Entrevista. Poeta da cidade quer levar a literatura ao país

por Magda Cruz,    1 Fevereiro, 2020
Entrevista. Poeta da cidade quer levar a literatura ao país
Fotografia: Magda Cruz/ESCS FM

O Ponto Final, Parágrafo é um programa da ESCS FM, rádio da Escola Superior de Comunicação Social, feito em parceria com a Comunidade Cultura e Arte, da autoria de Magda Cruz, aluna de Jornalismo.

Para assinalar o dia mundial da leitura em voz alta, o podcast Ponto Final, Parágrafo convidou o Poeta da Cidade, Pedro Freitas, a declamar. Pedro Freitas há muito que partilha com quem pode o amor que tem pela literatura, mas ganhou notoriedade ao participar num concurso de talentos, em 2017. Faz quase um ano que tem um podcast onde declama diariamente, o Dizer. Até ao final deste ano, vai publicar o seu primeiro livro. 

No episódio bónus do podcast Ponto Final, Parágrafo, o Poeta da Cidade começa por declamar um poema escrito por ele chamado, o “Barca Nostra”. Nunca ouvido antes, o poema foi escrito para spoken word – para ser ouvido e não escrito. Em seguida, para dar a conhecer um amigo escritor, Pedro lê um conto de Luís Eusébio. A fechar, lê um texto poético de Al Berto, do livro Dispersos – que tinha trazido ao episódio 9 do podcast Ponto Final, Parágrafo (de Magda Cruz, pela ESCS FM em parceria com a Comunidade Cultura e Arte).

Pedro Freitas diz que o dia mundial da leitura em voz alta lhe diz muito. Pedro vive em Lisboa e desde adolescente que sente necessidade de fazer chegar a literatura às pessoas.

Tinha 18 anos quando mostrou ao país o talento de declamar poesia, no concurso de talentos Got Talent Portugal, em 2017. Desde aí, sob o nome Poeta da Cidade, arranjou espaço na internet para divulgar poemas: uma dose semanal de poesia no Facebook; vídeos na rubrica meDita para o Youtube; versos para o Instagram – tanto seus como de poetas já estabelecidos (ou não).

A inspiração deste poeta, que também é atleta, tanto podem ser os poetas do nosso tempo como os poetas que só vemos nos livros. Recentemente, tem misturado os textos de escritores com os de músicos e a reação das pessoas é: “Nem percebo onde termina Herberto Hélder e onde começa Sam The Kid”, conta Pedro a partir do que os seguidores lhe dizem sobre as leituras que faz.

Hoje com 21 anos, continua a relação com a Fundação Calouste Gulbenkian e até já se sentou na secretária de Gulbenkian para dar uma voz às cartas de Calouste e o neto, Mikaël Essayan. José Anjos interpretou o avô. Pedro Freitas, o neto.

Algo que ainda tenta fazer é chegar às escolas. “Tudo para mostrar aos alunos e professores que não é só aquilo que é velho que é literatura.” No ano passado foi convidado a ir a Viterbo, em Itália, à Universidade de Tuscia, para falar no departamento de linguística sobre literatura portuguesa.

O esforço de mudar a perceção das pessoas sobre a literatura, muitas vezes vista como chata, ganhou outro formato em maio de 2019. Aderindo ao podcast, a nova forma de rádio, Pedro criou o Dizer. Todos os dias, o Dizer traz uma leitura nova. De José Saramago a Jorge Luís Borges, passando por Matilde Campilho e Sophia de Mello Breyner, Pedro põe a alma nos excertos de poemas e outros textos. De vez em quando fala de um livro em específico, para ainda mais atenção trazer para a palavra. Ouve um episódio, aqui:

 

Outros projetos para o Poeta da Cidade

O nome Poeta da Cidade não engana. Pedro Freitas não só declama como também escreve. Pedro deixa a nota: “Até ao final do ano sai um livro meu.” Esta é mais uma maneira de chegar às pessoas. Pedro promete mais detalhes em breve, mas revela que será um romance, editado por “uma das maiores editoras do mundo”.

Para chegar a ainda mais pessoas, Pedro aproveita as potencialidades de todas as redes sociais. Com o ressurgir da rede Tik Tok, o jovem poeta virou-se para lá: “Como o público é muito mais jovem e o Tik Tok é muito à base de humor, o pessoal delira.” A partir dessa brincadeira, leva as letras de Quim Barreiros e Tony Carreira. Os grandes poetas estão no podcast Dizer. “É para chamar a atenção dos miúdos.”

Como se tudo isto não bastasse, Pedro voltou à escola, à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde começou a estudar Estudos Gerais, em 2016. Achou por bem parar, ainda está a colher os frutos dessa pausa e agora muda de curso. “Do curso de Ciências da Linguagem quero tirar conhecimento. Tem sido uma boa experiência e só vem corroborar a minha opinião de que entramos na faculdade muito novos. Não há necessidade de ir para o ensino superior com 17 ou 18 anos.” Agora com 21 anos, depois de ter trabalhado, Pedro encarou o novo ingresso na faculdade de outra forma: “[A adaptação] não é assim tão difícil quanto fazem parecer quando saímos do secundário. Não é necessário o pessoal estar louco, cheio de pressão e ansiedade. Mas isto acontece porquê? Porque saímos do secundário e nos dizem ‘Vais ter de escolher o teu futuro próximo agora’. Há pessoas que não se sentem bem com isso e se calhar o melhor que têm a fazer é ir trabalhar”, desabafa Pedro, com pesar. 

Este foi um curso que José Mário Branco frequentou “para conhecer a tecnicidade da palavra e não só a estética da língua portuguesa”, conta Pedro. Foram também alunos desta faculdade Fernando Pessoa (brevemente), Sophia de Mello Breyner, Ruy Belo, Adília Lopes e David Mourão-Ferreira, entre tantos outros grandes nomes da literatura portuguesa. “Tenho gostado muito. O curso de Ciências da Linguagem tem professores muito bons.” Pedro Freitas até já recebeu uma ovação da turma ao declamar o texto “O silêncio dos jardins”, de Al Berto – que declama no episódio bónus do Ponto Final, Parágrafo – na disciplina de Compreensão e Produção do Português Oral. 

Mas sem pressão, por vários meios, Pedro vai espalhando tudo aquilo que a leitura tem de bom. “A essência do que eu fazia no início já mudou. Uma pessoa tem de se ir adaptando quando uma coisa não funciona.” E aproveita para trazer à luz temas importantes. Em breve, terá um vídeo sobre ansiedade e depressão no Ensino Superior. “Isso vem do meu desejo de não fazer uma só coisa e não andar só à volta da literatura e da cultura”, diz Pedro.

À parte tudo isso, Pedro tem também mão noutros projetos, como um documentário e estudo de locução. Para se apetrechar de ferramentas, Pedro fez parte do primeiro grupo de participantes no workshop do The Voice Studio, de Eduardo Rêgo – a tão conhecida voz dos documentários da vida selvagem da BBC. Pequena nota para o segundo workshop locução de 17 a 20 de fevereiro, em Lisboa. Há mais cursos disponíveis. Atualmente, Pedro trabalha com Eduardo como videógrafo.

Este é um episódio bónus, para celebrar o Dia Mundial da Leitura em voz alta. Tens 20 episódios para pôr em dia. Se subscreveres, passas a receber uma notificação sempre que houver um novo episódio, na tua plataforma favorita.

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