Multiplicidade e novos desafios na reabertura do maat
Com o edifício novo encerrado desde o ano passado para ser submetido a obras de manutenção, e com o fecho forçado pela pandemia, o maat (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) reabriu hoje, 10 de Junho, em pleno dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Esta plenitude acompanha os tempos, com a necessidade crescente de ter uma maior diversidade de plataformas que vão muito além do horário das 11 às 19h, habitual dos museus, do edifício e das colecções físicas.
É neste sentido que foi criado o programa experimental e participativo maat Mode, que terá a duração de seis meses e que irá questionar o papel das instituições culturais na sociedade. É também, e conforme reforçado pela nova diretora executiva do museu, Beatrice Leanza, um exercício sobre o que podemos aprender em termos de metodologia, apresentação, co-criação e transversalidade. É este exercício e este trabalho que se pretendem promover e impulsionar com o arrojado projecto arquitectónico concebido pelo estúdio nova-iorquino SO-IL, intitulado Beeline, que cria espaços multidimensionais e transforma o museu numa arena cívica multifuncional, com espaços para debates, análises e desafios para a construção de um futuro mais inclusivo e paritário. Não se pretende criar, de forma estanque, o “museu do futuro” mas sim um protótipo de museu, com as novas exigências e desafios, recorrendo à tecnologia e aos recursos agora disponíveis, numa abordagem acessível e clara. Ao nível de espaço, e além da Beeline, o edifício projectado por Amanda Levete está agora também mais aberto, com uma área dentro do próprio museu onde a equipa de Beatrice Leanza trabalhará e com a entrada de luz natural.
A entrada para o novo edifício é marcada pela já referida Beeline, realizada em parceria com a Artworks, que ocupa a totalidade do edifício e abre uma segunda entrada, temporária, para evitar o cruzamento de pessoas, conforme indicações das autoridades de saúde. A estrutura, robusta e simultaneamente discreta, transforma o museu numa paisagem de encontros e conversas, propícia à descoberta de recantos onde se podem explorar sons e sombras. O som é uma parte preponderante nesta reabertura do maat, assinalado maioritariamente pela instalação Extinction Calls por Cláudia Martinho, que nos acompanha em toda a visita. Extinction Calls é uma colecção de gravações do chilrear de pássaros, dos seus chamamentos e cantos, com variações rítmicas e de volume. A sonoridade confunde-se com a nossa experiência e voz, possibilitando uma imersão e experiência sensorial proporcionada, e acima de tudo, impulsionada pelos muito recantos da Beeline. Extinction Calls pretende também alertar para a perda de biodiversidade, há muito debatida mas muito pouco intervencionada, e para o facto de estarmos a ouvir sons de muitos pássaros que entretanto se extinguiram, em muito devido às perturbações provocadas pela ação humana.
Para acompanhar a Beeline, o maior trabalho temporário do estúdio SO-IL até à data, podemos assistir à exposição CURRENTS – Arquitecturas Temporárias de SO-IL. Fundado em 2008, em Nova Iorque, o estúdio SO-IL apela também à reflexão da arquitetura em relação ao tempo e a duração. “Quanto tempo precisa uma coisa de existir no mundo para ser considerada arquitetura?” dá o mote para a interrogação da própria natureza da arquitetura enquanto prática cultural.
Num espaço agora aberto do edifício, temos também The Peepshow, 15 formas de expressão de pintura, fotografia, vídeo ou instalação que fazem parte da Colecção de Arte Portuguesa da Fundação EDP e onde se podem encontrar obras “embaladas e encaixotadas” de vários artistas portugueses, como Catarina Botelho, Maria Lusitano, Horácio Frutuoso ou Luísa Ferreira. A visualização das obras através de uma janela apela a uma maior interacção e disponibilidade por parte do espectador.
O espólio do museu não fica por aqui e é também apresentado sob a forma de instalações pop-up, com MEMOVOLTS, que correspondem a histórias da coleção de património energético da Fundação EDP. Aqui, podemos encontrar peças que incluem objetos de uso doméstico, pessoal, industrial, folhetos publicitários, fotografias ou catálogos da história da EDP e do país ao longo do século XX. É o legado que Beatrice Leanza quer ver exposto, pensado e, de certa forma, homenageado. Uma forma de se ver o caminho percorrido, com as muitas alterações socioculturais que o passar do tempo nos trouxe.
Para terminar, poderemos também encontrar estações áudio-integradas na Beeline, numa instalação designada de Sound Capsules e feita a partir de uma colaboração com a ETIC, com playlists comissionadas. Com curadoria de Gonçalo F. Cardoso, são apresentadas obras selecionadas do catálogo da editora discrepante, que exploram temas das Realidades Alternativas e Tradições Atípicas. Na central, podemos ainda revisitar a exposição Melancolia Programada, de Gabriel Abrantes, e Unharias Ratóricas, de Von Calhau.
O maat pode ser visitado de quarta a segunda-feira, das 11h às 19h. Ao primeiro domingo de cada mês, a entrada é gratuita. Para mais informações sobre as iniciativas no museu, além das várias disponíveis online, consultar www.maat.pt.