Rubel: “Nunca imaginei apoiar o PT. Mas meu anti-petismo não é maior que meu anti-fascismo”
Eu jamais imaginei que um dia apoiaria um candidato do PT. O PT está ligado a história da minha família de forma trágica. Meu falecido pai, que trabalhou na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) a vida toda, foi verbalmente agredido pelo próprio Lula durante greves da CUT (Central Única dos Trabalhadores) contra a privatização. Minha família foi ameaçada pelo PT. Cresci ouvindo terríveis histórias deste partido que não caberiam ser compartilhadas aqui. Sou anti-petista por formação.
Apesar de tudo isso, pela primeira vez, voto no PT. Porque esse é claramente o momento mais grave da história política do Brasil desde que nasci. Esse é um voto contra um candidato que há seis dias anunciou com todas as letras que há somente dois lugares para a oposição: “o exílio ou a cadeia”; e que vai realizar “uma limpeza nunca vista no Brasil”. Que defende em seu plano de governo o “excludente de ilicitude”, que dá respaldo para policiais matarem sem precisarem responder juridicamente por seus atos. Que homenageou publicamente Coronel Ustra, torturador da ditadura militar.
Não dá para relativizar o discurso do Bolsonaro por suas falas serem antigas demais e não representarem o que ele pensa atualmente. Não dá para ser ingênuo em acreditar que nossas instituições são fortes o suficiente para conter o autoritarismo que ele tão claramente proclama. Não dá para tapar os olhos para a violência real que é incitada pelo seu discurso de ódio contra pretos e homossexuais (que ele insiste em negar, e muitas pessoas insistem em tentar reinterpretar, mas que está catalogado com clareza em dezenas de registros antigos e recentes).
Pretos e pobres podem morrer (ainda mais massivamente) na mão de policiais que têm carta branca para matar. LGBT’s podem morrer (ainda mais massivamente) na mão de pessoas intolerantes que vêem seu preconceito ser legitimado no planalto e nas urnas. E quem não é alvo dos ataques diretos desse candidato, e acredita estar sendo protegido por essa tipo política austera, tendo sua suposta segurança garantida pela truculência da polícia, e suas economias supostamente preservadas por uma gestão liberal coerente, podem ter que pagar a conta em algum momento.
As falas estão lá. Com todas as letras. O Bolsonaro não é a salvação para nada. Ele é problema.
Eu sempre fui anti-petista por formação. Mas meu anti-petismo não é maior que meu anti-fascismo. Minha crença de que parte do PT esqueceu de fazer política para ser tornar uma organização criminosa convive com a minha convicção de que o PT ainda é sim uma alternativa democrática nesse contexto. Longe de ser uma boa alternativa, mas ainda sim uma alternativa ao fascismo. Prova disso: a Dilma foi retirada do poder, o Lula está preso e foi impedido de concorrer a essas eleições.
O confronto entre Haddad e Bolsonaro não é entre dois projetos extremos, um de esquerda e outro de direita. É o confronto entre a continuação de projeto democrático que cometeu inúmeros erros e crimes, e que vem sendo punido por isso, e um projeto autoritário que se inspira e se espelha abertamente no modelo de governo ditatorial mais terrível da história da política nacional.
Se existe aí alguém aqui nesse pedaço de terra virtual que está em dúvida, ou cogita votar nulo ou branco, considere a urgência desse momento histórico. Não desperdice seu voto. Como disse Pedro Cardoso, “Eu voto no PT para no dia seguinte ser oposição ao PT”. Porque a história nos prova que é possível ser oposição ao PT. E a história nos prova que em um regime autoritário e intolerante, não há espaço para oposição.
Mas antes de virarmos, novamente, oposição ao PT, é preciso resistir à barbárie. Antes de virarmos, novamente, oposição ao PT, Haddad, 13.
Este texto é da autoria do músico e compositor brasileiro Rubel e foi aqui reproduzido com a devida autorização do mesmo.