Lembrar o 25 de Abril é também pensar o futuro
Naquele que é o 44º aniversário da data mais importante da história portuguesa moderna, não basta celebrar as conquistas passadas. Importa pensar em frente, lembrar que, nos dias de hoje, nem todas as conquistas de Abril são dados adquiridos.
À minha geração, parece impensável imaginar um mundo onde não seria possível fazer praticamente nada do que é possível hoje em dia, um Portugal onde não havia liberdade de expressão, liberdade política, liberdade, no fundo, de decidir o nosso futuro.
Um tempo onde homens eram enviados para uma Guerra cujo único intuito era manter uma colonização criminosa, e arrastar Portugal num longo processo de revanchismo imperial, cuja narrativa se sente ainda nos dias de hoje, saudosos como somos ainda de um tempo onde fomos grandes, designando ainda por Descobrimentos esse período onde, à excepção das ilhas inabitadas da Madeira e dos Açores, Portugal só descobriu territórios onde já habitavam seres humanos.
Felizmente houve muitas outras coisas que mudaram, e são tantos os direitos que, dados como adquiridos nos dias de hoje, eram impensáveis há 44 anos. A igualdade de género, por exemplo (ainda longe, nos dias de hoje, dos parâmetros aceitáveis), era, no Portugal de 74, algo extremamente longínquo. Se, durante o Estado Novo, os homens ainda podiam votar em eleições (não obstante serem uma absoluta fraude), é bom que se mantenha presente que as mulheres nunca puderam votar em Portugal antes de 1974, e que aquilo que as sufragistas alcançaram no Reino Unido em 1918, só chegou a Portugal com a Revolução.
Portanto, quando nos dizem, em 2018, que algo é inevitável, que é fruto da condição humana, que o seu contrário seria uma utopia – mesmo que o seu contrário seja apenas querer que todos possamos viver condignamente – é importante que tenhamos presente que não, não tem que ser assim. Que, tal como há tão poucos anos atrás, tudo o que foi alcançado seria impensável ao comum cidadão português da época, podemos melhorar muito o Portugal que temos.
Só partindo da noção de que aquilo que temos hoje não é perfeito podemos caminhar nessa direcção, para que nos possamos aproximar o mais possível daquilo que, efectivamente, está ao nosso alcance. Lutemos, portanto, para que, no futuro, as coisas se tornem melhores do que são hoje. Para que, daqui a 44 anos, olhemos para 2018 e nos pareça, também, impensável viver assim.