Miguel Mendonça: ‘O herói que mais esbocei na adolescência foi provavelmente o Super-Homem’
Licenciado pela Faculdade do Algarve, Miguel Mendonça, natural de Olhão, tornou-se recentemente e aos 33 anos no primeiro português a assinar não uma, mas duas edições consecutivas da saga ‘Detective Comics’, da DC Comics.
A saga ‘Detective Comic’ é uma das mais antigas da gigante americana (Miguel cunhou os volumes 971 e 972) e é dentro do seio da empresa a saga que nos presenteia com as aventuras de Batman, possivelmente e discutivelmente o herói mais reconhecido de todo o mundo. Para marcar este feito, estivamos à conversa com o Miguel.
Tornaste-te recentemente no primeiro artista português a desenhar o Batman para a série de bandas desenhadas ‘Detective Comics’, da DC, sendo este possivelmente o ponto mais alto da tua carreira até agora como artista. Como é que todo este percurso começou?
É difícil definir com precisão o ponto exacto onde o percurso começou, uma vez que desenho desde que me lembro e acho que não seguiria este caminho se não tivesse cultivado o gosto pelo desenho ao longo de toda a minha infância e adolescência.
Mas a escolher um ponto de viragem crucial para estar a fazer o trabalho que faço hoje, destacava talvez uma decisão minha em 2012. Nessa altura estava ainda a apostar numa carreira em design gráfico e multimédia, mas qualquer coisa em mim me compelia a tentar o caminho da banda desenhada. E assim foi, comecei a frequentar, com maior frequência, festivais da área, a angariar contactos pela internet e a desenvolver portfólio para apresentar a editoras. Nessa altura foquei-me no objetivo que estava adormecido, perseguir o sonho da banda desenhada a 100%, e isso fez toda a diferença.
Como começou o teu contacto e parceria com a DC Comics?
De todos os teus trabalhos até agora, de qual te orgulhas mais? Há algum volume em específico que te
salte à cabeça? O que o torna especial?
O primeiro número que fiz, «Wonder Woman» #47, será sempre especial por razões obvias. Depois escolheria estes primeiros «Detective Comics» que fiz (#971 e #972). Considero que correu especialmente bem e que a equipa estava em sintonia no decorrer do projecto, o que nem sempre acontece. É especial por ser uma das publicações mais conceituadas da DC Comics mas também por ter ficado especialmente contente com o resultado final. Ah, e claro, por ser o Batman!
De todos os heróis e heroínas que desenhaste, e que o público certamente reconhecerá, qual o teu favorito de interpretar? E porquê?
O herói que mais esbocei na adolescência foi provavelmente o Super-Homem, há qualquer coisa na pureza da personagem que me atrai. Tem sido mais ou menos popular ao longo dos anos, mas para mim representa o grande ícone dos super heróis, aquele que os outros aspiram ser.
Tens um estilo muito próprio que se nota em todo o teu trabalho, que com certeza tem-se vindo a alterar e melhorar ao longo dos anos. Quem foram as tuas grandes inspirações?
Como é o teu processo criativo quando te sentas para ilustrar algo? E visto que maior parte do teu trabalho deve ser à encomenda, quão grande é o teu grau de liberdade criativa?
Preferes desenhar em papel ou em suportes digitais? O que é que a banda desenhada pode ganhar com cada um deles?
Diria que é mais ou menos isso, com a diferença de que chegas ao topo da montanha e começa outra grande luta, que é, em condições meteorológicas adversas, manteres-te nesse mesmo topo, com muitos alpinistas por lá e muitos outros a chegar. Embora já o tenha sentido antes de chegar ao Batman, senti-o logo no primeiro livro, Wonder Woman, e a coisa persistiu com os restantes, Teen Titans, Green Lanterns, Trinity, Nightwing, JLA…
O que tens a dizer sobre o panorama da banda desenhada em Portugal?
Considero que estamos a passar um boa fase, os artistas influenciam-se e motivam-se uns aos outros, talento gera mais talento, e nesse departamento penso que estamos muito bem. Temos grandes artistas a despontar, alguns reconhecidos internacionalmente. Depois temos autores a publicar livros todos os anos, e pessoas dentro da área com iniciativa e vontade de gerar novos projectos. Ainda não dá propriamente para viver disso apenas com o mercado nacional mas vemos alguma coisa a acontecer. Agora só falta o grande público prestar um pouco mais de atenção aos autores nacionais.
Entretanto, Miguel prepara-se para ver nas bancas mais um trabalho de enorme escala com a sua assinatura. Miguel desenhou o mais recente volume de ‘Justice League of America’ (o volume 26) e podes ver uma amostra do seu trabalho aqui.