A cidade das Sete Colinas: a próxima paragem

por Comunidade Cultura e Arte,    27 Março, 2018
A cidade das Sete Colinas: a próxima paragem
Ilustração de Hugo Sequeira
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Quem me conhece, sabe que já escrevi sobre uma localidade de Portugal. Mais propriamente sobre o Algarve e o seu estatuto de “Capital do Verão”. Mas quem conhece as minhas origens, sabe também que eu vim de uma pequena cidade algarvia para uma Lisboa sempre em crescimento. E isto é a minha visão de uma cidade que trouxe um novo ar à minha vida.

Em primeiro lugar, vamo-nos localizar. Depois de meio mundo imigrar para o sul de Portugal, eis que cada um regressa à sua zona. Uns mais a norte e outros mais ao centro. Eu fui um dos que imigrou para o centro. Assim como tantos outros que iniciaram uma nova vida académica ou procuram mudar os ares que respiram. E aqui começa a nova epopeia que já leva um ano: Lisboa.

Decidi vir para a capital de Portugal com a ideia de continuar os meus estudos e também de fazer a minha vida, sozinho. Algo que ainda hoje é um tanto estranho, visto ter sido acarinhado pelos pais durante toda a minha vida. Nada bate a comida da “vóvó”! E foi quando cheguei a Lisboa que me senti num novo espaço. Fui atropelado por novas ondas visuais, culturais e sonoras.

Assim como muitos turistas, na minha primeira semana desenvolvi um pequeno torcicolo no pescoço por andar sempre a olhar para cima. O número de prédios curiosos e elegantes, ao longo de toda a cidade, é incrível. Hoje ainda tenho pequenas dores para me lembrar do que vi. Lisboa possui uma arquitetura própria, na zona da Baixa é algo que todos estudamos em História, mas a manutenção desses mesmos edifícios e também a modernização de outros cria uma sensação de conforto única. E foi logo aqui que senti que a minha vida em Lisboa seria totalmente diferente.

O momento mais marcante para mim foi a descoberta de inúmeros teatros, exposições e acontecimentos ao longo de toda a cidade. Fui bombardeado por cultura, de uma forma extremamente agressiva. E eu não me preocupei pois permitiu-me conhecer grandes locais, atores, músicos e ainda formas de arte. Em cada esquina lisboeta não só temos uma tasca da “Ti-Maria” como também um pequeno teatro ou bar com atuações ao vivo que fazem o deleite de quem passa por lá e fica curioso. Se o leitor for curioso como eu sabe que a melhor sensação é ir contra algo inesperadamente e ficar colado ao mesmo.

Fora dos locais de espetáculo, temos as pessoas. Aqui quero deixar um especial apreço por quem conheci desde a minha vinda. Não por serem todas muito simpáticas, isso é boa-educação e merece ser algo comum entre todos, especialmente se forem umas bestas atrás do volante. Mas quero, isso sim, deixar um reconhecimento muito grande para a variedade de pessoas. São inúmeras formas de pensar, de ver e de ser visto. Aqui não existe uma neutralidade na forma de ser ou estar. Aqui não existe o boom de turistas como no Algarve, onde durante três meses temos 1 português imigrante em cada três pessoas, aqui o movimento é constante, a cidade dá sempre algo novo. Uma cara nova, uma olhar novo, há sempre algo e uma pessoa nunca consegue acompanhar as novas ondas. Lisboa de certo modo tornou-se a capital dos estilos, bem como Paris fora a capital das artes onde inúmeros artistas se concentravam e faziam as obras que hoje fazem parte de inúmeras apresentações de PowerPoint para a escola.

Agora, caro leitor, obrigado por estar desse lado a pensar: “Então, mas qual é a importância disto?“. Pois bem eu explico num instante.

Foi aqui em Lisboa, por entre ruas que ecoam o tradicional fado lisboeta que descobri o significado de saudade. E não foi através do latim fadum. Foi sim através da distância e da memória. Ao estar em Lisboa, a cada dia que passa lembro-me do meu cantinho algarvio. Aquela pequena cidade onde nasci que sempre reclamei por nunca ter nada, por haver sempre algo em falta. Sejam espetáculos, exposições ou até mesmo acontecimentos relevantes a nível cultural. Hoje que tenho isso tudo em cada esquina, sinto saudades de não ter nada disso à disposição. Descobri que sentir saudades não é lembrar com mágoa o passado, mas sim lembrar as origens e saber que fui feliz dessa maneira tão simples, permitindo uma maior abertura a este mundo tão complexo que é Lisboa e toda a sua beleza.

Carlos do Carmo tinha razão quando cantava “Lisboa menina e moça menina/ Da luz que os meus olhos vêm tão pura”. E isso caro leitor, não é mau.

Crónica de Alexandre Venceslau Santos

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