António Lobo Antunes igual a José Saramago: Portugal e Espanha deviam ser um só país

por Comunidade Cultura e Arte,    13 Dezembro, 2018
António Lobo Antunes igual a José Saramago: Portugal e Espanha deviam ser um só país
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António Lobo Antunes disse esta semana ao jornal espanhol La Vanguardia o mesmo que o Nobel da Literatura portuguesa José Saramago afirmou há 11 anos ao jornal português Diário de Notícias. Lobo Antunes lamentou o facto de Portugal e Espanha não serem um só país.

“A única coisa que me interessa dos prémios é o dinheiro. Quando me telefonam a dizer que ganhei um, a primeira coisa que pergunto é ‘quanto?'”, disse António Lobo Antunes ao La Vanguardia.

No entanto, Lobo Antunes foi ainda mais longe do que Saramago, na entrevista que concedeu ao La Vanguardia, dizendo: “Não consigo descobrir muitas diferenças entre a gente da península, somos a mesma coisa, temos a mesma maneira de reagir, embora se coma melhor na Catalunha do que em Portugal. É uma pena que não sejamos o mesmo país, todos os ibéricos. Filipe II de Espanha e I de Portugal tinha todo o direito de ser nosso rei, era neto do monarca legítimo.”

José Saramago durantes as filmagens de “José e Pilar” (2010), de Miguel Gonçalves Mendes

Já em 2007, estando José Saramago a viver em Lanzarote, em “exílio” político, este disse algo muito parecido em entrevista ao Diário de Notícias: “Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.” e acrescentou “Culturalmente, não, a Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto da Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis.”, “Quando olhamos para a Península Ibérica o que é que vemos? Observamos um conjunto, que não está partida em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural.”, disse o escritor que faleceu em 2010.

Na mesma entrevista ao La Vanguardia, Lobo Antunes foi ainda questionado sobre se ainda reside em Lisboa, ao que respondeu que sim, dizendo: “Lisboa está horrível agora”, “É um inferno desde que a Madonna e tantos famosos vieram viver para lá. A vida é barata, eu almoço sempre em restaurantes de bairro por seis ou sete euros. Vivo na periferia, porque sou uma espécie de emblema do país e, no centro, as pessoas querem tirar fotos comigo. Só estou tranquilo no meu bairro, onde as pessoas me conhecem e me protegem”, afirmou o escritor.

Para Saramago não seria “uma cedência” a Espanha, nem “acabar com um país”, apenas “continuaria de outra maneira”. “Repito que não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português”, disse o Nobel ao DN.

Na altura a entrevista de José Saramago causou um grande desconforto em Portugal. Agora, mais de 10 anos depois, e pelas mãos de António Lobo Antunes, um dos maiores críticos do próprio José Saramago, o tema surge novamente e causa o mesmo sentimento.

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