Luís Vaz de Camões aos olhos do passado e do presente

por Lucas Brandão,    21 Junho, 2018
Luís Vaz de Camões aos olhos do passado e do presente
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Luís Vaz de Camões é a referência maior da literatura portuguesa. Bebeu dos clássicos gregos e romanos para a composição maior dos sonetos e da sua magnum opus, “Os Lusíadas”. Por muito que a sua vida tenha sido sofrida e atribulada, o poeta notabiliza-se por uma educação requintada, que lhe permitiu estabelecer o contacto íntimo e inspirativo com as referências da poesia de então. A sua imortalidade alcança quase o mesmo período que a distância percorrida entre Camões e vários dos seus precursores, distância essa que vangloria a sua pertença lusitana e os feitos do seu povo.

Camões no tempo e no espaço

Estima-se que o nascimento de Camões tenha ocorrido algures na primeira metade do século XVI, no ano de 1524, com a sua morte a proporcionar-se a 10 de junho de 1579 ou 1580, data em que se celebra o feriado nacional, o Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas. São mais as incertezas do que as certezas sobre os contornos da sua vida, mas consta-se que teve Lisboa como a cidade principal da sua vida, assim como a presença de Coimbra, na qual aprendeu o latim, e aquilo que se tinha vivido e escrito nos séculos anteriores ao da sua vida. Foi membro da corte, na condição de poeta lírico, embora tenha assumido uma vida incauta, que o conduziu a um autoexílio em África. Foi lá, como militar do exército português, que perdeu o seu olho direito, acabando por voltar a Portugal. No entanto, voltaria a viajar, desta feita para o Oriente, onde redigiu “Os Lusíadas”, obra que quase perdia em pleno alto mar.

A obra foi dedicada a D. Sebastião, que lhe asseguraria uma pensão pela sua anterior presença na coroa, embora morresse de forma depauperada, ainda antes do monarca se perder em Alcácer-Quibir. A sua poesia perduraria em “Rimas”, assim como algumas peças de teatro, que fomentariam um legado prestigioso, não só dentro de Portugal, mas também de fora, inspirando uma série de correntes literárias e de autores românticos.

O seu pecúlio foi redigido já no final dos tempos renascentistas que assolavam a Europa, numa transição para a Idade Moderna. No entanto, Camões foi cativado por esse revivalismo do que se fez na Antiguidade Clássica, recuperando o humanismo e o naturalismo, sem esquecer a emergência da Ciência como fonte de conhecimento, mesmo perante as doutrinas religiosas vigentes. Os Descobrimentos acabaram por solidificar uma visão do mundo cada vez mais ampla, numa abordagem cada vez mais expansionista, tanto no sentido de desvendar, mas também na intenção de transmitir os saberes dos grandes empreendedores dessa fase. O Renascimento funde o paganismo com o cristianismo, sem esquecer as próprias expressões esotéricas, mas também a fundação das novas formas de interação socioeconómica, essencialmente no comércio.

Essa recuperação do que havia sido feito e dito na Antiguidade perdia-se com a chegada do protestantismo, que radicalizou a atuação da Igreja Católica. Os artistas perdiam, assim, muita da sua liberdade criativa e imaginativa, embora procurassem formas alternativas que exprimir essa inquietação dos tempos que chegavam. Por Portugal, os efeitos da Igreja Católica faziam-se sentir, com a subserviência do poder real à materialização da voz divina. Porém, a vontade de louvar os feitos concretizados por um país de descobertas e de superações era acrescido, mesmo com o fantasma de uma possível perda de soberania a já pairar no ar, no rescaldo de uma crise de sucessão e de desaires nas suas possessões.

As bases e as formas da sua escrita

Luís de Camões redigiu poemas, peças de teatro e a própria essência heroica, a epopeia “Os Lusíadas”. Nessa amplitude lírica, entregou-se às elegias, aos vilancetes (composto por mote e glosas/voltas), às glosas (também composto por mote e glosas, mas com a repetição do mote no corpo do poema), às redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas) e, por isso, às cantigas, meios de exprimir uma poesia que fundia o trovadoresco com a cortesia, que não o impedia de ser irónico e mordaz. Entre o ser português e o apreço clássico, não se esqueceu de redigir sobre o amor e sobre as suas turbulências, cantando os seus sabores mais doces e dissabores mais amargos. Porém, não se ficou pela poesia peninsular, muito graças às vivências fora de Portugal, que o levaram a sentir um sofrimento coletivo, concertado, que o conduziram para sentir a nação como deduzível nos seus escritos.

Entre as suas inspirações, na perceção do latim e do espanhol, muniu-se um conhecimento apurado da mitologia da Antiguidade Clássica, sem esquecer a história construída por autores, como Ovídio, Horácio, Xenofonte, Virgílio, Homero (referência nas epopeias) e Ptolomeu. Também do latim, mas já posteriores, deleitou-se com o esmero lírico de Petrarca (referência nos sonetos), Ariosto, Boccaccio e Torquato Tasso. Mesmo com tantas inspirações advindas do Renascimento, as suas estiradas líricas, que se afastavam do epicurismo e da tranquilidade do espírito, em conjunto com as suas experiências de vida, encaminhavam-no para o maneirismo, que iluminava a arte que se fazia nesta chegada da Idade Moderna. Os conflitos e os embates em debates caraterizaram o percurso lírico da sua principal obra, mesmo revestidos e estilizados com várias figuras linguísticas e com a presença da mitologia.

Os percursos da escrita camoniana

Entre as já referidas glosas, redondilhas e cantigas, surgem, também, as éclogas (poemas em contexto bucólico e pastoral) e os substanciais sonetos, que demarcam o seu percurso lírico. Aqui, não se sente tão presente o cunho clássico, do qual são exemplo as elegias e as éclogas, mas sim a poesia de cavalaria e de origem provençal, para além das cantigas trovadorescas. O registo castelhano também inspira Camões, em especial as figuras de Juan Boscán e Jorge de Montemor. Este legado coloca a figura do português como um dos mais prolíferos e destacados líricos europeus, que não se limita ao registo poético, mas também ao dramático.

Assim, e tomando em conta a sua presença na corte, destacam-se as suas comédias, sendo elas “El-Rei Seleuco” (a autoria ainda é discutida), “Filodemo” e “Anfitriões”. Da primeira obra, surge uma sátira à nobreza, num auto de um só ato em que o rei procura desposar a mulher pela qual o seu filho está apaixonado, numa inspiração clara em Plutarco e Petrarca, e na dramaturgia de Gil Vicente; a segunda, composta na Índia, traz uma paixão de um criado pela filha do fidalgo para quem trabalha, numa crítica à experiência e evidência humana; já a terceira adapta “Amphitryon”, de Platão, e transporta a tradição de Gil Vicente na presença constante e norteadora do amor, capaz de mover os mortais e os imortais, na qual também consta uma personagem que só fala em castelhano, um escravo. Não obstante ver as comédias como composições de entretenimento e pouco mais, contribuiu para a renovação do género, no sentido em que trouxe algo mais à construção do enredo e ao traçado cómico das personagens.

Tanto na poesia como no drama, Camões construiu o seu legado como referência da língua portuguesa, firmando-a como um dos registos idiomáticos mais singulares e perenes da Europa. A tradição latinizada da escrita não alcançou, por isso, as intenções camonianas de fazer prevalecer o português. A erudição da sua redação permaneceu como um padrão evolutivo do idioma, com códigos escritos próprios da oralidade, e que permitiu a introdução de vários termos latins no uso corrente da língua nacional.

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

“Sonetos”.

A importância d’ “Os Lusíadas”

Por muito que o passado significasse muito para o testemunho camoniano, a necessidade de ir para além dele denotava-se nas suas intenções, disfarçadas em arcaísmos e em géneros anacrónicos para o que se fazia então. A expressão da glória, à imagem da propaganda que advinha da Igreja Católica, era um meio para apregoar os feitos de uma nação munida de uma história valorosa, desde os tempos da Lusitânia (o título da obra baseia-se nesta denominação romana). A epopeia cruza três dimensões, entre o concílio dos deuses, a recordação do passado histórico e as viagens dos navegadores; dimensões que cruzam vários planos que se podiam assumir como contraditórios, como a importância dos valores emocionais e racionais e a grandeza de quem luta e conquista.

São dez os cantos que constituem esta obra de renome, dispondo de uma introdução, de uma invocação às tágides inspiradoras do autor, e de uma dedicatória a D. Sebastião, monarca à data da redação deste percurso. Os deuses assumem-se, desde já, como observadores da viagem de Vasco da Gama, decidindo o destino da sua tripulação, onde está o autor. Numa paragem em Melinde, a história de Portugal é dissecada por Camões, que conta com a história de Pedro e Inês e a Batalha de Aljubarrota, sem esquecer, eventualmente, a própria emergência do Adamastor. O futuro glorioso de Portugal é decidido e aclamado pelos deuses e pelos que alcançam a Índia, num regresso marcado pela passagem na Ilha dos Amores, onde são agraciados pelas ninfas, que ajudam os navegantes a libertarem-se das agruras vividas. Neste retorno, Camões não se esquece, no epílogo, de refletir sobre a decadência do império nacional e dos aspetos menos positivos dos seus protagonistas.

A narração das batalhas, assim como da presença das circunstâncias naturais e das figuras que induzem ao contacto sensual, é pautada por um percurso esteticamente elevado, enlevado pela sensibilidade camoniana. A erudição da obra não se remete a esta construção escrita, mas também à sua estrutura, em que as dúvidas e as incertezas norteiam um épico naquela fase temporal, onde o amor e a ação desempenham papéis-chave na construção da realidade narrada. Ao contrário da Antiguidade Clássica, Camões traça uma análise contraposta do ser português, que não omite a responsabilidade deste na sua fragilidade, estando desorientado no usufruto dos seus triunfos.

“Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”

“Os Lusíadas”, Canto IX, estrofe 83.

O amor e a mulher em Camões

Luís de Camões surge como um grande canal de comunicação sobre as preocupações que assolaram, pelo tempo, o povo português. Nesse sentido, e contextualizado numa fase em que a expansão lusa atingia as suas maiores proporções, o autor era a voz dessa responsabilidade, a de civilizar o mundo. A sua missão poética passava por se inspirar nas glórias passadas e presentes para olhar o futuro com ainda maior grandiosidade, potenciando a arte como um veículo de imortalização do povo nacional. Emprestava, assim, a sua escrita à causa de elevar Portugal ao sublime e ao virtuoso.

A glorificação tornou-se uma divinização, não deixando de perder o seu cunho ético, que reconhecia as vicissitudes do povo, através da emblemática e reflexiva voz do Velho do Restelo, que lamentava o esquecimento do território original, e alertava para os sonhos demasiado ambiciosos. No entanto, Camões esperançava-se em relação ao futuro, no alcance de um império que já não estava nas possibilidades dos demais povos, que transpunha qualquer realidade tangível. Aos portugueses, prometia-se a sucessão dos antigos, dos tão referenciados e incorporados por Camões ao longo da sua obra, por via das suas notáveis proezas.

Para além dos portugueses, e ainda antes de se dedicar a esta obra, Camões posicionou o centro da sua gravidade literária no amor. Um amor associado à cortesia, ao galanteio, mas também à moralidade cristã, que fazia prevalecer o amor da alma, do espírito, o platónico, advindo da perceção que o neoplatonismo apresenta e que inspira vários doutores da igreja, como Santo Agostinho. Era esta a fonte primária do sentimento, no qual se articulava a ética e o ideal do belo e do eterno, mas que nunca conseguia atingir a plena concretização nos escritos camonianos. A falta da outra dimensão, que levava à distância e ao afastamento, impedia que se firmasse o amor, lamentando profundamente esta incessante impossibilidade. Isto revela a fragilidade do ser humano perante a presença do sentimento, a sua rendição perante a pureza, num sentido sempre universal. Para que o amor se concretize, Camões só deteta uma solução: a morte. É no seu caminho que observa a chegada ao Paraíso, onde os amados se podem unir e superar a condenação de sofrimento que lhes foi imputada.

O bucólico da poesia medieval surge como o cenário de fundo destas atribulações conjugais, onde pontua a delicadeza e a harmonia da herança pastoral, que retoma na simplicidade e na subtileza de Alberto Caeiro séculos depois. A carnalidade, por isso, torna-se um instrumento de representação da ligação íntima e terna que envolve os protagonistas do casal, imbuídos de uma natureza angelical e divina. A perfeição moral com a qual os sujeitos poéticos são representados sugerem essa corporização perfeita e até inacessível, que corrobora o sofrimento que leva o erotismo a esboroar-se. Por mais que as descrições se compaginem no toque mais desejado, inspirado nas deidades mitológicas, é irremediável o seu destino, traçado no final doloroso e infeliz.

Essas divindades, incorporadas na figura das ninfas, representam a iluminação do intelecto e a possibilidade da regeneração, num cenário paradisíaco, onde se unem corpo e alma. A figura feminina é, também ela, recetora de dádivas e de louvores, especialmente quando se afiguram como Maria, mãe de Jesus Cristo, representativa da perfeição. No entanto, não deixa de ser representada como inferior e submissa, capaz de abdicar da sua identidade para servir o marido, tomado como navegador forte e representativo da coragem e da bravura. A moralidade cristã surge como o maior referencial da conduta da mulher, com D. Teresa e Leonor Teles a serem as principais visadas no decorrer d’ “Os Lusíadas”.

“Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade:
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela com tristes o piedosas vozes,
Saídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava”.

“Os Lusíadas”, Canto III, estrofe 124.

As orientações temporais e espaciais na escrita camoniana

Por sua vez, muito daquilo que norteia a narrativa põe-se no que é transitório, no que é incerto. A dialética contrastante na literatura camoniana reflete-se nas meditações efetuadas amiúde sobre a condição humana e os seus fins. À imagem dos preceitos clássicos, é o destino que impera como força superior e norteadora do comportamento e do feito humano. O tempo é o antídoto para tudo aquilo que se estima como infindável, mesmo aniquilando a esperança, o sonho e a firmeza, levando consigo a guerra e a doença, num misto de surpresas que reluz à luz do próprio cosmos. A desilusão conduz a mente aos desencontros do seu pensamento e às dissociações do seu sentido, perante tamanhas dificuldades em viver, mas que endereçam as respostas para a Natureza.

Normalmente, é a religião que responde a muitas destas inquietações, e é o catolicismo que emana com uma pretensa supremacia em relação ao protestantismo e ao islamismo, sendo estes criticados pelo seu caráter de pouca confiança. Camões é, assim, um católico ortodoxo, embora inspirado pela mitologia greco-romana, que se orienta pelos postulados bíblicos. É na Bíblia e nos seus protagonistas que, na sua vida privada, o autor encontra o consolo para as adversidades que lhe sucedem na sua vida, acreditando na recompensa após a morte através da fé cultivada em vida.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

“Sonetos”.

Camões aos olhos das gerações subsequentes

Embora sendo o rosto principal da expressão cultural portuguesa, Luís de Camões é dos poetas menos conhecidos para lá do território luso. No entanto, foi saudado pelos espanhóis Lope de Vega e Miguel Cervantes, e pelos alemães Goethe e Friedrich Schlegel, autores marcantes nos séculos subsequentes. A sua influência transpirou, inicialmente, por Espanha, contagiando os próprios monarcas portugueses de nacionalidade espanhola, que usaram a sua herança para legitimar a soberania ibérica.

Foi somente após a restauração da independência, no século XVII, que se efetuou um estudo sobre a obra de Camões, estudo que conheceu repercussão em França e em Inglaterra, merecendo as atenções de Montesquieu e de Voltaire, que consideraram as novidades introduzidas nas epopeias. Com a emergência da independência brasileira, também foram muitos aqueles que se inspiraram no luso para algumas das suas obras, como o poeta Gregório de Matos, Cláudio Manuel Costa e o imigrante Tomás António Gonzaga, herdeiros do movimento arcadista. Também Carlos Drummond de Andrade, já contemporâneo, se deixou influenciar pela poesia camoniana, assim como Haroldo de Campos. A poesia anglófona, encabeçada por John Milton, Lord Byron, William Wordsworth, Emily Dickinson, Elizabeth Browning e Edgar Allan Poe, beberam da tradição camoniana, ingerindo influências que remontavam ao subtil e ao erudito, aquando do encanto pelo latim.

A tradução do trabalho de Camões, assim como das exegeses feitas da sua obra, conduziu essa internacionalização, mas não ofuscou aquilo que foi o seu estudo dentro de portas, mobilizando o arcadismo, em que se denota Bocage, mas também o romantismo, nos vultos de Almeida Garrett e de Antero de Quental. A sua biografia foi sendo adulterada com o tempo, a bem de uma glorificação da vida de Camões, embora sem corresponder à realidade. As celebrações do seu aniversário foram-se efetuando, servindo como bandeira de contrastes de ideologias políticas, em especial nos séculos XIX e XX, no qual se evidenciou como meio propagandístico da política nacionalista do Estado Novo; enquanto Fernando Pessoa fazia seguir a “Os Lusíadas” “Mensagem” (1934), uma obra da exultação do povo português, procurando fazê-lo emergir da decadência, no alcance do afamado Quinto Império. À imagem da ideologia salazarista, transmitia-se que só os portugueses conseguiam compreender a valia deste vulto e da sua obra, algo que se alterou radicalmente após a revolução de 1974, onde a figura de Camões não só se democratizou, mas se tornou na representação de todas as comunidades portuguesas.

Luís Vaz de Camões cruzou o seu destino com o português, o da sua pátria, em decadência e em perda, até se encontrarem na eternidade de uma referência que permanece elementar quando se fala de Portugal, por mais controvérsias que surjam em torno da sua vida e obra. O dia 10 de junho, data da sua morte, é uma mera indicação calendar de alguém que se tornou extensível a todos os meses, anos e séculos pela importância assumida na literatura de língua portuguesa. A sua valorização da Antiguidade Clássica fecha com chave de ouro o Renascimento artístico, que orienta o contributo mitológico e as formas de escrever na Antiguidade Clássica para algo que é, ainda assim, muito presente. Camões é omnipresente na identidade portuguesa (até num “vai chatear o Camões) e no falar português, assumindo o protagonismo heroico e poético de um caminho falado profético.

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