheres que combateram pela defesa da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. De uma violência comoventíssima, é um livro que tem ainda mais efeito quando se imaginam as péssimas condições nas quais estas vidas se passaram (a neve, o frio sem agasalhos), enquanto estamos por casa no calor da lareira natalícia.
Podes ler a nossa crítica a este livro aqui.
A Campânula de Vidro – Sylvia Plath
Principalmente conhecida como poetisa, Sylvia Plath conta, neste A Campânula de Vidro, recentemente reeditado pela Relógio D’Água, a história de Esther Greenwood, uma rapariga que vai fazer um estágio de verão a uma revista de Nova Iorque. Não se sentido integrada e entusiasmada por essa vida e, com a ajuda de uma série de percalços, incluindo rejeições a programas de escrita, Esther começa a entrar em depressão, sendo o livro a narração dessa mesma descida, cada vez mais grave, cada vez mais negra, com tentativas de suicídio povoando o mesmo. Reminiscente da experiência de vida da própria Sylvia Plath, o livro é frequentemente tido como autobiográfico. A própria Plath, um mês depois da publicação do livro, suicida-se ao colocar a sua cabeça no forno da própria casa, enquanto os seus dois filhos brincavam noutra divisão.