Vinte livros que podes oferecer no Natal (e em qualquer época do ano)
Com a aproximação da época natalícia, decidimos dar destaque a algumas sugestões que, talvez, estimulem o espírito consumista num sector que tanto apreciamos: o mercado editorial. Em nome do equilíbrio, claro, sugerimos o consumo de um bom livro alternado com doces, comidas e bebidas tradicionais da época.
Se por alguma razão não festejar ou ligar ao Natal, ficam as sugestões na mesma, pois o mote natalício é apenas uma desculpa para dar a conhecer livros dos quais gostamos e que esperamos que gostem. Não esquecemos também os livros novos (e não só!), que também temos no nosso carrinho de compras digital, ou que já pedimos para reservar nas livrarias que habitualmente frequentamos.
Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher – Annie Ernaux
Annie Ernaux venceu o Nobel da Literatura 2022 e com este prémio “Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher” voltou às livrarias portuguesas, obra que estava esgotada há 20 anos.
“Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, uma filha procura preencher um vazio que é seu, traçando em simultâneo um retrato coletivo sobre uma época, um meio social, uma ligação familiar. Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez cabe à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na história”, pode ler-se na sinopse deste livro. Esta obra literária reúne dois textos de Annie Ernaux sobre estas perdas: “Um Lugar ao Sol”, sobre o pai, publicado em 1984, e “Uma Mulher”, sobre a mãe, lançado em 1988.
Diário de um Sem-Abrigo – Jorge Costa
“Diário de um Sem-Abrigo: Os dias (e noites) de Jorge Costa a viver nas ruas de Lisboa” (Oficina do Livro, 2022) é um livro com catorze crónicas, mas pode ser também um curso sociológico, uma viagem aos meandros do inferno, ou uma base para copos — tudo depende do grau de relação do leitor com os livros.
O volume apresentado foi escrito por Jorge Costa que, em 2021, a convite da jornalista Catarina Reis, começou a colaborar com o jornal A Mensagem de Lisboa, com a intenção de escrever sobre a experiência de ter sido sem-abrigo e, segundo ele, sem nunca ter deixado de o ser, ainda que depois viesse a casa, o frigorífico e a cama. O seu retrato íntimo após abandonar as ruas — “um sem-abrigo com casa”. (ler artigo completo)
Insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera
Embora a crítica ao totalitarismo comunista seja uma constante nos seus livros, Kundera não é só política, muito longe disso. É psicologia e filosofia no seu estado puro e, “A Insustentável Leveza do Ser”, não é excepção. A característica que, talvez, o leitor ache mais peculiar na sua escrita, é o facto do autor se permitir sair da linha da narrativa e escrever notas, apartes, sobre conceitos que são importantes para o livro e suas personagens. Chega a explicar, por exemplo, como as personagens lhe surgiram. Essas opções só reforçam o carácter psicológico e filosófico do que escreve. (ler artigo completo)
Um Manifesto Hacker – McKenzie Wark
“Afastando-se de uma certa linha messiânica, a resposta materialista de Wark centra-se no estádio actual, vectorial, de desenvolvimento das relações de produção, que criam as condições de possibilidade para o aparecimento de uma classe “que [hackeia] e [suprime] todas as propriedades do sujeito e do objecto”: a classe hacker”, pode ler-se numa nota inicial do livro. McKenzie Wark é professora de Cultura e Media, directora do programa de Estudos de Género da New School for Social Research em Nova Iorque. Esta é a sua primeira obra traduzida em Portugal.
Mendigos e Altivos – Albert Cossery
Esta narrativa constitui portanto uma soberba lição sobre humanidade, a falta dela e quão frágil são os interstícios entre ambos. São as sublimes contradições filosóficas e existenciais que pautam tanto esta história, como as restantes da obra de Cossery. Não glorifica fundamentalmente a miséria ou o despojamento de bens, apenas explora o orgulho, a altivez e a preguiça que marcam o quotidiano do mendigo, humanizando-o de forma eficaz, por vezes surreal e até humorística. (ler artigo completo)
Um Cão no Meio do Caminho – Isabela Figueiredo
Este novo romance de Isabela Figueiredo, a que ela deu o sugestivo e justificado título de “Um Cão no Meio do Caminho”, conta-nos as histórias de um homem e de uma mulher que sofrem, cada um à sua maneira, um dos grandes males da vida moderna — a solidão.
Neles a solidão é a resposta aos violentos acidentes com que a vida os agrediu. As sociedades modernas vivem sobre a violência. Mas há quem a recuse, como é aqui o caso de José Viriato e da sua misteriosa vizinha, Beatriz, que todos conhecem como a Matadora. O acaso junta-os, como o leitor verificará com a leitura deste livro.
Que resultado obtemos quando se juntam duas solidões? É esta a questão que este novo romance da autora do aclamado “A Gorda” (ler crítica) vem equacionar, deixando a resposta ao critério de cada leitor. Eventualmente um cão pode ajudar.
Portugal e a Crise do Século O terramoto da desigualdade – Susana Peralta
A economista e professora de Economia analisa o país e as pessoas na maior crise global do século XXI. “Habituámo-nos a associar a palavra economia a números, alguns inescrutáveis para o cidadão comum. De tal forma que nos esquecemos que há pessoas por detrás dos números. Pessoas e vidas muito diversas no seu quotidiano, no local onde trabalham e moram, no que estudam, no que leem, na forma de usufruir dos momentos de lazer. Até nos seus sonhos e no futuro que idealizam e tentam construir”, lê-se na sinopse deste livro.
Regresso a Reims – Didier Eribon
Seja qual for a orientação política, é importante não esquecer que este desequilíbrio da balança democrática não é só mau agoiro para as esquerdas, é um mau agoiro para todos. Principalmente os que reconhecem o papel de cada ideologia na construção de uma sociedade, de coexistência plena em democracia. Um dos antídotos para os extremismos políticos é a informação e a educação, não só a formal mas também a que se obtém vivendo no mundo que nos rodeia (e fora de bolhas de privilégio, de diversas ordens). Eribon define uma responsabilidade pessoal sua (nossa) de contribuir para uma evolução do pensamento político. (ler artigo completo)
Sexta-Feira É o Novo Sábado – Pedro Gomes
A semana de quatro dias não acarreta necessariamente compensação horária nos restantes quatro, nem um reajustamento salarial para, digamos, 80% do valor correntemente auferido; e se parece bom demais para ser possível, é por isso que o autor dedica o início da obra a desmontar os mais imediatos argumentos contra a medida, ora com recurso a experiências práticas passadas, ora ziguezagueando entre as teorias de grandes economistas (que enquadra devidamente).
Esta obra reúne muito material que pretende contribuir para a discussão sobre o tema, e eventualmente levar ao diálogo sobre a medida; propõe, até, algumas orientações para uma possível implementação da semana. É um livro activista, porque incita à reflexão e posterior acção, e também humanista, porque pretende ser claro, acessível, e conduzir ao progresso humano. Lemo-lo e somos capazes de entender argumentos não só sobre o tema principal — a semana laboral de quatro dias — mas também, duma perspectiva holística, fluida e plural, várias nuances do trabalho de um economista; por isso, “Sexta-Feira É o Novo Sábado” enquadra-se na preciosa categoria de obras que não são no sentido estrito académicas, mas que criam pontes de conhecimento para o grande público, no uso de prosa acessível e de fácil digestão. E é notável que tantas horas de trabalho e pesquisa se possam resumir num livro de tão boa companhia. (ler artigo completo)
Líbano, labirinto – Alexandra Lucas Coelho
O livro “Líbano Labirinto” venceu este ano a 19.ª edição do Oceanos – Prémio de Literatura em Língua Portuguesa, criado no Brasil e que anualmente distingue obras publicadas em língua portuguesa. Nesta obra escritora e jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho escreve sobre o povo do Líbano que “foi abandonado pelo pacto do Líbano, quando já não faltavam provas de que esse pacto é mortífero. E dentro do labirinto o país pressente a explosão geral. Ela está a acontecer já”, pode ler-se na sinopse da obra. “Passámos juntos a quarentena, mortos e vivos, esses romanos, esses otomanos, esses palestinianos, esses sírios, a voz de Fairuz, o sorriso de Ali, o pão, o manjericão, o pequeno-almoço em Baalbek, a neve que até hoje Caroline me envia das montanhas, onde imagino que mais abaixo os ciclâmens estejam floridos, com as suas pétalas de pássaro, a sua cintura carmim”, lê-se ainda.
Autobiografia de uma Mulher Romântica – Natália Nunes
“A história de uma jovem que contesta e rejeita todos os estereótipos a que o Estado Novo limitava as mulheres, escrita de um modo surpreendente, deslumbrante de cor, cheiro, temperatura e sabor, com um tom quase científico, despojado de preconceitos, num romance que aborda o desejo — erótico, político, pessoal — das mulheres, face a uma sociedade que o reprime”, lê-se na sinopse do livro. “O romance será também a história da sua salvação, porque as heroínas de Natália Nunes, apesar de todas as vicissitudes, encontram sempre o seu caminho e nisso se distinguem de muitas outras personagens ficcionais criadas pelas autoras do seu tempo, vítimas silenciosas da opressão que sofrem”, escreve Teresa Sousa de Almeida no prefácio desta obra.
Ferry – Djaimilia Pereira de Almeida
“No ferry, em direcção a sul, Vera e Albano. Fugiam, ainda que não o soubessem. Na margem norte do rio, estava a cidade e os fantasmas de quantos os haviam perseguido, existentes e imaginários. No nevoeiro, tudo isso era difícil de ver. A mulher encostou a cabeça ao ombro do homem e deram as mãos. Em diante, o desconhecido. E, sobre o desconhecido, um anel de neblina nascendo das águas negras”, lê-se na sinopse do livro. Djaimilia Pereira de Almeida (ler entrevista de 2018) escreveu, entre outros, “Pintado com o pé” (ler crítica), “Esse Cabelo”, “Luanda, Lisboa, Paraíso” (ler crítica) e “Três Histórias de Esquecimento”. Os seus livros estão editados em várias línguas. Recebeu o Prémio Oceanos 2019 e 2020, o Prémio Fundação Inês de Castro 2018 e o Prémio Fundação Eça de Queiroz 2019.
A Sagração da Autenticidade – Gilles Lipovetsky (ler artigo sobre o autor)
“O direito a sermos como somos tem-se afirmado, desde os anos 1970, como uma ideia de força maior, um poderoso transformador antropológico. Mudou a forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas, com o género, com a sexualidade e com a família, com o trabalho e a arte, com a política e a religião. Estamos no momento em que esse ideal atingiu o zénite da sua influência social. Nenhum setor escapa ao fetichismo do autêntico. Vivemos uma fase de conclusão histórica da cultura da autenticidade”, pode ler-se na sinopse deste novo volume do filosofo francês Gilles Lipovetsky. “Seremos capazes de enfrentar todos os desafios do nosso século ansioso? Nada é menos certo”, lê-se ainda.
Obra Poética – José Afonso
“A presente edição reflete pequenos ajustamentos de atualização da obra, introduz quatro poemas não publicados nas edições anteriores, agrega os textos de canções e outros poemas, mantendo a sua ordenação cronológica, conforme foi a vontade de José Afonso para a primeira edição”, refere Jorge Abegão no prefácio deste livro. “Curiosamente, como se a ordem cronológica dos poemas desse um sentido inverso ao destino, o seu primeiro poema, “Pela Quietude das Tuas Mãos Unidas”, é uma profunda reflexão sobre a tristeza e o mistério da morte, e o último, “Alegria da Criação” (1985), é uma reflexão sobre a vida e a alegria da criação, sobre aquele sopro inicial que temporariamente nos visita e nos faz renascer através da inquietação e do desassossego”, pode ler-se ainda no prefácio.
O Diabo – Gonçalo M. Tavares
Depois de lançar, em Julho deste ano, “A Pedra e o Desenho” (ed. Relógio D’Água), com desenhos de Julião Sarmento, o escritor lança agora “O Diabo” (ed. Bertrand Editora), terceiro livro das “Mitologias”.
É um espaço imaginário onde, entre muitos outros, se entrecruzam o diabo, a escola, os corvos e o trator, as palas com todas as suas limitações e virtualidades, o cemitério de aviões e a loucura, os direitos dos homens, o Grande-Armazém, o Povo-Armazenado, os três fios vermelhos, os Doze-Apóstolos, a canalização, os piolhos, o crânio de Olga, os nomes, Paris, os Nómadas, o Comboio e os Meninos, o Homem-que-Quando-Fala-Não-se-Entende-Nada, o crescimento de Alexandre (a linha recta)”, lê-se na sinopse de “O Diabo”.
O Tamanho do Mundo – António Lobo Antunes
“Por entre os estalos dos móveis da sua casa em Lisboa, um idoso observa o outro lado do Tejo enquanto se perde nas memórias sobre uma cave e um pequeno jardim com um baloiço”, lê-se na sinopse do consagrado autor português. “Independentemente de ter acabado por se tornar presidente de uma grande empresa, o sucesso jamais debelou a perda daquele tempo, acorrendo repetidas vezes ao local e imaginando que as pequenas coisas e as personagens (mais significativas, como a filha, ou mais casuais, como uma senhora que passa com um carrinho das compras) se mantêm intactas, tal qual um tempo impoluto”, refere ainda o mesmo texto.
Atualizar a História – Uma nova Visão sobre o Passado de Portugal – Paulo M. Dias e Roger Lee de Jesus
“Estará a História desatualizada? A resposta a esta questão é sim, se considerarmos a História como conhecimento histórico, como resultado do estudo e da investigação sobre o passado. A análise de novas fontes, perspetivas e abordagens permite redefinir o conhecimento que temos, apesar de muitos mitos e ideias da História de Portugal continuarem a ser repetidos e permanecerem no imaginário popular”, pode ler-se na sinopse deste livro. “Neste sentido, o objetivo deste livro é o de atualizar muitas destas ideias, desmontando, dentro do possível, alguns destes mitos. Tomando por base 29 temas da História de Portugal, desde Viriato até ao legado da memória do império colonial, 28 autores procuraram redefinir aquilo que sabemos sobre estes assuntos. Um livro para quem quer perceber os vários aspetos de uma História longa e complexa, e não tanto os muitos e longos debates académicos que existem sobre cada assunto”, lê-se ainda no livro da autoria de Paulo M. Dias, licenciado em História (2013) e mestre em História Moderna e dos Descobrimentos (2015) pela NOVA FCSH, e Roger Lee de Jesus, doutorado em História pela Universidade de Coimbra e investigador do Centro de História da Sociedade e da Cultura (UC) e do CHAM – Centro de Humanidades (FCSH/NOVA-UAc).
O Lixo na Minha Cabeça – Hugo van der Ding
“De Juliana Saavedra, a psicanalista que deixa os pacientes na merda, a Celeste da Encarnação, velha mas moderna, passando pel’ As Aventuras da Dra. Messalina, Duas Amigas, Dois Astronautas, Dates From Hell e muito, muito mais, sem esquecer – curiosamente – Esteves & Marina e as suas mocas de erva: eis uma seleção altamente criteriosa dos melhores e piores bonecos de um homem que não sabe desenhar, mas por acaso até se safa a mandar umas bocas”, lê-se na sinopse deste novo livro do locutor, criativo e desenhador Hugo van der Ding.
Política a 45 Graus – José Maria Pimentel
“Este livro nasce de algumas das conversas mais interessantes do premiado podcast 45 Graus e oferece-nos uma discussão invulgarmente profunda e original sobre um leque de temas que vai da política à economia, à filosofia e até ao humor”, pode ler-se na sinopse do livro do economista José Maria Pimentel.
“Partindo de uma reflexão sobre o que é e para que serve a política, a primeira parte do livro procura entender por que motivo existem visões políticas tão divergentes na sociedade. Por outras palavras, porque é que pessoas igualmente inteligentes e bem-intencionadas têm orientações políticas distintas? Através das palavras e visões políticas contrastantes de convidados como Isabel Moreira, Adolfo Mesquita Nunes, Francisco Mendes da Silva, Rui Tavares, Pedro Lomba e Daniel Oliveira, explora-se como a visão política de todos nós é determinada pelos valores que consideramos mais importantes”, explica ainda a sinopse deste livro.
Os Filhos da Madrugada 2 – Anabela Mota Ribeiro
“À semelhança da primeira série, que deu origem ao livro homónimo, fizemos este ano a auscultação do país erguido em liberdade. Todos os dias na RTP3. Começámos a 24 de março quando o tempo passou a ter outra substância: esse foi o primeiro dia em que se contaram mais dias de democracia do que os dias de ditadura. Portanto, 48 anos e um dia”, pode ler-se na sinopse deste livro. “Estes Filhos são um mosaico dos tantos portugais que temos: 18 mulheres e 18 homens, quatro afrodescendentes, uma imigrante brasileira (que, entre tantas coisas, falou da questão colonial), duas emigrantes (em Paris e no Cairo), pessoas de esquerda e de direita, várias pessoas que estudaram e viveram no estrangeiro graças a programas como o Erasmus, e para quem a viagem foi possível porque o país se abriu à Europa… Trinta e três entrevistas, 36 entrevistados. A mais velha nasceu em 1974, o mais novo em 2004”, lê-se ainda.